O Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário de Bento Gonçalves (Sitracom BG) promoveu na quarta-feira, 7 de maio, um painel com o tema “Saúde mental no ambiente de trabalho e a responsabilidade da empresa”. O encontro ocorreu no auditório do sindicato e teve como principal foco a recente alteração da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), que passou a considerar a saúde mental um fator de risco ocupacional a ser identificado, avaliado e controlado pelas empresas.

A presidente do Sitracom, Adriana Assis, explica que a iniciativa busca alertar para o crescimento dos casos de adoecimento mental entre os trabalhadores. “Estamos vendo um grande aumento de trabalhadores que estão se afastando pela doença mental. E nós, enquanto sindicato, nos preocupamos muito em função dessas doenças ocupacionais”, declara. Ela destaca que a cobrança por produtividade, as jornadas exaustivas e a pressão no ambiente de trabalho são elementos que vêm agravando os quadros de estresse, ansiedade e depressão.

Adriana Assis, presidente do Sitracom

Adriana reforça que o evento foi pensado para promover diálogo entre os diferentes atores envolvidos. “Convidamos empresas do setor imobiliário, construção civil, mármores e granitos, além de RHs, CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) e escritórios de contabilidade, que têm papel importante nesse trabalho de fiscalização e promoção da saúde dos trabalhadores”, afirma.

Segundo dados apresentados por Adriana, o sindicato conta atualmente com cerca de 700 sócios e aproximadamente 2.500 contribuintes. Ela lembra que a reforma trabalhista de 2017 trouxe uma grande perda para os sindicatos, pois a contribuição passou a ser facultativa. “O sindicato perdeu força em relação a essa luta de classe entre trabalho e empresas. Para a negociação coletiva está sendo bem mais difícil, porque os trabalhadores não se sentem representados”, lamenta. A presidente faz um apelo para que os trabalhadores voltem a se engajar com o sindicato: “Só juntos, trabalhadores e sindicato, a gente consegue avançar e conseguir melhores condições de trabalho para todos”, frisa.

O auditor fiscal do Ministério do Trabalho e Emprego, Vanius Corte, foi um dos convidados do painel. Ele explica que a mudança na NR-1 foi motivada pelo aumento nos casos de adoecimento mental. “As estatísticas mostram um volume cada vez maior. Essa alteração veio para identificar se nos locais de trabalho existem situações que estão gerando adoecimento dos trabalhadores e para que os empregadores tomem medidas para evitar isso”, declara Corte.

Vanius ressalta que as empresas terão um período de adaptação de um ano, com foco inicial em ações orientativas. “A norma entra em vigor no dia 26 de maio, mas não haverá autuações imediatas. Após esse prazo, se não houver adaptação, poderá haver multa e lavratura de autos.”

Os palestrantes Vanius Corte, com a presidente Adriana Assis, Bruna Marin e Graziela Dalpian

A psicanalista clínica e organizacional Graziela Dalpian também participou do painel e destacou que, apesar de o tema ser debatido há anos, a nova regulamentação trouxe mais atenção à questão. “Lidamos com pessoas. E ao lidar com pessoas, precisamos ter esse olhar sobre como o ser humano toma decisões, se comporta e se relaciona com o trabalho, que hoje é uma fonte de sobrevivência”, pontua.

Para Graziela, a forma como o ambiente e a gestão são estruturados influencia diretamente na saúde dos colaboradores. “Desde os conflitos internos, a forma de cobrança, o estabelecimento de metas, tudo isso precisa ser analisado. Não se trata de não ter regras, mas de como elas são implementadas”, reflete.

O evento promovido pelo Sitracom reforça a necessidade de que empresas passem a considerar os riscos psicossociais com a mesma seriedade dedicada aos riscos físicos, químicos e biológicos, conforme exige a nova NR-1. O sindicato defende que só com o engajamento conjunto de trabalhadores, empresas e instituições será possível enfrentar e reduzir os impactos das doenças mentais no ambiente de trabalho.