De acordo com a OMS, todos os anos mais pessoas morrem ao tirar suas próprias vidas do que por HIV, malária, câncer de mama, guerras e homicídios. Psicóloga explica os sintomas de depressão e recomenda tratamento para problemas psíquicos

O Setembro Amarelo, mês de prevenção ao suicídio, vai chegando ao fim, mas o compromisso da sociedade em promover a saúde mental deve permanecer. Isso porque, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), todos os anos mais pessoas morrem ao tirar suas próprias vidas do que por HIV, malária, câncer de mama, guerras e homicídios.

Ainda, segundo a OMS, na faixa etária de 15 a 29 anos, o suicídio é a quarta causa de morte, ficando depois apenas de acidentes no trânsito, tuberculose e violência. Por isso, não importa a idade ou classe social, a conscientização para a prevenção é primordial.

Conforme a psicóloga do Hospital Tacchini, Andressa Vaccaro, a depressão é uma doença e resulta de uma complexidade de fatores genéticos, biológicos, ambientais e psicológicos. “Entre os principais sintomas podemos considerar o humor deprimido (tristeza), sentimentos de angústia ou culpa, perda de interesse por atividades que antes eram realizadas com prazer, desânimo, cansaço, irritabilidade, falta de energia e da capacidade de concentração, falta de esperança, isolamento, distúrbios do sono (insônia ou sonolência excessiva) e mudanças no apetite”, explica.

Para Andressa, a depressão pode ser caracterizada como leve, moderada ou grave, levando em consideração a gravidade da doença e de seus sintomas. “Uma pessoa com depressão leve pode apresentar, por exemplo, dificuldades para continuar com o trabalho e atividades sociais, mas possivelmente não deixará por completo de realizar essas práticas. Durante um episódio grave, no entanto, é provável que não consiga realizar essas ações e até mesmo atividades domésticas e de autocuidado, como tomar banho, por exemplo, podem ficar prejudicadas. Cabe avaliar possíveis referências a ideias suicidas ou de autodestruição”, exemplifica.

Ela também destaca que os quadros clínicos podem se apresentar de diversas formas distintas, com sintomas diferentes e que demandam tratamentos cada vez mais específicos. Em alguns casos, a depressão na qual a tristeza se mostra pouco presente ou mesmo ausente em determinados períodos, existe, mas é conhecida como atípica. “Esse tende a ser um importante sintoma atribuído a doença, mas é possível ter depressão e não estar triste. Por vezes a pessoa pode sentir sonolência, agitação, mudanças constantes de humor, dores físicas, aumento do apetite, iniciar diversas atividades, mas não consegue concluir, pois não sente prazer em realizá-las, irritabilidade e dificuldades para dormir”, menciona.

Andressa ressalta que a tristeza é um sentimento que faz parte da vida e que costuma ser passageiro, ocorrendo na vivência de uma situação difícil como, por exemplo, uma experiência dolorosa. “Inclusive é considerado saudável e até importante, pois ajuda na elaboração de perdas e sofrimentos”, esclarece.

O que é anedonia?

De acordo com a psicóloga, a anedonia é quando a pessoa deixa de sentir prazer por realizar diversas atividades, que antes eram consideradas agradáveis. Ela também explica que esse é um sintoma que pode fazer parte do quadro de depressão, ou mesmo estar presente em outros transtornos. Outra possibilidade é ele estar associado a alguns fatores de risco para o desenvolvimento. “Como, por exemplo, história de abuso ou negligência, doenças que tenham um grande impacto na qualidade de vida, uso de drogas, a ocorrência de situações estressantes ou traumáticas. Ou seja, é preciso uma avaliação profissional, pois é possível que a pessoa apresente este sintoma por razões singulares e diversas, tornando-se necessário compreender o que se passa como um todo”, cita.

Como lidar com os sentimentos?

A profissional de saúde mental afirma que a pessoa com depressão vivencia sentimentos que impactam em sua condição de saúde, suas defesas, seu humor e forma de perceber a vida. A partir disso, a possibilidade é que ocorra um aumento de pensamentos que podem ser autodepreciativos, causando mais sofrimento com repercussões em inúmeras esferas da vida, principalmente relacionais. “Existe tratamento, por isso, o diagnóstico correto deve ser realizado por um profissional. Os métodos envolvem a psicoterapia, e na maioria das vezes, é aliado ao tratamento farmacológico, nas condições moderadas e graves. Estilo de vida com atividade física, boa alimentação e qualidade do sono representam recursos significativos que também podem contribuir”, finaliza.

Dados sobre suicídio, conforme a OMS

De acordo com a OMS, as taxas de suicídio variam entre países, regiões, homens e mulheres. No Brasil, 12,6% por cada 100 mil homens em comparação com 5,4% por cada 100 mil mulheres, morrem devido ao suicídio. Os percentuais entre os homens são geralmente maiores em países de alta renda (16,6% por 100 mil). Para as mulheres, as taxas de suicídio mais altas são encontradas em países de baixa-média renda (7,1% por 100 mil).

Mundialmente, o suicídio está diminuindo, com a taxa global reduzindo de 36%, diminuições variando de 17% na região do Mediterrâneo Oriental a 47% na região europeia e 49% no Pacífico Ocidental. Mas na Região das Américas, aumentou 17% no mesmo período entre 2000 e 2019.

Embora alguns países tenham colocado a prevenção do suicídio no topo de suas agendas, muitos permanecem não comprometidos. Atualmente, apenas 38 países são conhecidos por terem uma estratégia nacional de prevenção do suicídio.