Campanha informa sobre os transtornos mentais e prevenção ao suicídio. Abordar esses assuntos é fundamental para identificar precocemente os sintomas e evitar situações de risco

No Brasil, setembro é o mês de prevenção ao suicídio. Instituído no ano de 2014 pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e o Conselho Federal de Medicina (CFM), a campanha do Setembro Amarelo 2023 leva o lema “se precisar, peça ajuda!”. Voltada para a conscientização sobre transtornos mentais, a atividade busca oferecer informações sobre o assunto e maneiras de prevenção, auxílio e abordagem sobre a temática. A psicóloga Andressa Vaccaro, Coordenadora de Psicologia Hospitalar do Hospital Tacchini, pontua que o objetivo da campanha é combater o estigma em torno do tema e promover o entendimento sobre a importância em buscar ajuda nos momentos difíceis. “O suicídio é uma triste realidade que afeta muitas pessoas em todo o mundo, e a campanha visa destacar a necessidade de identificar sinais de alerta, oferecer apoio emocional e encaminhar as pessoas para o tratamento adequado, especialmente em casos relacionados a problemas de saúde mental não diagnosticados ou tratados incorretamente. Trata-se de um fenômeno complexo, que pode afetar indivíduos de diferentes origens, sexos, culturas, classes sociais e idades”, salienta.

De acordo com o Ministério da Saúde, o suicídio é uma das três principais causas de morte de indivíduos entre 15 e 29 anos. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), são registrados mais de 700 mil casos em todo o mundo, um a cada 40 segundos. Todavia, existe a possibilidade da subnotificação desses episódios, o que resultaria em cerca de 1 milhão de pessoas. No Brasil, os dados apontam que a estimativa é de 14 mil casos anuais, ou seja, uma média de 38 suicídios por dia.

Os motivos que levam uma pessoa a tirar a própria vida são diversos. “Essas enfermidades têm um impacto profundo e amplo nas vidas das pessoas e nas sociedades em que vivem. A depressão, por exemplo, não é apenas um sentimento de tristeza passageira; é uma condição de saúde mental debilitante que afeta de maneira abrangente. A nível individual, causa sofrimento emocional intenso, com sentimentos de desamparo e tristeza persistentes. A doença não se limita ao aspecto emocional, pois frequentemente se manifesta em sintomas físicos, como fadiga, alterações no sono, perda de apetite ou ganho de peso inexplicado e dores corporais”, complementa a psicóloga.

Conversar sobre o assunto não significa incentivar o suicídio, muito pelo contrário, pode ser uma maneira de trazer alívio e ajudar alguém que está em sofrimento. Diagnosticar e tratar corretamente os transtornos mentais é melhor forma de evitar e prevenir o acontecimento.

O estigma social em relação aos transtornos mentais muitas vezes impede que as pessoas busquem ajuda adequada. Barreiras como falta de acesso a serviços de saúde mental, falta de conscientização e dificuldades financeiras também dificultam o tratamento eficaz. Ademais, familiares e amigos que cuidam de pessoas com depressão frequentemente enfrentam estresse e sobrecarga emocional, afetando sua própria saúde mental.

O estudo e a discussão do tema suicídio é uma das formas mais eficientes de se promover a prevenção, pois esta só é possível quando a população, os profissionais da saúde e governantes têm informações suficientes para conduzir as medidas adequadas e ao seu alcance nessa frente. Compreender a gravidade desses transtornos é crucial para melhorar a qualidade de vida dos afetados como um todo. É importante que sejam evidenciadas em cada região as possibilidades de acesso ao cuidado de indivíduos com transtornos mentais e comportamentais, permitindo o cuidado compartilhado nos mais diversos níveis de complexidade.

Fique de olho

Os sinais de alerta nem sempre são óbvios e podem variar de pessoa para pessoa. Algumas pessoas deixam sua intenção bem clara, enquanto outras conseguem manter esses pensamentos ocultos. Se você conhece alguém que apresenta sintomas depressivos, comportamentos de risco, desesperança, ou que fala explicitamente sobre sua vontade de sumir ou tirar a própria vida, está na hora de agir.

A prevenção é uma questão complexa e multifacetada, que exige abordagens amplas para enfrentar esse desafio de saúde mental. Neste contexto, existem aspectos relevantes: educação e conscientização, apoio social e estilo de vida saudável, além de intervenções direcionadas em situações de risco específicas.
Um nutricionista, por exemplo, pode indicar uma dieta especial para esse paciente, na qual os alimentos garantirão os nutrientes ideais para aumentar as doses de serotonina de outras substâncias responsáveis pela sensação de bem-estar. O déficit de alguns nutrientes está diretamente relacionado ao estado de ânimo depressivo e à deterioração cognitiva.

A expressão artística é uma maneira de lidar com emoções e estimular a criatividade. Através da música, dança, escrita e outras formas de arte, as pessoas podem explorar suas emoções, expressar suas ideias e encontrar meios de comunicação não verbais para compartilhar suas experiências. Isso é particularmente ainda mais benéfico para aqueles que têm dificuldade em expressar suas emoções de maneira verbal.
Ter um animal de estimação também pode ser vantajoso, já que a companhia do bichinho pode amenizar a sensação de solidão e tristeza. Os animais são extremamente fiéis, independente da espécie, sempre estarão dispostos a dar amor e carinho e aceitar as condições de vida e rotina ditadas pelo tutor. As relações positivas entre humanos e animais estão ligadas, também, a alterações fisiológicas, como diminuição da pressão arterial, por exemplo.

Segundo a Médica Veterinária Renata Benini, ter um animal de estimação em casa traz o senso de responsabilidade, deixa o lar mais vivo e divertido e ajuda a aliviar a solidão. “Ter um pet pode reduzir os sintomas de depressão e ansiedade, além de melhorar as habilidades sociais e autoconfiança do tutor. Também aumenta a produção dos hormônios do bem-estar”, relata a profissional.

A prática de exercícios físicos é outra ótima alternativa para prevenir e tratar transtornos mentais, sendo importante para tratar o físico e fortalecer a mente. Durante a prática, o corpo libera hormônios importantes para a sensação de bem-estar e relaxamento, como endorfina, ocitocina e dopamina. Além disso, manter o corpo em forma e com menores percentuais de gordura tem efeitos positivos e influencia na qualidade do sono. Participar de esportes, na maioria das vezes, envolve interação social e trabalho em equipe, fortalecendo os relacionamentos interpessoais.

Por fim, mas não menos importante, o acompanhamento psiquiátrico e psicológico também é imprescindível. Avaliar o paciente minuciosamente, de acordo com suas particularidades, para determinar o tratamento adequado é essencial. O tratamento pode ser através de medicamentos, e sempre deve ser acompanhado de sessões de terapia, com diferentes abordagens. “Cabe mencionar que cada indivíduo é único, e o que funciona como uma fonte de benefícios para uma pessoa pode não ter o mesmo efeito em outra. Interesses e preferências pessoais desempenham um grande papel na escolha de participar de atividades artísticas, esportivas ou ter animais de estimação. As circunstâncias individuais, como a disponibilidade de tempo, recursos, condições de saúde e limitações podem influenciar a capacidade de uma pessoa de se envolver em ações como essas”, completa a psicóloga Andressa.

Portanto, embora essas atividades ofereçam benefícios comprovados para muitas pessoas, não é garantido que todos se beneficiem da mesma maneira. Desta forma, é importante explorar diferentes opções e abordagens para descobrir o que se adapta melhor a cada indivíduo.

Bento Gonçalves

Em Bento Gonçalves, o Setembro Amarelo foi marcado por ações sobre conscientização, murais informativos e capacitação para as equipes profissionais que atuam diretamente no assunto. Atualmente o município realiza, em média, 980 atendimentos semanais voltados a questões psicológicas, através do Serviço de Atendimento Psicossocial (CAPS). O CAPS conta com uma equipe multidisciplinar formada por profissionais capacitados para lidar com prevenção de suicídio, além de reuniões dos grupos terapêuticos.

Se você ou alguém que conhece está enfrentando problemas relacionados à saúde mental, é importante buscar auxílio profissional, pois a depressão e outros transtornos mentais são tratáveis, e o suporte adequado pode fazer uma grande diferença. Se alguém que você conhece estiver em perigo imediato ou precisar de apoio urgente, é fundamental buscar ajuda de serviço de emergência.

Busque ajuda

•CAPS AD – R. Quinze de Novembro, 132 · (54) 3055-8506
•CAPS II – R. Emílio Pozza, 590 · (54) 3055-8523
•CAPSi (atendimento infantil) – R. Carlos Dreher Filho, 261 · (54) 3055-8492
•CVV – Centro de Valorização da Vida, realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, e-mail e chat, 24 horas, todos os dias. Basta ligar no número 188 ou acessar cvv.org.br