Campanha deste ano reforça o valor da busca por ações que reduzam os índices de suicídio. Psicólogo William Turri esclarece que a prevenção é possível

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) estimam que a cada 40 segundos, uma pessoa comete suicídio no mundo. No Brasil, os casos passam de 13 mil por ano. Por isso, este mês é dedicado para a conscientização da importância do cuidado com a saúde mental. A Campanha Setembro Amarelo 2021, cujo tema é “Agir salva vidas”, reforça o quão significativa pode ser a busca por ações que revertam ou aliviem quadros emocionais.

Salientando a relevância do agir, do ir em busca de suporte, o psicólogo William Turri, de Bento Gonçalves, afirma que os transtornos mentais são detectáveis e tratáveis. Portanto, algo de errado acontece quando uma pessoa continua sofrendo por falta de atendimento especializado. “Quando pensamos em alguém com alguma doença física, rapidamente nos vem à mente a hipótese de procurar atendimento médico ou assistência para resolver o problema. Com dores emocionais, sejam elas ocasionadas por algum transtorno mental específico ou condição psicológica determinada, também precisamos buscar ajuda, e esse agir tem de ser direcionado”, pontua.

De acordo com Turri, os transtornos mentais geram grande sofrimento ao portador e às famílias, que muitas vezes, por desconhecimento, não entendem o que está acontecendo com a pessoa. Por isso, contar com o suporte de profissionais, como psicólogos e psiquiatras, pode ser determinante no processo em que a pessoa enfrenta.

É importante entender que ansiedade, tristeza e luto fazem parte da vida de todo ser humano, sendo, inclusive, sentimentos considerados saudáveis como respostas em relação a experiências enfrentadas. “Por exemplo, quando perdemos alguém que amamos, ou uma pessoa que sofre um acidente e fica paraplégica, ou que descobre uma doença e a partir disso perde a autonomia. Essas circunstâncias, naturalmente, geram sentimentos de tristeza, desamparo e desânimo, mas com o passar do tempo, ressurge a sensação de recomeço ou readaptação à nova realidade”, exemplifica.

É justamente quando isso não acontece que pode surgir a depressão. Segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria (APB), a maior parte dos suicídios, 98%, está relacionada a transtornos mentais. Em primeiro lugar, a depressão.

Entretanto, Turri alerta que, muitas vezes, a doença está associada também a outros problemas psicológicos. “Como uso de drogas, ansiedade, transtornos de personalidade, como o Borderline, pessoas que enfrentam dores crônicas, portadores de HIV, pacientes oncológicos, pessoas com doenças cardíacas e também os com mal de Alzheimer e Parkinson”, acrescenta.

Depressão tem cura?

Inúmeras pessoas acreditam que uma vez diagnosticado com depressão, o paciente enfrentará esse quadro para o resto da vida. No entanto, o psicólogo esclarece que a doença tem tratamento e pode ser curada.

Para isso, há uma série de possibilidades. Por ser uma doença complexa, exige ampla abordagem, englobando várias áreas da vida. O profissional cita o tratamento com remédios em casos de depressão grave, aliado com a psicoterapia, para que as transformações realmente aconteçam.

Além disso, indica que em algum momento é importante inserir exercícios físicos na rotina. “Não no começo, pois na maioria dos casos, os pacientes não têm energia para essa atividade, então será um segundo passo”, recomenda. Outra orientação neste processo é o cuidado com os alimentos. “É fundamental o ajuste de dieta, com uma alimentação saudável e equilibrada”, salienta.

Outro ponto citado é quanto a religiosidade. “Estudos recentes apontam que quem prática alguma religião, que tem algum hábito espiritual, apresenta melhores níveis de resposta aos tratamentos”, afirma.

Atenção aos sinais

Quem está com pensamento suicida pode emitir alertas. Por isso, atentar-se aos possíveis indícios é importante e pode fazer a diferença. “Pessoas que pensam em suicídio dão sinais, como manifestações emocionais intensas de instabilidade e ambivalência, também sobre o que pensam de si mesmas, relacionamentos instáveis e comportamentos extremos”, cita o psicólogo.

Turri defende que ninguém comete o ato sem estar passando por uma grande dor emocional. “Discordo das correntes teóricas que avaliam o suicídio como ato de coragem ou rebeldia. Um suicida é alguém em extremo sofrimento e desespero, que precisa de ajuda. Já está comprovado que 91% são ocasionados por transtornos mentais que se tivessem sido diagnosticados e tratados a tempo, muitas vidas seriam salvas”, assegura.

Além disso, o psicólogo afirma que é possível prevenir o suicídio. “A principal ferramenta é o que chamamos de escuta amorosa. Escutar o que o outro tem a dizer, sem julgamentos, sem preconceitos, inclusive religiosos. Os sentimentos tenebrosos que um suicida tem, podem ser amenizados quando encontra numa outra pessoa um lugar de carinho, atenção e acolhimento, sem ser julgado. A partir daí é necessário realizar os encaminhamentos necessários e garantir que a pessoa receba o tratamento adequado, em segurança”, finaliza.

Mito ou verdade sobre suicídio