Recompensas materiais que vão de contas pagas a estudos, viagens, carros, em troca de afeto, seja em forma de uma simples conversa ou companhia e em alguns casos, sexo. Tudo seguindo uma espécie de acordo pré-estabelecido de patrocínio. Embora não totalmente preciso e bastante simplista, esse é em suma um resumo de como funciona a “relação sugar”, uma forma de relacionamento que, envolto em polêmicas e fruto de curiosidade, conquista dia após dia mais adeptos.

Tema presente na cultura de massa, como no clássico do cinema e da literatura Bonequinha de luxo e na recente novela A dona do pedaço, o termo que ainda segue desconhecido por muitos brasileiros, já existe há quase um século. A expressão “sugar daddy” que pode ser traduzida como “pai de açúcar”, foi criada na década de 1920, nos Estados Unidos, para retratar o relacionamento entre um homem ou uma mulher mais velho e com boa situação financeira — o “daddy”, ou seja, o “papai”, ou a “mommy”, “mamãe” — com uma pessoa mais jovem e que busca incentivos materiais — ou seja um ou uma sugar baby.

Embora ainda soe como tabu no país, esse tipo de relação tem despertado a curiosidade dos brasileiros. Somente no Universo Sugar, uma das redes sociais nacionais destinadas a pessoas que buscam essa forma de relacionamento, são mais de 950 mil membros ativos.

Na Serra Gaúcha a realidade não é diferente. Segundo dados obtidos com exclusividade pelo Semanário junto ao Universo Sugar, são mais de 300 cadastros só entre as cidades de Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Farroupilha e Garibaldi. Na Capital do Vinho 72 pessoas estão ativas na rede, sendo 58 sugar babies e 14 sugar daddies. Embora não exista nenhum levantamento oficial, os números tendem a serem maiores, uma vez que os dados apresentados partem de um único site de relacionamento, sem contar os números em concorrentes e aplicativos de encontro mais populares como o Tinder e o Badoo, que também costumam ser utilizados na busca de relacionamento sugar.

Rio Grande do Sul entre os estados mais interessados em Sugar Daddy

Se o “mundo sugar” já conta com centenas de adeptos na serra gaúcha, entre os demais gaúchos o interesse pelo tema também é latente. Segundo dados apresentados pelo Universo Sugar, com base na ferramenta Google Trends, que mede o número de pesquisas realizadas no buscador, o estado só fica atrás de Pernambuco, entre os que mais buscam “o que é um sugar daddy”, e em 11º quando a busca é específica pelo termo “sugar daddy”.

Ao todo, 161 mil gaúchos possuem cadastro na rede social de encontros sugar, sendo 141 mil babies e 20 mil daddies e mommies.

Relatos de uma sugar baby

Uma das 39 sugar babies de Farroupilha é Linda Lins (nome fictício), 35 anos. Com cerca de dois anos de experiência entre sites e aplicativos de namoro, ela tem em seu currículo diferentes tipos de relacionamentos com sugar daddies, sonhos bancados por meio dos encontros, e também um par de casos frustrantes sobre o meio sugar para contar.

Prova viva de que esse tipo de relação é mais comum do que se se imagina, a história de Linda com o mundo sugar começa ao acaso e, curiosamente, antes mesmo de ela ter ciência da existência do termo e de seu significado. Conforme relata, foi ao ver um vídeo promocional na internet, o qual explicava o significado da expressão e como funcionava esse tipo de encontro, que teve conhecimento que um de seus ex-relacionamentos podia ser enquadrado como sugar. “Tive uma relação assim, embora na época eu não soubesse disso. Agora vejo que foi. Nos conhecemos por aplicativo de namoro e mesmo nos vendo pouco, já que ele era casado, mantivemos contato por um ano. Nesse tempo, ele pagou cursos e despesas. Mas a ideia de me ajudar partiu dele. eu nunca impus nada”, assinala. Mais tarde, uma amiga que participava de sites especializados lhe apresentou esse tipo de plataforma e, desde então, Linda mantém cadastro em diferentes redes sociais e aplicativos na busca por novos encontros.

Até o momento, já teve cinco relacionamentos concretizados, além de pedido para se mudar para Portugal. Segundo explica, por motivo de segurança, o primeiro encontro é sempre marcado em um bar ou ambiente público. Nesse primeiro momento, além de se conhecerem melhor, são especificados de que modo se dará a relação entre os dois. Conta que dos cinco homens com quem saiu, acordou ter relações sexuais com quatro, e com todos manteve relacionamento aberto, chegando assim a sair com mais de um sugar daddy ao mesmo tempo.

Já o retorno financeiro se dá de diferentes formas. Aponta que não cobra por encontro e nem estipula valor mensal, o que na sua visão denotaria prostituição. Ela apenas pede ajuda para objetivos pontuais. “Tinha um curso em São Paulo que quis fazer. Conversei com um daddy que topou bancar esse valor, e com outro que me pagou a hospedagem e a passagem. No total, foram R$15 mil”, exemplifica.

Segundo a sugar baby, no entanto, seja por desconhecimento ou mesmo por más intenções, a maioria das tentativas não é bem sucedida. “Alguns pensam que se trata de namoro e outros que é prostituição. E não é nada disso. Há uns, ainda, que querem marcar um encontro, mas não se dispõem nem a pagar a passagem. Querem que você vá atrás, e isso é totalmente o contrário da proposta desse tipo de relação”, explana.

Quanto ao preconceito social e a forma como o tema é encarado, destaca não se importar. “Não me preocupo com o que os outros imaginam. Hoje só penso em fazer minha vida”, assinala. Objetivo que, segundo aponta, está em andamento graças aos patrocínios recebidos. Além de cursos e do carro, está perto de comprar uma casa. Ademais, mantém um consultório comprado com ajuda de daddys. Independente, hoje 70% de sua renda vem daí e outros 30% dos relacionamentos.