Verão bombando. Quentura de fritar ovo na calçada. Um pé de vento que dera as caras de manhã, simplesmente sumiu. As poucas nuvens que dançavam no céu recolheram as saias e se mandaram. O sol, mais caliente do que nunca, fincou pé sobre nossas cabeças.

O tempo urge. O churrasqueiro esvai-se em suor enquanto prepara o fogo – o carvão é arrumado em forma circular, com respiros entre as achas e é molhado com álcool para facilitar a combustão. Já os convivas amaciam o fígado com caipirinha, arrulhando que nem pombas.

Pronto para dar início, o assador busca os holofotes. Faz pose.  Saca um fósforo. Mira. Atira… e puffff… “Opa! Que mer… é essa?”, resmunga ele. Então saca outro. E mais outro. Outro ainda. Nosso 007 bufa. Estrila. De repente, uma pequena suspeita lhe passa pela cabeça. Cheira o litro vazio. Seus olhos se espremem. Suas sobrancelhas se encostam, que nem duas taturanas em confronto.  Então fuzila: “Quem foi o filho da mãe que pôs água no litro de álcool?”. Realmente, havia sido um dos filhos da mãe a fazer a bobagem. Por que razão? Vai saber!

O infrator apresenta-se com duas garrafas de álcool para compensar. Pela metade. O assador  junta o líquido numa só, descarta a vazia e coloca a cheia ao lado do litro que ainda tem um quarto de água. Vai lavar as mãos – não quer pegar fogo também. Retorna. Apanha o litro e despeja o resto do seu conteúdo na churrasqueira. Busca os holofotes. Faz pose. Saca um fósforo. Mira. Atira e… pufff! A plateia se diverte com a distração do cara, que quase enlouquece. O filho da mãe o alerta:  “Pai, você colocou água. De noooovo. O álcool tá aqui, no ladinho”.

O tempo voa. A fome desassossega. Desta vez, o homem joga álcool de verdade no carvão já embebido em água, esperando tê-lo embebedado. Não busca mais os holofotes. Está nervoso. Não faz pose, nem se distancia o recomendado, apenas saca o fósforo, atira e… BUM! As “taturanas” se chamuscam assim como os primeiros fios brancos no alto da cabeça. O clima fica pra lá de quente. Enquanto isso a caipirinha passa de boca em boca, num compartilhamento de saliva e alegria.

Uma hora depois, o churrasco está na mesa. O churrasqueiro saca a faca e retalha a carne com fúria. Agora se sente vingado.