Nem “angústia cívica”, nem “angústia existencial”. Para “fugir dos escândalos e troca de insultos” atuais, proponho que entremos no universo do riso, ao invés de nos embrenharmos no universo do “inimaginável” (crônica de L.F.Veríssimo do dia 30/03). Filosofar é bom, mas uma folga para a cuca é saudável.

Motivos para o alto astral? Já que vivemos num enorme circo, aproveitemos para achar graça, inclusive de nós mesmos, afinal rir é ainda o melhor remédio. Podemos curtir, por exemplo, os deslizes de linguagem ou de semântica, cometidos aqui e ali, já que nosso idioma, com seus homônimos, parônimos, homófonos e similares, presta-se a isso.

Vamos começar com a Isabela, uma menina que, apesar da pouca idade (cinco anos), tem muita sabedoria. Sempre atenta ao que se passa, faz uma leitura do mundo com clareza. Ela sempre surpreende. Dia desses, o pai quase teve um ataque, com a observação de sua filhota:
-Seria bom ter dois amantes…
Percebendo o ar apalermado ao seu redor, ela justificou:
-Várias mulheres têm!
A mãe saiu de fininho, deixando a batata quente para o pai, que tentou puxar, lá do fundo do baú, teorias psicanalíticas… Media as palavras quando teve um insight:
-Filhinha, o que é “amante”?
A que a menina prontamente respondeu:
-Aquelas pedrinhas que brilham.

Ufa! “Diamantes”! Alívio imediato… por hora. Vá que ela começasse a bater o pé querendo ganhar de presente de Páscoa “dois amantes” no lugar de alguns ovinhos de chocolate!
Saindo do universo infantil, aterrisso no mundo dos adultos, com uma história igualmente real e tão ingênua quanto:

Uma simpática senhora, antenada que nem a menina acima, contou que seu marido andava “embatumado”, por isso o internou num quarto “semi-primitivo” do Tacchini. Depois, aproveitando a ausência dele e da cachorrinha, que estava na veterinária para ser “cadastrada”, ela mandou “imunizar” a casa. Embora recém reformada, com “porcelato” no chão, as baratas tinham se bandeado pra lá. Mas ocorreu que o cheiro forte a fez espirrar adoidado, de modo que ela também teve que ir ao médico.
-Sou “antialérgica” a produtos químicos –
confidenciou.

Mas nada disso era motivo para se deixar abater. Tagarela como de costume, ela informou que a vizinha tinha ido a Caxias para fazer o “suporte”, pois em breve viajaria ao exterior.
-“Passaporte” – corrigiu a amiga sorrindo.

Ela sacudiu os ombros. Não estava nem aí pra aquelas bobagens. E sem perder o bom-humor, aceitou, com entusiasmo, o café que lhe ofereceram:
-O cheiro está “insuportável”! Não “registro”.

E quem é que resiste? Tamanha espontaneidade lingüística põe as pérolas de alguns jogadores de futebol no chinelo… se bem que é difícil a comparação, pois , como disse o deputado Jardel, em tempos idos, “com o jogo a mil, a naftalina sobe”.