A menopausa, um marco biológico na vida de toda mulher, sinaliza o fim da sua fase reprodutiva. Longe de ser um evento repentino, a menopausa é um processo gradual, muitas vezes antecedido por um período de transição conhecido como climatério ou perimenopausa. É nessa fase que os ovários, gradativamente, diminuem a produção dos hormônios femininos estrogênio e progesterona, culminando na cessação definitiva da menstruação.

Conforme explica a Dra. Aline Valduga, ginecologista e mastologista do Hospital Tacchini, os principais sintomas relatados pelas pacientes incluem os “fogachos”, também conhecidos como calorões,  e a sudorese noturna, chamados de sintomas vasomotores. “Outros sintomas como a secura vaginal, diminuição da qualidade do sono, irritabilidade e dificuldade de concentração também podem ocorrer e costumam diminuir a qualidade de vida das mulheres”, acrescenta Aline.

As primeiras observações sobre o fim da menstruação datam de tempos remotos, embora a compreensão científica do fenômeno tenha evoluído significativamente ao longo dos séculos. Na Antiguidade e na Idade Média, a menopausa era vista principalmente sob a ótica da idade em que ocorria a última menstruação. As referências eram esparsas e não havia uma distinção clara entre o processo natural e possíveis condições médicas associadas. A ideia de que a menopausa poderia trazer consigo uma série de sintomas começou a ganhar corpo mais tarde.

No século XVIII, surgiram os primeiros estudos que tentavam associar o término da menstruação a certos transtornos de saúde. No entanto, ainda não se falava em “menopausa” como uma síndrome específica. Foi somente no início do século XIX, mais precisamente em 1812, que o médico francês Gardanne cunhou o termo “Ménéspausie”, reconhecendo o conjunto de sintomas que acompanhavam o fim da vida reprodutiva feminina. Contudo, a figura considerada o “pai da menopausa” é o médico britânico Edward Tilt, que dedicou quase 50 anos de sua vida, entre 1857 e 1900, a pesquisar e aprofundar o conhecimento sobre essa fase da vida da mulher. Suas investigações foram cruciais para estabelecer a menopausa como um campo de estudo médico.

Ao longo do século XX, com o avanço da endocrinologia, a compreensão hormonal da menopausa se consolidou. A descoberta dos hormônios sexuais e a possibilidade de sua manipulação terapêutica abriram novas perspectivas para o tratamento dos sintomas. A terapia de reposição hormonal surgiu como uma opção para aliviar os fogachos, a secura vaginal e outros desconfortos associados à queda dos níveis hormonais. Inicialmente vista como uma solução universal, a terapia hormonal passou por diversas revisões e debates ao longo das décadas, com estudos apontando tanto para seus benefícios quanto para seus riscos potenciais, como o aumento da incidência de certas doenças.

Hoje, a abordagem da menopausa é muito mais abrangente e individualizada. Reconhece-se que cada mulher vivencia essa transição de maneira única, com uma variedade de sintomas que podem incluir ondas de calor, alterações no sono, mudanças de humor, secura vaginal, diminuição da libido e alterações na saúde óssea e cardiovascular. A medicina moderna enfatiza a importância de um acompanhamento médico individualizado, que considere o histórico de saúde, o estilo de vida e as preferências de cada mulher para definir a melhor estratégia de manejo dos sintomas. Isso pode envolver desde mudanças no estilo de vida, como a prática de exercícios físicos e uma alimentação saudável, até terapias hormonais ou não hormonais, dependendo das necessidades e riscos de cada caso.

Aline destaca ainda que o início da menopausa tem relação com a idade materna e de familiares e que os sintomas mais intensos podem se manifestar esta ocorre com idade mais precoce. “Pacientes com sobrepeso ou obesidade, tabagistas e sedentárias tendem a ter sintomas de maior intensidade. Além disso, o estresse também pode contribuir com a piora dos sintomas”, alerta.

Além dos aspectos físicos, a menopausa também pode ter implicações emocionais e psicológicas. A percepção da mudança corporal, o fim da fertilidade e as transformações na identidade feminina podem gerar sentimentos diversos. É fundamental que as mulheres se sintam acolhidas e tenham acesso a informações precisas e a um suporte adequado para lidar com essas questões.

Para lidar com os sintomas, a ginecologista indica a prática de atividades físicas, a manutenção do peso e uma dieta saudável e equilibrada. “Deve ser evitado a cafeína, bebidas alcoólicas, alimentos picantes, além de açúcares e gorduras, que contribuem fortemente para sintomas de menor intensidade”, enfatiza.

Terapia de reposição hormonal na menopausa

A terapia de reposição hormonal (TH) representa uma das abordagens terapêuticas mais discutidas e utilizadas para o manejo dos sintomas da menopausa. A decisão de iniciar ou não a TH envolve uma avaliação cuidadosa dos benefícios e riscos individuais, considerando o histórico de saúde da mulher, a intensidade dos seus sintomas e as suas preferências pessoais. A história da TH é marcada por avanços científicos, controvérsias e uma constante evolução nas suas formulações e indicações.

O conceito de repor os hormônios que diminuem durante a menopausa surgiu com a identificação do papel crucial do estrogênio e da progesterona no corpo feminino. As primeiras tentativas de terapia hormonal datam do início do século XX, utilizando extratos animais. No entanto, foi com a síntese de hormônios sintéticos nas décadas seguintes que a TH começou a se popularizar. Inicialmente, acreditava-se que a reposição hormonal não apenas aliviava os sintomas da menopausa, como os fogachos e a secura vaginal, mas também oferecia proteção contra doenças cardiovasculares e osteoporose.

Durante as décadas de 1960 e 1970, a TH tornou-se amplamente prescrita, sendo vista como uma forma de mitigar os efeitos do envelhecimento feminino e melhorar a qualidade de vida. No entanto, essa visão começou a mudar com a publicação de estudos de grande porte, como o Women’s Health Initiative no início dos anos 2000. Esses estudos levantaram preocupações significativas sobre os riscos associados ao uso a longo prazo da TH combinada (estrogênio e progestagênio), incluindo um aumento do risco de doenças cardiovasculares, acidente vascular cerebral (AVC) e alguns tipos de câncer de mama.

A divulgação dos resultados do WHI gerou um impacto significativo na prática clínica e na percepção pública da TH. Houve uma redução drástica na prescrição hormonal e um aumento na busca por alternativas não hormonais para o manejo dos sintomas da menopausa. No entanto, uma análise mais aprofundada dos dados do WHI e de outros estudos subsequentes permitiu refinar a compreensão dos riscos e benefícios da TH.

Atualmente, o consenso médico aponta para uma abordagem mais individualizada da TH. A decisão de utilizar a terapia hormonal deve ser tomada em conjunto pela mulher e seu médico, levando em consideração diversos fatores. A idade da mulher no início da menopausa, o tempo decorrido desde a última menstruação, a presença de fatores de risco para certas doenças e a intensidade dos sintomas são elementos cruciais nessa avaliação.

Aline explica que a terapia hormonal é o tratamento de escolha para sintomas vasomotores e que até o momento nenhum outro tratamento farmacológico ou alternativo foi mais efetivo. “Além disso a terapia hormonal previne a perda óssea e reduz o risco de fraturas na pós-menopausa. A reposição hormonal também está relacionada com diminuição da doença coronariana, doença de Alzheimer e de diabetes, melhora de sintomas depressivos, melhora do sono e melhora da saúde das articulações”, ressalta. 

No entanto, a médica ressalta que a terapia hormonal não é isenta de riscos e efeitos colaterais, e a decisão de utilizá-la deve ser individualizada. “Como sempre digo,  a terapia hormonal não é uma pílula mágica, e, portanto, nem toda paciente que tem indicação poderá realizar terapia hormonal.A TH via oral por exemplo, pode aumentar o risco de trombose; logo não é uma boa escolha para pacientes tabagistas e obesas, as quais já possuem maior risco de trombose. A via oral também pode aumentar os triglicerídeos”, afirma.

 Em relação ao câncer de mama, uma preocupação comum, Aline explica que os indices são baixos. “Uma grande preocupação das mulheres é em relação ao risco de câncer de mama, porém esse risco é muito pequeno, cerca de 1 caso a cada 1.000 mulheres usuárias de TH por ano. Lembrando que alguns estudos evidenciam redução do risco de câncer de mama em pacientes que usam somente estrogênio (pacientes que não possuem útero)”, ressalta a médica.

Sobre o momento ideal para iniciar e encerrar a RH, Aline explica que o ideal é iniciar o tratamento quanto antes, com um prazo máximo de 10 anos para o começo do tratamento. “Atualmente o momento de encerrar a reposição hormonal é individualizado considerando benefícios e riscos da manutenção do tratamento, não existindo mais uma idade limite”, afirma.

Ao abordar as novidades no tratamento da menopausa, Aline menciona o avanço na forma de administração com o estrogênio em spray e formulações em gel e adesivos. Entretanto ela faz um alerta sobre outras medicações disponíveis. “É importante ressaltar que não há recomendação para uso de implantes hormonais na atualidade, essa prática é condenada pelas sociedades de Ginecologia, Endocrinologia entre outras no Brasil, e não possui regulação pela Anvisa ou bula. Também não existem até o momento estudos que demonstrem segurança e eficácia para sua utilização”, alerta.

Em relação a alternativas não hormonais com eficácia similar à reposição hormonal, Aline informa sobre novas opções ainda não disponíveis no Brasil. “Existem novas medicações, como o fezolinetant e o elinzanetant, ambas são não hormonais e poderiam ser utilizadas por pacientes com contraindicação ao uso de hormônios, que possuem ótimos resultados na redução dos sintomas vasomotores, porém ambas ainda não estão disponíveis no país”, informa.

Para finalizar, Aline, demonstra otimismo em relação ao futuro dos tratamentos para a menopausa. “A menopausa tem sido cada vez mais estudada, já que a maioria das pacientes passará pelo menos 1/3 da sua vida nela. Novas vias de uso, como o spray, tem surgido para aumentar nosso arsenal de opções, assim como novas medicações não hormonais que possam contemplar todas as mulheres”, finaliza.