A referência ao famoso produtor Pedro Almodóvar já conta um ponto. O humor inteligente do diretor Damián Szifron emplaca outro. Por ser argentino… “Calmaí!”. Não se trata de futebol, apesar de o título “Relatos Selvagens” sugerir eventos que acontecem nos estádios. Assim, rivalidades à parte, temos que admitir que o filme dá de dez a zero em relação aos nossos.

Quando me contaram o primeiro dos seis episódios compilados no filme (ainda não assisti a nenhum deles, mas os narradores foram tão convincentes que vislumbrei as cenas, imaginei os detalhes, ouvi os diálogos, captei as reações…), disse para mim mesma: “Preciso escrever sobre isso, começando por xeretar no campo da Psicologia.
Então, vamos lá com uma nova teoria inspirada pelo tripé freudiano do ID, EGO e SUPEREGO.

Nós, do bem, guardamos, lá no fundo do baú, uma reserva de mal, tipo o volume morto do açude de Cantareira, para ser usada em última instância. Com certeza, nossa cota é bem menor da que se avoluma na barragem dos malvadinhos, até porque esta fica sendo continuamente abastecida pela nascente e pelos afluentes, gerando bilhões de litros de perversidade sem parar… Ou, talvez, a diferença entre os dois lados resida no fato de que nós, os bonzinhos, ainda não chegamos a uma situação limítrofe, porque não fomos provocados ou porque temos o Universo conspirando a nosso favor. Mas – vai saber! – pode chegar o dia em que a linha tênue que nos coloca na banda de cá, se rompa, e sejamos jogados para a banda de lá. Aí, a água represada explode com fúria, com consequências imponderáveis, deixando a todos perplexos: “Como é que um cara tão gente boa, etc, etc… pode cometer tal ato de violência?”

Pois é o que acontece em Relatos Selvagens. São pessoas aparentemente normais que nem eu e você, que vivem situações de grande estresse do qual resultam comportamentos inimagináveis.

Inicia com o episódio cujo título é o nome do personagem principal, “Pasternak”. A história é de fácil identificação – quem é que nunca sofreu bullying, ou nunca recebeu uma crítica, uma nota baixa, quem é que nunca foi rejeitado, humilhado, explorado…? Representa, portanto, qualquer pessoa que chega ao seu limite e que, de repente, deixa vazar rancor, ódio, raiva, dor, inveja… através de ações que beiram à insanidade. É a violência em resposta à violência. Lembra “Um Dia de Fúria”, mas com uma pitada de sofisticação e comicidade.

O episódio “Pasternak”, que tem a duração de 10 minutos apenas, acontece em pleno voo, quando duas pessoas conversam de uma forma banal e… Estou com uma baita coceira na língua, mas não posso contar o filme, ou serei crucificada. Para os mais curiosos, posso adiantar que, se fosse uma pintura, seria um Salvador Dali… daqui, de lá, de cá, de acolá…