Presidente da Câmara de Vereadores de Bento Gonçalves fala a respeito da sua atuação no Legislativo, de suas tomadas de decisões, de sua visão comunitária e do clima de tranquilidade e respeito na Casa Legislativa

Natural de Cruz Alta, Rafael Pasqualotto se considera bento-gonçalvense de coração. Possui curso superior completo em Administração de Empresas e Teologia Protestante, com pós-graduação em marketing digital e teologia. Na estrutura familiar, é casado com Tânia Zimmermann Pasqualotto e pai de dois filhos, Alef, 17 anos, e Alice, de 5.

Legislativo

Conseguimos, desde os últimos anos, pacificar a Câmara e quando digo isso, não é colocar uma mordaça na boca dos nossos colegas vereadores, até porque estamos falando de 17 lideranças. Temos que entender que, muitas vezes, um ou outro cidadão não concorda com o trabalho deste ou daquele parlamentar, mas ele está lá de uma forma legítima. Não tem a obrigação de atender a todos, claro que se olharmos em um viés da sua função, sim, ele tem uma responsabilidade com toda a comunidade, mas se compreendermos que um legislativo é fatiado, ou seja, segmentado por interesses daqueles que o colocaram lá, temos que entender que, primariamente, ele deve atender ao segmento que acreditou na sua proposta.

Seguidamente nós ouvimos aquela frase: “mas o vereador está sumido”. Aí eu pergunto, para quem? Por exemplo, se em uma campanha eleitoral a deputado estadual, um parlamentar se propôs a defender o time do Grêmio e ele vai nas jantas do time, vai nos jogos, defende os interesses, a torcida do Inter não pode falar que ele está sumido, porque ele não propôs a defendê-la. Pegamos esse exemplo e podemos falar da área do agro, do empresário, do religioso. Tem aquele que defende o esportista, o agricultor, o urbano, o rural, um determinado bairro.

Como presidente, tenho que ter a compreensão que todo pedido feito a mim por algum vereador tem um propósito específico. Posso não conhecer o seu público, mas eles sabem os motivos. Cabe a mim, proporcionar a estrutura para que ele possa desenvolver bem o seu trabalho. É nesta ótica que conduzo a Câmara e por isso que nós temos um clima pacificado. Não é unânime. O dia que tivermos 100% de acordo deixa de ser Câmara, que é a casa dos diferentes, dos debates. No entanto, se tivermos o respeito, com certeza a comunidade vai estar lucrando com isso, porque em clima de guerra ninguém ganha.

Presidência

Fui presidente no biênio 2019-2020, 2021-2022 e agora reeleito para 2023-2024. Procuramos manter esse caráter pluripartidário, diversificado. Temos três partidos na Mesa Diretora: o PP (Partido Progressista), que como é a sigla de seis vereadores, ele tem a justificativa de ter dois membros na mesa, é a maior bancada. O primeiro secretário, Idasir dos Santos é MDB (Movimento Democrático Brasileiro) e o agora eleito Ari Pelicioli do Cidadania.

No momento em que lá em 2018, quando concorri pela primeira vez, fiz 11 votos, posteriormente 15 e agora fui eleito por unanimidade, isso ratifica a condução que estamos levando desde janeiro de 2019. Ou seja, essa eleição tenho dito que é a confirmação de todo o trabalho, porque quando você se elege pela primeira vez, está baseado em promessas, é tudo expectativa, não é mensurável. No momento que tu já tiveste um mandato, vais demonstrando o que fez, como que se portou, o que atendeu, o porquê que não acolheu algumas coisas e os colegas viram isso, tanto é que votaram em mim vereadores que não são da base do governo da Prefeitura Municipal. Então isso, para mim, é um grande mérito, é o maior triunfo que tenho nessa eleição, porque eles veem que temos um caráter democrático mesmo.

Principais bandeiras

Sou engajado, desde muitos anos, na questão infantojuvenil. Inclusive lancei um livro “Erotização e Relativismo Infantil: Herodes Moderno”. A criança de três, quatro ou cinco anos é vulnerável, ou seja, se não formos nós proteger, fazer cumprir as leis consagradas que nós temos, por exemplo, o Estatuto da Criança e do Adolescente, que é exemplo para o mundo, ela vai padecer. A criança é crédula, é ingênua, é vulnerável, não apenas fisicamente, mas emocionalmente, cognitivamente. Então, diante disso, a minha causa realmente é a criança, é o adolescente, aquele que não tem capacidade de argumentar, de pensar, de debater grandes assuntos que temos visto, por exemplo, ideologia de gênero, abusos, uma erotização precoce, desnecessária.

A segunda bandeira muito forte é a causa do empresário. Infelizmente no nosso município e até em algumas regiões, não estou dizendo que é culpa do poder público municipal, o empresário tem sido encarado como um bandido. Empreender em Bento Gonçalves virou crime, parece. Ele não pode construir, não pode aumentar a sua produção, porque senão vem a legislação ambiental e tantas outras coisas. Por isso que, temos muitas vezes debatido a questão dos conselhos. Não podemos fechar o mercado em Bento Gonçalves, não podemos fazer reservas. Não é porque tem uns estabelecimentos em alguns distritos ou em alguns locais aqui, que eles comandam o lugar. Tem que abrir, é bom para o turismo, para economia e para própria sociedade, que vive de serviço oriundo do tributo.

E a terceira, que é uma causa muito forte minha, é a questão religiosa. Entendo que a liberdade religiosa e ação social da igreja faz toda a diferença, haja vista que o poder público não consegue, não tem braço para atender todo mundo.

Plano Diretor

Infelizmente, foi arquivado. Tínhamos pautas importantíssimas para o deliberar. É uma lástima que o Plano Diretor em Bento Gonçalves se resuma a altura de prédios, a metros de edificações, porque ele é muito maior do que isso. Ele engloba tombamento histórico, edificações antigas, mobilidade urbana, não é somente o que um bairro quer ou não quer, é muito mais do que isso. Limitarmos toda uma cidade a isso é deprimente, é constrangedor, é desconfortável. Bento Gonçalves já é uma cidade empreendedora, mas pode se tornar muito mais.

Quando um empresário da construção civil quer fazer mais loteamentos, não pode ser considerado um crime, pois esse é o negócio dele, assim como é quem produz móveis ou vinhos. Outra questão era a dos distritos, ninguém queria destruir paisagens ou colocar abaixo parreirais. Temos quatro conselhos distritais em Bento Gonçalves, que são formados por dez conselheiros. Só que esses membros, são, na sua maioria, formados por empreendedores locais. Então é instintivo que vou defender o meu negócio e querer barrar o outro. Então assim, não posso ser dono do hotel e não permitir que outros venham.
Temos inúmeros empreendimentos de fora, grandes negócios que trariam renda e emprego para Bento Gonçalves, que não vieram por causa dos conselhos. O prefeito, o presidente Câmara, os vereadores e a sociedade queriam, mas dez pessoas barraram. Então, o que tenho levantado é que o processo tem que ser justo.

O debate sobre o Plano Diretor tem que voltar, a temperatura esquentou e o prefeito achou melhor retirar, mas ele tem que retornar em 2023 urgentemente.

É uma lástima que o Plano Diretor em Bento Gonçalves se resuma a altura de prédios, a metros de edificações, porque ele é muito maior do que isso.

Relação com o Executivo

De total respeito. Temos a nossa independência, muitas vezes é falado que não, que nos calamos, que nos omitimos e baixamos a cabeça e dizemos amém para tudo que vem do Executivo, mas isso não é verdade. O detalhe é que quando um projeto chega na Casa Legislativa, ele já está maturado. Por isso que é dado sim em sua maioria. Quando ele vem na Câmara é porque ele já foi exaustivamente conversado.

Grandes projetos que vão para votação são frutos de muitas reuniões com os secretários da área. Então, quando o projeto chega na Câmara, já não é surpresa, por isso que às vezes, particularmente, sou contra pedido de vistas, porque a sociedade e a atividade privada não andam no ritmo do poder público, elas voam.

O prefeito foi ungido pelo voto popular, ele não tem a totalidade dos votos, mas na urna ele ganhou, então vamos sempre respeitar isso. Óbvio que discordamos de um monte de coisas, mas não preciso fazer dessa discordância um show pirotécnico. É preciso diálogo. É assim que viemos conduzindo e assim que temos visto Bento crescer.

Gestão atual

O prefeito Diogo tem uma maneira peculiar de conduzir a prefeitura, delegando autoridade aos secretários porque realmente, humanamente, ele não consegue saber, por exemplo, de uma família que ficou sem a vaga de creche ou de uma pessoa que está a cinco anos esperando na fila de cirurgia. Ninguém acorda de manhã cedo querendo fazer mal para as pessoas, se acontece é porque realmente são exceções.

Por exemplo, na educação, temos na rede pública 12 mil alunos que são atendidos. Se uma família ficar sem vaga, que não é o objetivo, não podemos generalizar e dizer que Bento é terra atrasada.
O prefeito Diogo e o secretariado tem feito um ótimo trabalho, pelo menos eles tentam compreender tudo. E diante de recursos limitados, de um poder público engessado, que não é exclusividade de Bento Gonçalves, ainda tentamos fazer o máximo para atender a população. Então eu parabenizo a Administração.

Visão sobre Bento

Quem sai de Bento Gonçalves e as vezes vai viajar, estufamos o peito para falar que somos daqui. Bento deu um salto nos últimos anos na diversificação da sua economia. Acho que esse é o grande detalhe. O setor vinícola é forte, o moveleiro é fortíssimo, mas não fica somente nisso. O metal mecânico, startups, empresas de software que estão bombando, isso é muito legal.

O nosso turismo deixou de ser amador para ser culturalmente profissional. Ele deu um salto muito grande e fica realmente todo mérito ao empresário que se capacitou. E a grande característica de Bento é essa. As pessoas dependem muito pouco do poder público, elas não querem que ele atrapalhe, porque o empresário é que vai atrás. O segredo é essa sinergia entre poder público e iniciativa privada.

O que falta para Bento?

Essa questão dos destravamentos burocráticos, é muito importante. O Plano Diretor é importantíssimo, porque isso que vai atrair investimentos. A segunda questão é a ambiental. Não posso ser encarado como um criminoso simplesmente por cortar uma árvore podre, que está caindo e não produz frutos. Não posso ter que responder por isso, se estou avisando que vou cortá-la. Então, a questão ambiental tem que ser revista. E não é só Bento, porque tem muitas coisas que são federais, e principalmente estaduais. Elegemos agora o Pasin, particularmente falei para ele que uma de suas metas é com relação a Fepam (Fundação Estadual de Proteção Ambiental). Não pode um órgão demorar cinco, 10 anos para aprovar a alteração de um parque fabril. Não dá, nós não conseguimos ser competitivos nesse sentido.

E temos também a questão da nossa mobilidade. Só que daí entra a cultura do nosso povo. O que eu quero dizer? Bento é uma cidade relativamente pequena se comparada as demais. Somos uma cidade adolescente. O que é um adolescente? Ele quer sair da casa dos pais, mas ele não quer as responsabilidades da vida adulta. É Bento. A cidade quer que o trânsito ande, mas “ai se tirar o estacionamento do meu comércio”. Só que não é para o cliente dele, muitas vezes ele chega lá seis da manhã e vai sair às 18 horas. Aí um trânsito inteiro é obstruído por causa de um cidadão que coloca o seu veículo e que fica lá o dia inteiro.

Eleição do Pasin

É uma nostalgia, é uma lembrança aos deputados que tivemos no passado que trouxeram muito recurso para Bento. Temos hoje o Instituto Federal, a Escola Bento, Ginásio Municipal, repartições públicas que não teríamos, como o DAER e a Inspetoria de Defesa Agropecuária da Secretaria Estadual da Agricultura, se lá atrás não tivéssemos deputados estaduais e federais que trouxessem isso.

Vimos agora que mais do que nunca precisamos ter a representação. Infelizmente, não vamos ter federal, mas estadual já estamos mais próximos de Brasília. Não adianta, se participo de um debate de um orçamento e ali é dado para mim determinado valor, é óbvio que vou colocar na minha base eleitoral. Então, no momento que temos o Pasin no governo do Estado, sim, ele tem que atender a todos, mas é obviamente que ele tem um olhar muito especial para Bento. Tenho certeza que ele vai crescer muito, em ações e em debates, trazendo recursos para o nosso município. Foi muito importante, 27 mil votos em Bento Gonçalves, significa que a população entendeu que era o momento.

Planos

A população bento-gonçalvense me deu o privilégio de, em 2016, ser o vereador mais votado. Em 2020, fiquei em segundo e aumentei a votação. Meus colegas me prestigiaram me dando três presidências da Câmara. Em primeiro lugar sou feliz e estou satisfeito de onde cheguei. Não teria chego aonde estou, se não fosse, tenho essa convicção, da benção divina, através da família, dos meus eleitores e dos parceiros.

Sou um homem público, um agente político, é do meu dia a dia a conversação, e estou na chuva para me molhar, porém, é um pouco cedo para definições. O que posso afirmar é que conheço e amo Bento Gonçalves. Sei aonde estão os gargalos, as demandas, as pontes necessárias para a resolutividade. Nesses meus 41 anos de idade tenho muitos acertos e erros, um trabalho consolidado que me possibilita compreender com maturidade algumas situações e a experiência pública que agrega ao município.

Sou feliz e estou satisfeito de onde cheguei. Não teria chego aonde estou, se não fosse, tenho essa convicção, da benção divina, através da família, dos meus eleitores e dos parceiros.

Realizações

São inúmeras realizações, lembrando que o trabalho de verear tem duas pernas: a macro e a micro. Nas micro são intermináveis mediações, solicitações, pedidos de consertos, melhorias, atendimentos, algo mais particular, cuidando minuciosamente de nosso munícipe. Já na macro, divido em dois momentos, um externo e outro interno. Na área externa, consegui captar milhões em verbas através de emendas parlamentares, auxílios a entidades, defesa do comércio na pandemia e vários projetos de lei. Na área interna, a condução e pacificação do Legislativo para o bom andamento do Município.

O que ainda pretende fazer?

São três pautas, a primeira delas é tornar o empreendimento mais flexível, liberar, este é um objetivo. Que realmente quem venha de fora tenha condições justas. Que quem conseguiu juntar um troco para colocar uma empresa que não demore tanto tempo, que ele possa empreender.

Outra coisa é a questão do transporte público. Não pode uma trabalhadora que saiu da empresa 18 horas, sozinha, que o ônibus demore e ela fique uma hora na parada de ônibus, podendo sofrer tudo que sabemos, como abuso, violência, assalto. Se o itinerário diz que tem que passar em determinado horário, a pessoa tem compromisso. Ou ao contrário, ela chega de manhã cedo, oito da manhã, e o ônibus chega 15 para as nove. Ela muda a vida dela todo dia, pode perder o emprego. Então, a questão do transporte público coletivo tem que ser revista. A Câmara já fez a parte dela e aprovou o esqueleto da nova licitação. Não podemos estar em um contrato antigo, obsoleto. Temos hoje transporte por aplicativo, temos o táxi, temos muitas motos, ou seja, a vida mudou.

Por fim, a construção de uma nova e moderna sede da Câmara de Vereadores é um objetivo necessário. Precisamos atender as entidades que ainda não possuem uma sede e solicitam nosso espaço, além de modernizar o Poder Legislativo Municipal.

Foto em destaque: Christian Saibel