Este fato aconteceu no tempo em que a gente podia ir aos shoppings e se misturar às pessoas, disputar os lugares na praça de alimentação e procurar atendimento preferencial nas longas filas das lojas, ou simplesmente admirar o movimento. Calculando assim de cabeça, eu diria que faz uns belos… Decididamente, é impossível lembrar.

Então estávamos fazendo compras. Tudo muito bom, preços pela metade, carrinhos cheios, e lá fomos à cata de um rango, algo que ficasse na medida das bolsas e dos bolsos já desfalcados durante as duas horas de peregrinação pelo centro comercial.

Enquanto três de nós procurava o lugar ideal para o “reabastecimento da máquina”, os outros dois foram desovar as compras no carro. Seguindo as recomendações deles – que patrocinariam o jantar –, chegamos ao restaurante indicado. Ao menos, era o que a gente pensava. Charmoso, aconchegante, com muitas mesas disponíveis e principalmente de preços razoáveis.  

Fomos logo pedindo um suco de laranja, que a sede estava demais – só me lembro de um desejo assim intenso na gravidez dos gêmeos. Virei meu copo num fôlego e também o da baixinha ao lado, enquanto ela dedilhava o celular. 

De repente, tive a atenção atraída por duas caras entre preocupadas e divertidas.  Era o casal patrocinador que gesticulava adoidado pelo lado de fora. Uma parede de vidro nos separava, mas entendi a mensagem: estávamos lascados. O motivo? Falha na escolha.  Bom, não há o que um cartão de crédito não possa cobrir, pensei com meus botões, totalmente desabotoados, em virtude da onda de calor que me deu.

Sem outro jeito, o casal entrou e se acomodou à mesa e passou a curtir a culinária sofisticada, deixando para depois a preocupação com a conta. Já eu, com o estômago totalmente inundado pelo suco e comprometido pelas entradas, estava pronta para a saída. 

 Fim do jantar, toalete (ninguém segura tanto líquido por muito tempo), pagamento da conta – o dobro das compras.

Lá pelas tantas, no caminho de volta, fizemos uma parada emergencial numa loja de conveniência para “desaguar”. Foi então que minhas narinas captaram o cheiro inconfundível de hot-dog. Retornei dois passos e apalpei a bolsa, ficando claro meu intuito de fazer uma “boquinha”, mas aí nosso motorista traduziu sua indignação com uma cantada de pneus que advertia: “Ou vem ou fica”. Fui, né!