Percebendo uma alta na demanda do adoecimento mental em jovens e cientes dos desafios para enfrentar esse problema, o Centro de Referência e Assistência Social III (CRAS) de Bento Gonçalves começou a desenvolver nas escolas da cidade um projeto denominado “Adolescência Plena”.
O foco é trabalhar com a prevenção da saúde mental dos adolescentes, já que os casos de depressão, tentativa de suicídio, automutilação e bullying estão crescendo cada vez mais, segundo a psicóloga do CRAS III, Tatiane Baggio. “Isso tem chamado atenção não só aqui, mas tem sido um assunto em toda cidade. Os índices das tentativas de suicídio na adolescência aumentaram muito”, aponta.
Projeto piloto
O Colégio Estadual Landell de Moura foi a primeira escola beneficiada com o projeto, que ocorreu no dia 23 de outubro. Tatiane conta que na ocasião, 25 alunos com idades entre 13 e 15 anos, de várias turmas, participaram da atividade. “Passamos um vídeo que fala da violência física, intrafamiliar e a partir disso a gente foi dialogando. Eles foram trazendo os assuntos relacionados ao bullying que sofrem e às vezes não tem espaço para falar, assim como de violência doméstica, sexual e questões de depressão”, afirma.
Tatiane também relata que os adolescentes foram questionados sobre o que podem fazer diante dessas problemáticas e que possíveis ações foram propostas por eles, gerando reflexões acerca do assunto. Os alunos também foram orientados de como proceder em situações que precisem registrar denúncia, já que a maioria não sabia como agir, segundo Tatiane. “A gente distribuiu o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), explicou como é feito o procedimento de denúncia junto ao Conselho Tutelar, se é necessário registrar boletim de ocorrência, enfim como eles podem acessar a rede. Esses órgãos muitas vezes são muito distantes deles fazendo com que a maioria sofra calado”, explica.
De acordo com Tatiane, a atividade mexeu com os jovens e para alguns alunos o impacto da ação foi mais profundo. “Quando foi iniciado, um adolescente levantou e saiu, não conseguiu suportar ficar ali, não queria falar daquilo. Outros choraram, contaram suas histórias, situações de tentativas de suicídio, bullying e o que enfrentam por conta dessas situações de constrangimento”, relata.
Zenir Pelizzaro, estagiaria de psicologia que também está envolvida no projeto, acrescenta que de modo geral, a maioria dos adolescentes gostou da atividade, embora nem todos tenham aceito tão bem. “Percebemos algumas reações não tão positivas, mas depende da situação do momento de cada um deles. Alguns se calaram, mas a maioria conseguiu trazer questões e dividir conosco. Foi muito bacana e a gente percebe o quanto é produtivo e o quanto falta esse espaço para eles”, observa.
Feedback
O projeto não para por aí. Depois da primeira atividade com os alunos, as psicólogas dão um retorno para a escola que começa a trabalhar os temas mais abordados em sala de aula com os jovens. “Os alunos querem falar sobre sexualidade, bullying, depressão, ansiedade, suicídio. Então a escola trabalha esses temas dentro da sala de aula e depois a gente pede um retorno”, explica Tatiane.
Próxima ação
As psicólogas envolvidas no projeto entram em contato com as escolas, explicam como funciona a ação e a partir daí é agendado um dia para a atividade ser realizada. Tatiane antecipa que o próximo colégio que vai participar do projeto é a Escola Anselmo Luigi Piccoli, no dia 20 de novembro.