Dentre tantas expressões que herdamos da colonização italiana muitas são provenientes da descarga do gênio interno de homens rudes que aqui vieram e, a despeito das dificuldades, venceram.
Deve ter sido durante uma martelada no dedo, ao pregar um arame na cerca, que se disse o primeiro “pórco” (se pronuncia com acentuação aguda no primeiro ‘o’).
Muitas razões geraram outras denominações para designar momentos os mais diferentes: “pórco zio”, para um parente mal-quisto; “pórca fumana”, “pórca mastela” e, aqueles mais exaltados e menos religiosos também largavam seu “pórco dio”, uma blasfêmia.
O Seu Pedro, fervoroso católico, repreendia todos os clientes que blasfemavam no recinto de seu armazém.
Um sapateiro famoso de Bento Gonçalves, sabendo que o Seu Pedro repetia o mesmo percurso para assistir missa na Santo Antônio, espreitava até que ele chegasse mais próximo e, ao bater o couro para uma sola de sapato, fingia uma martelada errada e lá vinha “pórco” de tudo que é forma.
Vez por outra o Seu Pedro se atrasava para a missa de tanto discutir com o sapateiro. Acho que os dois sabiam que era apenas pretexto mas valia por um bom papo.
Sábado, início do feriadão, saí com a família para almoçarmos juntos num restaurante da cidade e, ao regressar para casa, tinha um enorme exemplar de cocô de cachorro na grama recém aparada. Horrível de olhar e não tinha como desviar os olhos. Estava bem ali, postada em frente a porta de entrada.
Minhas visitas, que vieram para o Dia de Finados, disfarçadamente viravam o rosto e quase que meu neto pisou naquela bosta.
Fui buscar dois saquinhos plásticos e com a respiração trancada fui catar os “petolotes”. Uma merda!
Já tinha catado metade num saquinho enquanto o outro me servia de luva e, por um descuido, encostei naquela coisa.
– “PÓÓÓÓÓRCO CAAANE!”
Certamente vocês sabem o que isto quer dizer.