As oportunidades para PcD estão, principalmente, em grandes empresas acima de 100 funcionários, que precisam ter ao menos 2% dos colaboradores incluídos na Lei de Cotas. Em Bento, a Caispede tem 1.300 cadastrados, que buscam auxílio de políticas públicas

O assunto ‘inclusão social’ está cada vez mais em pauta na sociedade. Pessoas com Deficiência (PcD) estão buscando seu lugar no mundo, a procura de acessibilidade para estudar e também vagas no mercado de trabalho.

A coordenadora de Recursos Humanos, Julia Basso, evidencia que as empresas acima de 100 funcionários precisam dispor de 2% de seu quadro funcional reservado para pessoas com deficiência, de acordo com a Lei nº 8.213, de 1991, a Lei de Cotas. “Apenas as empresas que se enquadram nesse requisito estão sujeitas à legislação”, explica.

Julia afirma que incluir os deficientes no ambiente profissional oportuniza que essas pessoas tenham autonomia e liberdade financeira e, além disso, permite que utilizem suas habilidades e competências já desenvolvidas. A coordenadora acredita que em Bento Gonçalves o processo de adequação das empresas para contratar esses funcionários está em andamento. “Isso envolve mudança de infraestrutura, formas de comunicação e políticas públicas”, esclarece.

Dentre as vagas mais disponibilizadas pelas empresas para PcD no município, destacam-se as do setor produtivo, atendimento ao público e nas áreas administrativas em geral. “As pessoas estão em busca de inserção no mercado de trabalho, em oportunidades onde consigam desenvolver suas habilidades, não fazendo distinção quanto ao cargo”, acredita.

Vagas PcD, segundo a Sedes

A Secretaria de Esportes e Desenvolvimento Social (Sedes) de Bento Gonçalves elucida que a Lei de Cotas é uma das mais importantes iniciativas que oferece empregabilidade às pessoas com deficiência. A pasta esclarece que a norma foi regulamentada somente no fim da década de 1990. Os reabilitados pela Previdência Social também têm direito e podem participar do grupo PcD.

Na prática, entidades de 100 a 200 colaboradores precisam dispor 2% de suas vagas para deficientes; as de 201 a 500 contratados, devem permitir que 3% de seu quadro de funcionários seja de PcDs; de 500 a 1.000 colaboradores, o percentual vai para 4%; já em grandes empresas, acima de mil trabalhadores, 5% devem ser portadores de deficiência.

A secretaria garante, ainda, que em Bento é possível encontrar inclusão, pois as empresas entram em contato telefônico, divulgando as vagas e solicitando os currículos das Pessoas com Deficiência. “A Sedes, através da Coordenadoria de Acessibilidade e Inclusão Social da Pessoa com Deficiência (Caispede) e o Programa Nacional de Promoção de Acesso ao Mundo do Trabalho Acessuas Trabalho, em parceria com as empresas locais, disponibilizam o espaço e mediam o processo de seleção, com vistas a oportunidades e à inclusão para o mercado de trabalho”.

A pasta aponta que há uma diversidade nas vagas, que decorrem desde as áreas da indústria, comércio e serviços. Existem oportunidades desde a faixa etária de Jovem Aprendiz, iniciada aos quatorze anos. “A importância dessa inclusão no mercado de trabalho é proporcionar a autonomia e acessibilidade as pessoas com deficiência, com direito ao exercício de trabalho digno e compatível com suas habilidades. A identificação, sensibilização, o acesso a oportunidades e a permanência das pessoas com deficiência nos cursos de capacitação profissional e demais oportunidades de inclusão produtiva visam promover oportunidades de acesso a direitos, possibilitar a aquisição da experiência de trabalho, além de ampliar as oportunidades para o desenvolvimento de suas capacidades, autonomia e seus espaços de participação social”, informa a Sedes.

Atualmente, a Caispede tem um total de, aproximadamente, 1.300 pessoas cadastradas. A última atualização realizada pelo censo foi no ano de 2010, com um total de 6.000 pessoas com deficiência. A coordenadoria confirma que existe a procura para a confeccção de currículo e intermediação de mão de obra continuadamente, bem como a parceria pública e privada, para a efetivação da promoção e inserção das pessoas com deficiência no mercado de trabalho.

Força de vontade para realização de sonhos

A assistente de gestão de pessoas, Franciele Neu Ribeiro, nasceu com uma luxação congênita no quadril esquerdo, dando uma diferença de três centímetros da perna esquerda para a perna direita. Desde 25 de outubro de 2021, ela trabalha no Hospital Tacchini e afirma sentir alegria e gratidão.

Franciele Neu Ribeiro é assistente de gestão de pessoas no Tacchini
Foto: Arquivo Pessoal

A profissional garante que em nenhum momento sua deficiência física a impediu de conseguir emprego. “Acredito que se temos força de vontade e um objetivo, a gente consegue realizar os nossos sonhos. Os desafios aparecem a todo o momento, mas temos que ter força e coragem para ir atrás do que realmente é importante para as nossas vidas”, destaca.

Franciele lembra com orgulho do primeiro emprego como promotora de vendas. “Ficava no mercado oferecendo o produto para os clientes que chegavam no estabelecimento. O trabalho dignifica a pessoa, ajuda no crescimento tanto pessoal como profissional, ajuda no desenvolvimento da empresa, da cidade e do país”, realça.

A respeito da inclusão em Bento Gonçalves, a assistente menciona que muitas empresas já têm trilhado essa jornada e tantas outras estão iniciando nesse processo. “Acredito que a nossa cidade esteja no caminho certo, pois a convivência entre as pessoas, sendo PcD ou não, deixa o ambiente mais produtivo e humano, onde existe bastante troca de experiências e muita aprendizagem pessoal e profissional”, indica.

O Tacchini, segundo ela, demonstrou se importar com a inclusão desde o processo seletivo, com muito respeito e consideração, assegurando o bem-estar e segurança no ambiente de trabalho com treinamentos e orientações claras. Franciele frisa que melhorou como pessoa, a partir do momento em que começou a trabalhar. “Sou mais positiva em relação à vida, melhorou meu aprimoramento interpessoal, aceitação quanto às eventuais situações adversas, libertação de pensamentos e comportamentos negativos, aumento da autoestima e autoconfiança. Quando a pessoa deseja melhorar e evoluir, seus ambientes pessoal e profissional se expandem, transforma não apenas a sua vida, como também a dos que estão à sua volta, influenciando assim, na construção de um ciclo positivo e um mundo melhor”, finaliza.

Foto em destaque: Alexandre Brusa