Em entrevista ao Semanário, novo pároco da paróquia Santo Antônio fala sobre sua nova missão em Bento Gonçalves; religioso acredita que a unidade é o caminho para manter vivo o projeto de evangelização nas comunidades
No domingo, 13, às 18h, a paróquia Santo Antônio prepara uma celebração especial para receber o novo pároco: padre Volmir Comparin. Natural de Linha Pradel, interior de Bento Gonçalves, o religioso será o 21º pároco do santuário diocesano, desde a sua criação.
Prestes a comemorar 32 anos de sacerdócio e coordenar as atividades pastorais de uma das maiores paróquias da Diocese de Caxias do Sul, Comparin visitou a sede do Semanário e conversou com a reportagem sobre sua vida, trajetória, projetos e os rumos da sociedade durante e depois da pandemia. Ele assume no lugar do padre Ricardo Fontana, que passa a gerenciar, a partir de 26 de fevereiro, o Santuário Diocesano de Nossa Senhora de Caravaggio, em Farroupilha.
Entre sua caminhada religiosa, Comparin já atuou em outros estados, como é o caso do município de Mauá, em São Paulo, numa das missões da Diocese de Caxias do Sul e depois também auxiliou em diversas paróquias da Serra, além de um período de estudos bíblicos, na Itália. Por 13 anos, até 2012, foi reitor do Santuário Diocesano de Nossa Senhora de Caravaggio, em Farroupilha e de 2013 até a nomeação como pároco da Paróquia Santo Antônio, atuou como pároco na Paróquia São Brás, em Paraí. Esta é a sua 12ª transferência de paróquia desde o início de sua caminhada no sacerdócio.
A celebração de domingo também vai marcar a apresentação do seminarista Gabriel Guilherme Frigo, da etapa da Teologia, que fará estágio pastoral ao longo do ano na paróquia.
JS – Como foi saber que seria o novo pároco da paróquia Santo Antônio?
Padre Volmir Comparin – Dom José Gislon, bispo de Caxias do Sul, já tinha me pedido, ainda em 2020, para ser pároco daqui em 2021. Mas eu preferi terminar algo que tinha que fazer em Paraí e, agora quando ele me telefonou, ele disse: Santo Antônio de Bento Gonçalves. E eu disse: mas é grande! É bem maior do que 7,5 mil habitantes que eu tenho aqui. Mas ele disse que estaríamos em três padres. Então, vamos nos ajudar, o senhor me abençoe e, qualquer coisa, pedirei ajuda. Eu não estou sozinho. Vamos trabalhar juntos. Aqui temos além dos sacerdotes, as irmãs pastorinhas, inúmeras lideranças nas comunidades. Isso não me assusta. Nem os problemas nas comunidades. Nós devemos enfrentar. Acho uma palavra importante para os dias de hoje. Enfrente o teu problema.
JS – O senhor já se inteirou das atividades paroquiais?
Comparin – Na quarta-feira, 9 de fevereiro, o padre Luiz Conci me levou para conhecer todas as comunidades da paróquia. Então, geograficamente, eu sei onde elas estão. Algumas delas eu sabia, porque nos anos de 97 e 98, em alguns finais de semana, eu ajudava na paróquia Cristo Rei. O que agora eu preciso saber é de que lideranças temos hoje, quais são os reais problemas. E isso eu ainda não sei. Aos poucos, vou querer conhecer e ver como poderemos trabalhar da melhor forma.
JS – Qual é o sentimento em ser escolhido para ser o novo pároco do santuário?
Comparin – Fiquei contente, porque vou estar mais próximo de meus familiares e meus pais. Mas, por outro lado, venho à Paróquia Santo Antônio, desafiado a servir com esperança. Venho com desejo de conhecer. Sou devoto de Santo Antônio e de Nossa Senhora de Caravaggio.
JS – Como é sua linha de trabalho?
Comparin – Não vou derrubar nada do que existe. Meu primeiro papel é continuar. E se nós tivermos que continuar com a caridade, o auxílio aos doentes, principalmente nas questões espirituais, nós devemos ajudar. Tudo o que estiver bom, daremos continuidade. Os festejos de Santo Antônio, que já estão programados, não irei tirar absolutamente nada. Se diz que “em time que está ganhando não se mexe”. Vamos com este princípio.
JS – O que o senhor espera dos paroquianos?
Comparin – A disponibilidade. Uma pessoa que se fecha, não quer saber de nada. Se quisermos construir, melhorar e viver a verdadeira espiritualidade cristã, nós devemos estar prontos para escutar. O primeiro de tudo, a Cristo, ao Evangelho. E tudo para construir a paz. Nós precisamos de muita paz. Cada pessoa que nos procurar será bem-vinda.
JS – Vimos, nos últimos anos, diversas ordenações sacerdotais, inclusive aqui em Bento. Como estimular o surgimento e o cultivo das vocações à vida consagrada na sociedade atual?
Comparin – A vocação é um chamado de Deus e não uma obrigação, uma invenção humana. Muitas vezes, a pessoa está com um certo “barulho” dentro si. Das ordenações da Itália, por exemplo, a maioria são pessoas que já são médicos, engenheiros, que já tinham sua profissão garantida. Mas que não encontraram a felicidade e acharam que seria melhor servir as pessoas. Então, um jovem, adolescente, ele não tem ainda uma definição. A uma certa altura, ele dá uma “fugida” da Igreja, lá pelos 18 anos. Depois, ele começa a voltar. Nesse retorno, é hora de anunciar o Evangelho, de propor e desafiar.
JS – Com a pandemia ocasionada pela covid-19, as famílias passaram a participar das celebrações através de transmissões ao vivo, uma modalidade fora do que é tradicional nas Igrejas. Como o fiel pode se manter conectado com o momento de comunhão, sem necessariamente estar no templo?
Comparin – Quem acompanha através desses meios, certamente faz com uma espiritualidade profunda, sentindo-se presente na celebração, porque naquela ocasião não dá. Porém, não substitui a presencial. Lá, você está de corpo e alma, você experimenta olhar os outros, você escuta, vê que não está sozinho, que a situação dos outros também é difícil e as alegrias. Você experimenta o lado humano de descobrir o valor de cada um. Enquanto não for possível, que continuem esses meios de comunicação, onde nós conseguimos alcançar as pessoas. Tomara que consigamos alcançar também o coração de cada uma.
JS – A pandemia da covid-19 desestruturou o mundo e fez milhares de vítimas. Como o senhor vê esta situação? O que fazer?
Comparin – Quanta dor, angústia ver pessoas morrendo que, talvez nem precisavam ter morrido. Algumas coisas, poderíamos ter feito diferente e sanado algumas situações. Agora é uma hora de solidariedade. Um momento profundo de nos darmos as mãos. Se dá para arranjar a cura, ótimo. Enquanto isso, vamos nos cuidando, usando as vacinas, nos fortalecendo interiormente, porque também o bom espírito ajuda o corpo. Temos que olhar um conjunto todo. Não adianta enfiarmos remédios goela abaixo. Nós achamos que tudo tem que ser imediato, de forma mecânica, mágica. E não. Precisamos dar tempo ao tempo. Agora vem também toda essa questão dos desafios, da saúde do corpo e da alma. Acredito que esse equilíbrio ajudará as pessoas mais felizes.
JS – O que a pandemia vem a nos ensinar como católicos?
Comparin – Quando Deus criou o homem, ele deu uma coisa chamada inteligência. E ela serve para descobrirmos situações, curas, o que é importante para ajudar a viver da melhor forma. Existem livros na bíblia que falam da medicina. Então, nós precisamos cuidar. Essa não foi a primeira e não será a última pandemia. Eu acho que nós temos que aprender a valorizar. A ciência existe para ajudar. Ela não é única, exclusiva. Não adianta negar a doença. Temos que ter prudência no que se diz. Não podemos desprezar. Se é preciso cuidar na prevenção da covid-19, é preciso cuidar das orelhas, do que a gente escuta, e da boca, o que a gente fala. Jesus já dizia no evangelho, que a boca fala do que o coração está cheio. E uma pessoa que vai falar confusão, emitir opiniões sem ter fundamentos, eu acredito que seria melhor que ficasse calada.
JS – Se o senhor não fosse padre, o que gostaria de ter sido?
Comparin – Quando criança, queria ser cientista para descobrir coisas. Não sei o que no fundo eu queria encontrar. Depois, com a mudança na minha vida, quis e quero sempre mais descorbri as coisas de Deus. Pensei também em ser maquinista de trem. Veja que coisa mais estranha, não é? Mas tudo isso fez parte lá do início da minha vida. Vontade em desistir do sacerdócio eu nunca tive. Estou realizado. Sou uma pessoa feliz em poder servir, ajudar. Eu tenho prazer de celebrar uma santa missa. É lógico, com os defeitos e limites de todo ser humano. Mas eu me sinto realizado na minha vocação.
JS – Que recado o senhor deixa para a comunidade católica de Bento Gonçalves, em especial aos paroquianos?
Comparin – Tenho a alegria de vir ou voltar a Bento Gonçalves, minha terra. Vamos estar juntos. Santo Antônio, nosso padroeiro, é modelo de vida. Uma pessoa que se dedicou desde criança à vivência cristã e o anúncio do Evangelho. Vamos andar juntos, nos ajudar, mas sempre com o bom espírito para edificar a Igreja de Cristo, em busca da verdade, esta que liberta. E com o coração em paz, porque é assim que poderemos conviver melhor.