Após serem diagnosticadas com câncer de mama, moradoras de Bento Gonçalves seguiram o tratamento sem desanimar. Hoje, curadas, as duas dizem aprender a valorizar os momentos vividos
Todos os anos, aproximadamente 65 mil mulheres recebem o diagnóstico de câncer de mama no Brasil. Os dados são do Instituto Nacional do Câncer (Inca). Uma realidade assustadora, mas possível de ser enfrentada e, na maioria das vezes, com resultados positivos. Uma luta diária, com incertezas e medos, sentimentos que são considerados naturais na vida de quem passa pelo tratamento. Há quem se deixe levar pelo desânimo. Mas há também, em suma maioria, aquelas que encaram de frente a situação e enxergam motivos para continuar vivendo.
Greice Zandi da Costa, de 27 anos, e Jennifer Rodrigues de Freitas, de 29, ambas moradoras de Bento Gonçalves, tem muitos motivos para comemorar pela vida. As duas jovens descobriram que estavam com câncer de mama, após notarem a presença de um pequeno caroço nos seios. Foram períodos de incertezas, entre o diagnóstico, tratamento e a tão esperada notícia de que a doença estava eliminada.
Com Greice, moradora do bairro Barracão, a doença foi percebida no momento em que estava amamentando sua filha. Na época, a jovem sentiu a presença de um caroço em uma das mamas. Após alguns dias realizando compressas e massagens, no intuito de eliminar o que a incomodava, Greice contatou sua ginecologista para falar sobre o assunto. “Imediatamente, a doutora Camila Da Ré indicou que procurasse um mastologista, pois nessa mesma época, minha mãe estava se tratando de um câncer”, disse.
Após exames, veio a notícia que Greice menos esperava. Tratava-se de um tumor. “Fiquei por algum tempo sem acreditar que era algo grave”, revela. O apoio da família e a positividade foram combustíveis para que ela superasse a doença. Foram necessárias, além da cirurgia de mastectomia, com a retirada das duas mamas, a realização de 12 sessões de quimioterapia, iniciadas no dia em que ela comemorava seu aniversário, em 31 de julho.
Entre os sofrimentos, a jovem lembra do momento em que precisou parar de amamentar sua filha, pois tinha que realizar a cirurgia. “A primeira dificuldade foi o desmame da minha nenê, pois eu queria ter amamentado por mais tempo”, afirma. Depois, Greice perdeu sua mãe, que também estava lutando contra a doença.
Mas ela não se deixou abater. O apoio recebido foi combustível para que ela superasse tudo. Tendo seu esposo Willian, equipe médica, empresa onde trabalhava, amigos, a Associação de Apoio às Pessoas com Câncer (Aapecan), Liga de Combate ao Câncer e sua rede de amigos, Greice afirma que a batalha pode ser encarada, aos poucos, com leveza e serenidade. “Tive uma rede de apoio muito grande e grande parte da minha recuperação devo a todas essas pessoas”, revela.
Aceitar a doença é o primeiro passo
Jennifer Rodrigues de Freitas, moradora do bairro Maria Goretti, também precisou encarar de frente o problema aos 27 anos, quando encontrou um caroço em sua mama esquerda. A jovem lembra que havia se preparado para a o momento em que recebeu o resultado da biópsia. “Estava bem, pois minha ginecologista já havia me informado sobre a possibilidade de ser um câncer maligno”, revela. No entanto, as palavras da médica, no momento do resultado a encorajaram para enfrentar o desafio. “Se você aceitar ele, sendo maligno ou benigno, no momento que tiver que fazer algum tratamento será mais fácil, você não terá tantas reações e dificuldades”, lembra.
Assim como Greice, a jovem precisou fazer a retiradas das duas mamas, além de ser submetida a sete meses de quimioterapia, iniciadas em março de 2020 e outras 15 sessões de radioterapia.
Mas nem todo o caminho foi fácil. Entre uma quimioterapia e outra, Jennifer sentia os efeitos colaterais, principalmente durante o período de inverno, onde era acometida por fortes dores nas articulações e nenhum medicamento era eficaz para aliviar a situação. “Pensei, por alguns momentos em desistir, mas lembrava que tinha uma criança pequena que precisava de mim, curada”, revela.
Se por um lado havia dor, do outro, uma rede de solidariedade e apoio foi construída para atravessar uma fase cheia de desafios e incertezas. Essa rede era formada pela família, amigos e equipe da Aapecan. Mas, Jennifer faz questão de enfatizar que o principal apoio veio de dentro de casa: seu filho e sua mãe.
Para as duas, momento é de celebração da vida
Assim como milhares de mulheres, Greice e Jennifer estão curadas do câncer de mama. Cercadas de tanto afeto, apoio e carinho, elas celebram a vida e a conquista de seus principais objetivos: continuar vivendo.
Enquanto Greice sonha em ver sua filha crescer e seu empreendimento, um atelier, ganhar forma e expansão, Jennifer revela que não tem projetos para o amanhã, mas vive cada momento como se fosse único. “Não tenho nenhum plano, pois o futuro é algo tão incerto. Então, vivo os momentos, os minutos e instantes todos os dias, porque nunca saberemos o que vai acontecer no dia seguinte”, revela Jennifer. “Só posso dizer para quem está enfrentando essa doença que acreditem na vitória. Tenham pensamentos positivos, pois é só uma fase. A vida tem muito a oferecer. Busquem algo que vocês gostem e consigam fazer nesse tempo de tratamento. Aquela coisa que antes não dava tempo de fazer”, aconselha Greice.
As duas também são unânimes na importância da prevenção. Graças ao autoexame das mamas, as jovens conseguiram superar a doença. “É uma corrida contra o tempo. Eu venci por ter um diagnóstico precoce e isso faz toda a diferença”, garante Greice.