Há uns três anos eu estava na agência central do Banco do Brasil em Caxias a espera de atendimento e, ao meu lado, esperando também, um rapaz negro, alto, elegante, de celular, logo descobri que era Haitiano. Perguntei porque ele estava no Brasil, pronto ele respondeu em Francês: “a fome”. E me contou que a família estava lá e lhe mandava dinheiro. Ele veio para abrir frente por aqui, primeiro ele, depois a família, depois os parentes. Quando ele foi atendido, a gerente comercial disse que o dinheiro dele tinha vindo mas estava numa agência do Banco no interior do Paraná, não lembro onde, que ela não podia fazer a transferência, que ele tinha que ir até lá e retirar o valor munido de documentos. Desesperado ele começou a questionar, “onde fica isso, como chego lá e, chegando lá, o que eu faço?” Fiquei com muita pena do rapaz mas eu não poderia ajudar a não ser orientá-lo da maratona que teria que fazer e o custo dela.

ACORDO

O Brasil está aliado a organismos internacionais para ajudar o Haiti, hoje mesmo, existe lá um Batalhão do Exército Brasileiro em operação de ajuda, fazem de tudo um pouco. Informados sobre o Brasil, pelos brasileiros que estão lá, e pelos Haitianos que estão aqui, eles vem embora e uma das portas de entrada é pelo Acre. De lá vem de ônibus para o Rio Grande e, chegados aqui, tem subido a serra, os encantos estão por aqui mesmo. Ouvi comentários de que na semana passada chegaram dois ônibus de Haitianos a Bento. Não é difícil identificá-los, são como as pombas, andam em bando, são saudáveis, educados, religiosos, na igreja precisa um padre só para eles na hora da comunhão (brincadeirinha!). Mas, como moram, onde vão trabalhar? A maioria em repúblicas (muitos numa casa só) e trabalhar, bem trabalhar é que é o problema diante da qualificação necessária por aqui, mais do que nunca. Uma senhora, da alta sociedade local, contratou uma Haitiana para os serviços domésticos. Na execução do trabalho, ela vai devagar, quase parando, mas o conhecimento, a educação, predominam e a dona de casa está feliz da vida com a Haitiana. Mas, houve um porém: a menina só falava Francês, aí a coisa complicou. Mas, a dona de casa descobriu que a Haitiana falava também inglês (coisa Chique!), ai tudo bem, ela não entendia muito dessa língua também mas, como brasileiro gosta do inglês, adivinha o que aconteceu? Antes da Haitiana aprender falar Português, lá foi a dona de casa se matricular numa escola para aprender inglês e conseguir se comunicar melhor. Abrir mão da Haitiana? Nem pensar. Vejam só o efeito cascata provocado pela Haitiana nesta casa. Como os brasileiros não estão mais muito afim de trabalhar, ouve-se isso em cada esquina, muito menos na limpeza doméstica e, se o fazem, estão cobrando R$ 15,00 a hora (preço mínimo) que, multiplicando por 220 horas mensais dá um salário de R$ 3.300,00. Então, vamos de Haitianos, nem que para isso tenhamos que cursar uma escola de idiomas. Daqui uns dias, a continuar essa corrente avassaladora de Haitianos em Bento, vamos ter donas de casa cantando até o Hino da França: “Alons enfants de la Patrie, le jour de Glorie es arrivè”. Reduzir custos é um imperativo. Os ricos são ricos porque economizam, os pobres são condenados a pobreza porque compram a prazo pagando juros de 10 a 14% ao mês, comprar a vista não dá. O comércio mais crescente no Brasil hoje são os armazéns de bairros, onde se pode comprar nas cadernetas, “anota aí”, é o que se ouve ( já trabalhei no armazém que meu pai tinha lá no Barracão, mas eu dava prejuízo, para cada 100 gramas de açúcar que eu vendia eu comia 10 torrões e, para cada 10 mandolates vendidos eu comia dois, o lucro ia embora, fui demitido!). No fim do mês, sobra um dinheirinho para pagar o armazém, um pouco, não tudo, o quanto está se pagando pelo produto não importa. Os Haitianos estão chegando em meio a essa realidade, nossa economia vai mal, mas Bento está bonita, uma cidade linda e atraente mas mergulhada em problemas acima da média. Vou falar sobre isso lá adiante porque acabou o espaço.

Ps. Esta coluna não é baseada em ficção mas sim em fatos reais, os personagens são preservados.