Considera-se que as razões mais comuns para a amputação de membros ou a retirada de órgãos estão voltadas a tumores ou traumas derivados de acidentes. Nestes casos, o foco da atenção está comumente direcionado ao tratamento da patologia, a fim de salvar a vida do paciente. Tais procedimentos acabam sendo sugeridos de forma secundária,em caso de surgimento de eventuais complicações, tendo como finalidade primordial o controle ou cura da enfermidade ou trauma. Por tratar-se de um procedimento delicado, costuma-se esgotar, em primeira mão, as demais possibilidades antes da decisão final de prosseguir com o diagnóstico – tudo com o objetivo de promover maior bem-estar à pessoa e permitir-lhe a continuidade da vida.

Geralmente, as amputações são vistas como condutas agressivas de mutilação e desestruturação extremas para os pacientes e seus familiares, por tratar-se da desorganização de uma estabilidade que coloca-os frente ao temor pela doença e, muitas vezes, da própria morte. O que acontece é que a retirada de órgãos ou membros traz sempre o simbolismo relacionado à incapacidade, à impossibilidade, às mudanças e readaptações. Deparar-se com a perda de parte de si faz alusão ao receio quanto ao futuro. Naturalmente, este processo apresenta significados diferentes para cada pessoa, tendo em vista que podem variar de acordo com a história pessoal, em que momento decorre do ciclo vital e a razão pela qual este procedimento se faz importante. Por tantas razões que dizem respeito ao que a amputação representa na vida da pessoa que atravessa esta experiência é que se torna fundamental poder falar sobre as transformações subsequentes. Trata-se da vivência reconhecida e validada como mudança importante na vida, a fim de que possa ser elaborada ao longo de um tempo individual pela pessoa que a experimenta.

Neste momento, é essencial contar com o auxílio e amparo dos familiares e demais pessoas queridas, bem como da equipe multiprofissional em que, juntos, formam uma rede de apoio segura e capaz de favorecer o processo de recuperação, facilitando a reabilitação e reinserção do paciente em sociedade em momentos posteriores. Afinal, estar-se-á falando de uma pessoa inteira, vista como um todo. A perda de um membro ou a retirada de um órgão não diz respeito à integralidade do ser humano, mas a uma parte de si que pode se regenerar quando vislumbrada em questão de sentido e significados. Na medida em que se torna possível enxergar o paciente de forma global, estar-se-á valorizando a vida como um todo, e não apenas uma etapa dela. O luto pela perda de membros ou órgãos é importante, pois constitui um dos capítulos do livro da existência, mas o sentido do conteúdo apenas se apresenta quando é possível “ler” o material por inteiro. Afinal, a obra da vida é composta pelo livro completo em sua edição mais atualizada.

Fonte: Franciele Sassi