Texto de Augusto Vasconcelos
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Engraçado como algumas situações simples e casuais nos colocam a refletir sobre nossas metamorfoses ao longo da vida. Esquecemos pessoas que considerávamos inesquecíveis, adotamos comportamentos que não cogitávamos, perdemos hábitos que eram sagrados. Eu costumava adorar abraços na infância, mas, inconscientemente, fui esfriando durante a adolescência.

Recentemente fiz novas amizades e, só agora, percebo que a maior parte dessas pessoas é como eu: não abraça durante as saudações, inclusive quando de alegria ou de saudade. Será que estamos sendo práticos e encarando o abraço como uma burocracia? Desconheço a resposta a essa pergunta, mas quando encontro alguém que ainda dissemina contatos mais próximos, retribuo, mesmo que um pouco surpreso.

Em Curitiba a passeio, em 2012, saí com outros excursionistas para jantar. A recepcionista do hotel sugeriu que fôssemos à pizzaria que ficava a alguns quarteirões. A decoração singela era de paredes azulejadas em vermelho, nada de televisões LCD, split ou o pizzaiolo atrás de um vidro – como uma vitrine. Em vez de toda a aparelhagem tecnológica a qual estamos acostumados, a simplicidade: ao centro de cada mesa, um pequeno vaso de vidro cheio d’água e com um ramo de flor despreocupadamente arrancado da planta ao lado do caixa. A senhora que atendia aparentava ter seus 80 e poucos anos. Idosa, mas trabalhando, atendendo, sorrindo e sendo gentil.

Abrimos espaço no centro das duas pequeninas mesas que juntamos, ela acomodou o tablado com a refeição, passou as mãos no avental, desejou “bom apetite” e sorriu, porém, não era um sorriso automático, era acolhedor. Compartilhei com as outras pessoas à mesa o quanto tinha achado ela “mimosa” e que dava vontade de abraçá-la. Acharam graça. Enquanto comíamos e conversávamos, uma reflexão aleatória me lembrou do Augusto criança. Afinal, o que um abraço pode significar? Pode ser um protocolo, uma simples cordialidade latina, mas também pode representar um ‘eu te percebo’.

Depois de pagarmos a conta, voltei e pedi uma edição de um jornal local. Agradeci pela gentileza, elogiei a pizza e, então, falei: “a senhora é tão querida. Eu posso lhe dar um abraço?”. Não sei definir o que ela sentiu, mas seu rosto parecia surpreso (de uma forma positiva, felizmente). Ela respondeu “claro” e nos abraçamos por poucos segundos. Curioso, mas só depois da nossa troca de afeto, ela avisou que serviam almoço ao meio-dia e pediu que aparecêssemos. É como se quisesse ver o estranho do abraço mais uma vez.

Agora em 2015, algumas das novas amizades que fiz adoram abraços, como o personagem Olaf, da animação Frozen. Um momento inesperado, como aquele em Curitiba, mostrou-me que amadurecer pode não ser só descobrir, mas também esquecer. Ao longo da vida, no entanto, diferentes pessoas aparecem e nos permitem lembrar de como éramos, criando paralelos entre o tempo passado e o presente.