*Por Juliana Ferrari Dal Piaz

Os episódios de chuva extrema que marcaram o Rio Grande do Sul em 2023 e as tragédias que resultaram deste fenômeno climático ainda estão vívidos na memória de todos e, com certeza, ainda são feridas abertas para todos os que foram diretamente afetados e perderam familiares e bens com a força das águas. Os efeitos maiores foram sentidos nas áreas próximas dos leitos dos rios, mas muitos danos também ocorreram nas áreas urbanas dos municípios.

Isto, por si só, deve ser motivo suficiente para fazer pensar e, principalmente entender o que ocorreu e como se pode evitar que tamanha tragédia se repita. Neste cenário, é de suma importância agir para reduzir os riscos e minimizar os impactos destes episódios. Essas ações relacionam-se, principalmente, com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS, da ONU) 6 e 11 – que visam, respectivamente: ASSEGURAR A DISPONIBILIDADE E GESTÃO SUSTENTÁVEL DA ÁGUA E SANEAMENTO PARA TODOS, e TORNAR AS CIDADES E OS ASSENTAMENTOS HUMANOS INCLUSIVOS, SEGUROS, RESILIENTES E SUSTENTÁVEIS.

Trazendo a discussão para o ambiente urbano, há muito a ser feito. O processo de urbanização tem sido crescente no Brasil e, em Bento Gonçalves, não é diferente. Segundo dados do IBGE, aproximadamente 90% da população do município reside neste zoneamento. Com isso, as necessidades deste território vêm crescendo visivelmente há algum tempo e, isso, demanda investimentos em infraestrutura para a cidade, quer seja para abrigar esta população, como também para controlar os efeitos deste crescimento.

No que se refere aos efeitos, entre outros, pode-se citar a concentração cada vez maior de pessoas sobre o território e em condomínios, o que significa um aumento na geração de resíduos sólidos, aumento da carga de efluentes sanitários e, também, de efluentes pluviais, esta última devido à criação de áreas impermeabilizadas pela urbanização. Em uma cidade, que tem como característica o relevo acidentado, estes efeitos se potencializam visto que a água escoa em velocidade maior pelas tubulações que precisam estar preparadas para fazer a drenagem de volumes crescentes, que se concentram nos episódios de chuva intensa. Estas tubulações não podem romper com a força da água e este escoamento não pode ultrapassar os limites da drenagem, de forma a não gerar assoreamento ou causar danos (buracos) nas vias.

O crescimento do município é salutar e necessário, mas, para isso, o respeito ao planejamento urbano existente é fundamental e, para que este crescimento ocorra ordenadamente, a infraestrutura do município deve acompanhar os avanços da cidade e as tecnologias existentes.

*MSc. Engª Química Coordenadora da CT Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
Consultora Ambiental