Com novo prazo, agricultores ganham mais tempo para adaptação à tecnologia enquanto enfrentam barreiras de conectividade e conhecimento técnico

Os produtores rurais de Bento Gonçalves e região ganharam um prazo adicional para a adesão à Nota Fiscal de Produtor Eletrônica (NFP-e) e à Nota Fiscal de Consumidor Eletrônica (NFC-e), que substituirão a tradicional Nota Fiscal modelo 4. Essa prorrogação, aprovada pelo Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), é vista como um alívio para muitos produtores que ainda enfrentam desafios na adaptação à nova realidade.

A transição para a NFP-e seguirá dois calendários. Para produtores com receita bruta superior a R$ 360 mil nos anos de 2023 ou 2024, a obrigatoriedade entra em vigor em 3 de fevereiro de 2025. Para os demais produtores, o prazo foi estendido para 5 de janeiro de 2026. Essa mudança busca oferecer mais tempo para que os agricultores se preparem tecnicamente e estruturalmente para a utilização da ferramenta digital.

A NFP-e promete agilidade e eficiência fiscal. Entre os benefícios destacados está a eliminação da necessidade de deslocamento até as prefeituras para a retirada ou entrega de talões de papel e carbono, uma rotina tradicional para muitos produtores.

Diversas iniciativas têm sido realizadas para apoiar os produtores nesse processo. O Sistema FAEP, por exemplo, promoveu cursos presenciais em diferentes cidades do Paraná e disponibilizou treinamentos online com manuais, guias práticos e vídeos explicativos. Já a Secretaria de Desenvolvimento Rural destacou a importância do aplicativo Nota Fiscal Fácil (NFF), que é gratuito e não exige certificado digital, reduzindo custos para os agricultores.

Apesar das vantagens, a implementação da NFP-e traz desafios significativos. Cedenir Postal, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Agricultores Familiares de Bento Gonçalves, Monte Belo do Sul, Pinto Bandeira e Santa Tereza (STRBG), ressalta que muitos produtores, especialmente os de maior idade, enfrentam dificuldades por não dominarem tecnologias. “No meu ponto de vista, devia continuar opcional. Se o agricultor tiver condições e optar por fazer de forma eletrônica, que fizesse, ou então, que pudesse continuar com o talão de produtor”, afirma.

Postal também destacou a complexidade do sistema: “Cada produto tem uma NSM (Nomenclatura Comum do Mercosul), e cada operação de venda tem um código. Isso exige conhecimento técnico, muitas vezes além do que o agricultor possui, tornando necessário o auxílio de escritórios de contabilidade”, diz. A conectividade no campo é outro ponto crítico. Embora a região de Bento Gonçalves tenha avançado no acesso à internet, localidades remotas ainda sofrem com limitações.

O STRBG tem investido em soluções para facilitar a transição. “Nossa equipe está preparada, tivemos treinamentos e realizamos encontros com produtores para ensinar o uso do aplicativo Nota Fiscal Fácil. Quem tiver dúvidas pode entrar em contato com o sindicato para obter apoio”, explica Postal. Ele também alerta para o risco de abusos financeiros: “Nos deparamos com pessoas querendo ganhar dinheiro em cima do produtor. Por isso, optamos por uma solução gratuita, sem custos adicionais”, destaca.

Embora a transição para a NFP-e seja inevitável, o sindicato reivindica ajustes, como a possibilidade de utilizar o talão modelo 4 até o esgotamento dos estoques e mais tempo para adaptação. As negociações já estão avançadas e aguardam publicação oficial. “A nota eletrônica é apenas um meio diferente de emissão, mas para muitos representa um grande desafio. Nosso foco é garantir que o agricultor possa cumprir com as exigências sem onerações desnecessárias”, conclui Postal.

Susana Strapazzon, 25 anos, produtora que já utiliza o aplicativo Nota Fiscal Fácil (NFF), reconhece que, embora a tecnologia traga benefícios, o início pode ser desafiador. “No começo, a gente fica em dúvida se está fazendo tudo certo, principalmente na escolha do tipo de operação adequado para cada produção. Mas o aplicativo é muito prático e permite que enviemos a nota diretamente pelo WhatsApp, sem precisar buscar talões na prefeitura”, relata.

Para facilitar a transição, diversas iniciativas têm sido promovidas. O Sistema FAEP, por exemplo, oferece cursos presenciais e online, enquanto o STRBG realiza encontros para capacitar os produtores. “O sindicato ajudou muito, com treinamentos que foram essenciais para quem, como eu, estava começando. Mas ainda vejo a necessidade de mais formações, especialmente para quem tem dificuldade com aplicativos e computadores”, pontua Susana.