“Cachorro também é gente!”
Com essa frase ontológica, o então Ministro do Trabalho da era collorida, Antônio Magri, justificou-se pelo uso do carro oficial para o transporte de Orca ao veterinário, uma fêmea canina de noventa quilos que estava em trabalho de parto. Abrindo um parêntese: Acho que a pasta do trabalho precisa ser exorcizada. Fechado.
Embora não houvesse redes sociais no começo dos anos noventa, a sentença do Magrão se espalhou e foi motivo de piada por muito tempo. Mas hoje reconheço um significado não intuído, na época, nem pelo próprio autor: os animais têm sentimentos.

Descoberta recente mostrou que há uma notável semelhança na estrutura e função de uma região cerebral chave entre cães e seres humanos, e experiências mostraram que cachorros têm emoções comparáveis a uma criança de quatro anos.

Então eu pergunto: Que tipo de ser humano é capaz de carregar suas “crianças” no porta malas do carro e largá-las num descampado qualquer a caminho da praia? Imaginem a desolação das criaturinhas largadas ao Deus dará…

É o que foi flagrado e filmado na semana passada e o que acontece repetidamente durante as férias de verão. Famílias que usam cães como brinquedos para os filhos, se desfazem dos bichinhos para facilitar o veraneio, como se eles fossem coisas.

Mais estarrecedor ainda é o que acontece nos bastidores dos criadouros clandestinos de cachorros. Exploradas e maltratadas em ambientes infectos, as matrizes, pobres mamães, são descartadas quando, exauridas de tanto procriar, perdem a serventia.

Por estes dias, uma denúncia levou fiscais a um criadouro dirigido por uma mulher – que também é mãe (é de supor que mães tenham alguma sensibilidade) – em condições deploráveis, que retrata o perfil dos criadouros clandestinos, onde só interessa o dinheiro advindo desse sórdido negócio. Lá foram encontradas cachorras de corpos deformados, encardidos e doentes, sem força até de se levantarem.

Então aquele filhote bonitinho, com fitinha ou gravatinha que a gente vê na Internet e, algumas vezes, nas vitrines das lojas, pode ser oriundo de uma matriz que passou o diabo para dar à luz.

Assim, ao adquirirmos o cachorrinho dos nossos sonhos, estamos levando para casa um pesadelo, com doenças contraídas no próprio ambiente ou herdadas, inclusive pela cruza irresponsável. Mas o pior de tudo é que, dessa maneira, estimulamos e financiamos esse crime horrendo.

É claro que precisamos de uma legislação mais dura e um controle mais eficaz, mas cada um pode fazer a sua parte.

Você quer um animalzinho de estimação? Não compre! Adote!