Nascido em Farroupilha, Antônio Francisco Maso sofreu as dificuldades da vida no interior, mas ao se mudar para Bento Gonçalves, encontrou nas suas características típicas italianas uma forma de viver da alegria e da divulgação das belezas e culturas desta terra

Filho dos imigrantes italianos, Luiz Maso e Tereza Pansera, Antônio Francisco Maso, o Nono Maso, como ficou carinhosamente conhecido, se tornou símbolo do turismo de Bento Gonçalves. Com seu espírito alegre, representou por muitos anos a Capital Brasileira da Uva e do Vinho e o maior Polo Moveleiro do Sul do Brasil. Seu carisma e seu trabalho lhe renderam a outorga da Medalha Aristides Bertuol, em abril de 1986, proposta pelo vereador Luiz Martinelli e, ainda, a denominação, através da Lei Municipal, publicada em outubro de 1988, há exatos 35 anos, do Acesso Turístico Sul – Pipa Pórtico Nono Maso. A placa em homenagem foi levada por vândalos e, no local, ficaram apenas as marcas da lembrança. A reposição de uma similar às utilizadas nas ruas de Bento Gonçalves já foi solicitada pela família ao Poder Público Municipal, mas o pedido ainda não atendido.

Nono Maso nasceu na Linha Jansen, interior de Farroupilha, em dezembro de 1908. Era o penúltimo dos 10 filhos de Luiz e Tereza. Foi batizado na Igreja de Nossa Senhora do Rosário de Pompeia, de Pinto Bandeira, e teve uma vida bastante humilde e rodeada pelos sacrifícios do meio rural. Ainda criança, antes mesmo de completar 10 anos, tinha a enxada como instrumento de trabalho e, os trocados que ganhava na lida, eram um adicional no sustento da família. Dos 10 aos 13 anos, foi entregador de leite e, na sequência, até completar 18 anos, ajudou os irmãos na roça.

O excesso de contingente o liberou do Serviço Militar Obrigatório. E foi mesmo aos 18 anos que Maso se casou com Maria Tonin. Fixaram residência em Pinto Bandeira e lá tiveram seus seis filhos: Ulisses, Generino, Iracildo, Deosines, Dalci e Nelson. Para sustentar a família, ele dividia o tempo entre o trabalho na roça e no frigorífico do cunhado Luiz Busetti, que produzia copa, salame e banha. Nesta mesma época, Maso teve seus primeiros contatos com aquela que viria a ser sua “companheira” na diversão de milhares de pessoas: a gaita.

Autodidata, passou a lidar com o instrumento sem qualquer estudo, mas recebendo o incentivo daqueles que eram considerados os maiores gaiteiros da região: Antônio e José Romagna. A paixão pelo instrumento e pela música foi tão grande que Maso adquiriu o primeiro acordeão fabricado por Luiz Matheus Todeschini.

Grandes mudanças

A aquisição do acordeão Todeschini alavancou uma brilhante carreira para o gaiteiro, que passou a ser requisitado para animar inúmeros bailes e casamentos.

Foi então que, em 1952, Maso decidiu largar a vida pesada do interior pelo trabalho na cidade, passando a atuar na Tanoaria Gaicomello Taffarel, atual Madem. Mas sua passagem pela empresa foi rápida. Em 1953 passou a trabalhar na Cooperativa Vinícola Rio-Grandense, onde permaneceu por 21 anos, até se aposentar.

Garoto-propaganda

Seu carisma e sua figura típica italiana lhe renderam inúmeros papeis publicitários. Divulgou os vinhos da Cooperativa Vinícola Aurora, o Hotel Dall’Onder, foi símbolo de divulgação da 5ª Festa Nacional do Vinho – Fenavinho, atuou em comerciais de TV e anúncios de jornal.

Boas lembranças

O filho Dalci Maso lembra do pai como sinônimo de alegria e festa. “Trinta e cinco anos se passaram desde sua partida e, para nós, o Nono Maso, meu pai, continua muito vivo na memória. O temos como um cara sempre alegre, carismático, sério sempre que necessário, mas um bom vivant, feliz com a vida, contagiando a todos por onde passava”, frisa.

Nono Maso deixou um grande legado para a família e para todos os que tiveram a oportunidade de conhecê-lo. “Embora o Nono fosse bastante rígido com a postura e o comportamento junto à sociedade, especialmente no que se refere ao respeito ao próximo, à honestidade, à cultura e ao amor pelo trabalho, certamente ele deixou a alegria contagiante por todos os lugares por onde passou”, afirma o filho.

De uma maneira geral, Dalci Maso acredita que o pai desempenhou um papel significativo não só na família, mas também na sociedade bento-gonçalvense. “Sempre carregou consigo muita alegria, tradição, valores familiares fortes e um grande senso de comunidade. Seu enriquecimento na cultura da cidade ficará marcado por gerações, contribuindo para a transmissão de tradições históricas para gerações futuras”, ressalta.

Coluna mestre lateral direita da Pipa Pórtico, onde estava fixada a placa metálica com os dizeres que homenageavam Nono Maso, foi levada por vândalos. Somente as marcas da lembrança ficaram no local

Os familiares de Nono Maso acreditam que, mesmo com a miscigenação cultural de Bento Gonçalves, que atualmente conta com 50% da população proveniente de outros municípios, a cultura italiana não tem perdido espaço, muito pelo contrário. “Quem não é daqui acaba conhecendo e gostando da cultura local. Muitas pessoas acabam vindo visitar e conhecer nossa cidade por intermédio destes migrantes e, muitas vezes, acabam ficando também por aqui, pelas oportunidades que a cidade oferece”, afirma a nora de Dalci Maso, Tanise.

Ainda com relação ao tema, a nora Ana Paula destaca que “é possível que, com a chegada de pessoas de diferentes origens, haja uma diversificação cultural na cidade. E isso é realmente muito bom! No entanto, não significa que a cultura italiana tenha perdido espaço, especialmente considerando sua rica história de imigração durante a fundação da cidade. As tradições italianas, a culinária, a língua e outras características culturais continuam sendo valorizadas e celebradas pela população, independentemente da diversidade cultural”, pontua.

Dalci Maso enfatiza que preservar a essência das nossas origens é um desafio importante em um mundo cada vez mais influenciado por diferentes estilos e tendências culturais, incluindo a música e o impacto das redes sociais. “O que pode ser feito para manter viva a cultura e o legado dos nossos antepassados é relativamente simples: começar pelas crianças. Promovendo uma educação cultural desde os primeiros anos de vida, na escola e em casa, principalmente. A variedade de assuntos é grande: tradições, música, dança, artesanato e gastronomia. Uma verdadeira conexão com o passado entre gerações”, finaliza.