Quem mora no bairro reclama da falta de acesso à saúde e do transporte público, que além de poucos horários, não passa por todas as ruas e tem viagens com percurso de uma hora

Caminhos da Eulália começou a atrair mais moradores há cerca de 10 anos. A escolha do local se deu pelos preços dos terrenos, mas acessíveis, enquanto outros foram seduzidos pela tranquilidade proporcionadas pelos espaços verdes da região. No entanto, o que tem incomodado os moradores é a falta – ou a má qualidade – de serviços básicos, como o posto de saúde e melhor transporte público.

Sirlei Guertnet, faxineira de 48 anos, encontrou na Eulália um local de paz para viver. Entretanto, desde que chegou, o transporte a tem deixado bastante descontente. “Gostei do lugar, na época, com muitos parreirais, bastante contato com o meio ambiente e poucas pessoas. Mas, infelizmente, as linhas de ônibus permanecem iguais, desde que cheguei. De manhã, há quatro horários, às 5h55min, 6h, 7h, e às 8h, e depois só à tarde, às 13h e às 14h, depois não temos mais nenhum”, reclama.

Além dos poucos horários, a qualidade do serviço deixa a desejar. “Eles alegam que poucas pessoas daqui usam ônibus, mas a maioria se viu obrigada a comprar um carro ou moto, por que o serviço é muito ruim. Sem contar que demora uma hora para fazer todo trajeto, já que passa por mais quatro bairros até chegar no nosso, e quando descemos ele não entra no bairro, então temos que caminhar na pior parte, pois é uma subida”, ressalta.

Outra situação é referente à saúde, já que não há posto de atendimento, apenas no São João ou São Roque. “Nós tínhamos o ônibus da saúde que vinha uma vez por mês, aí ficou quinzenalmente e depois da pandemia nunca mais voltou. Estava sempre cheio, lotado de moradores para consulta, parava ali no salão da comunidade. Minha filha está há um ano esperando para retornar ao neurologista, precisa fazer os exames, ver os remédios. e até agora nada”, diz ela.

Sonia Cargnato, 57 anos, do lar, foi viver no Caminhos da Eulália após a filha, que trabalha próximo, passar a morar no local. “Morava no Conceição e lá era som alto, brigas e drogas, mas na Eulália é bem calmo. Nós compramos um terreno, construímos nossa casinha e viemos viver. É um lugar silencioso, tranquilo, para mim é ótimo”, elogia.

Há cerca de quatro anos ela passou a morar no local, e uma das principais reclamações é sobre os ônibus que levam os moradores até o centro da cidade. “O transporte é péssimo, já fizemos reunião e disseram que teriam mais horários, e até agora nada. O bairro é muito bom, mas essa situação deixa a situação bem complicada”, reclama.

Sonia ainda critica o fato do local ter um único acesso. Até existe outro, uma estrada de chão que faz o trajeto do ônibus ser ainda mais demorado. “Qualquer coisa que ocorra no acesso principal, ficamos presos. Dizem que vão abrir uma saída no São João. Se sai às 13h, hoje, chega no centro às 14h. Com essa saída iria facilitar até isso”, pontua.

Itacir Monteiro, 31 anos, aprecia muito o local onde vive há cinco anos, mas se frustra com esses detalhes. “É um bairro retirado da cidade, mas é ótimo, justamente pela tranquilidade e segurança. O que precisa melhorar é o transporte, que é péssimo. São poucos horários e tudo é longe. Não temos creche, escola, posto de saúde, e sem ônibus fica tudo mais complicado”, comenta. “Pelo Caminhos da Eulália ter crescido muito e cada dia mais ter loteamentos, não há porque não melhorar os serviços essenciais para os moradores”, afirma.

Itacir Monteiro diz que não entende como o local cresce e segue sem os serviços básicos

Saúde pública

Antes da pandemia da Covid-19, em 2020, a Eulália contava com ônibus da saúde mensalmente, ou a cada 15 dias, para atender os moradores. Depois do fim da pandemia, não voltou. Iracema Britto, 80 anos, há 18 mora no bairro. Por conta da idade, as idas ao médico se tornaram mais frequentes, mas sem o ônibus da saúde ela precisa se deslocar até outro bairro ou ao centro. “Precisa melhorar alguns aspectos, como o acesso ao posto. Para nós, idosos, é mais complicado, agora só indo até o São Roque para ser atendido”, explica.

Fugir do aluguel foi o que fez ela optar pelo bairro, quando os terrenos eram vendidos por valores mais acessíveis. “Morava em São Valentin e pagava aluguel. Aqui foi um lugar onde pude comprar meu terreno, há 18 anos. Fomos um dos primeiros a chegar, compramos direto do dono e fizemos a casa bem rápido, para mudarmos logo. Viver aqui é muito bom, quase um paraíso, tranquilo demais. Quando cheguei era mais calmo ainda, só mato e a minha vizinha era uma lebre”, relembra.

Iracema diz que a falta do posto de saúde prejudica os idosos

Lourdes Belitzki, 62 anos, morava no interior, perto do Rio das Antas. Por muitos anos trabalhou na agricultura e, após mudar com a família para o Caminhos de Eulália, deixou de cuidar dos parreirais. “Gostei muito de ter mudado para cá porque a colônia é muito difícil. Viver na cidade é mais tranquilo do que ter que trabalhar na roça”, realça.

Também na opinião dela são necessárias duas mudanças para o bairro ser melhor para os moradores. “Não temos mais o ônibus da saúde, então me obrigo a ir até o São João que tem menos gente que o São Roque. E como estou com um problema no joelho, preciso ir a médicos, mas não posso me locomover grandes distâncias. Além disso, falta uma creche, porque há muitas crianças aqui, e só no São João é que tem escola de educação infantil. Isso é bem complicado”, alega.

Lugar para descansar

Os adjetivos mais usados por quem mora no bairro, para descrevê-lo, são paz e tranquilidade. O verde está por todos os lados e a vista das montanhas é bela. Isso foi o que Jorge Neves, 63 anos, foi buscar ao se aposentar. “Moro há 15 anos em Bento, antes, no centro, mas sentia falta de morar em uma casa. Decidimos procurar e encontramos aqui na Eulália, que é extremamente bonita, tem muito verde e é uma das rotas turísticas de Bento. Outro fator é a valorização dos imóveis na área central, bem mais caros. Parece que ainda não descobriram aqui, então os valores são mais acessíveis”, aponta.

O local encantou Neves desde o primeiro dia, e ele cita como motivos a tranquilidade, silêncio, relação com os vizinhos e a segurança. “O visual é de tirar o fôlego, temos uma vista panorâmica para cada lado que se olha. Foi uma ótima escolha, claro que há locais com mais qualidade de vida, mas aí se torna bem mais caro”, avalia.

Mas ele nota que o único acesso ao bairro pode trazer situações complexas. “A rua Joaquim Toniolo é um gargalo. A prefeitura deveria pensar sobre um novo acesso, e acredito que pelo São João facilitaria muito. Ali há empresas, escolas que muitos daqui frequentam, e as pessoas precisam fazer uma volta maior para chegar, mesmo estando do lado do bairro”, cobra.

Da mesma forma, o confeiteiro Everaldo Zandre, de 53 anos, diz que está bastante satisfeito com a escolha de viver no bairro. “Morávamos no Ouro Verde, só que apareceu a oportunidade de comprar e viemos morar na Eulália. Os vizinhos são bons, ninguém mexe nos pertences de ninguém, é muito tranquilo. Valeu a pena, foi a melhor escolha que fizemos, acredito que nunca mais saio daqui”, declara.

Everaldo Zandre, confeiteiro, acha o local bastante seguro e acredita que vai viver o resto da vida no bairro

Nova diretoria do bairro

Alberto de Oliveira percebeu que o Caminhos da Eulália estava deixando muito a desejar, com reclamações constantes de vizinhos sobre aspectos essenciais. Por isso, decidiu lutar para melhorar as condições. “Somos bem antigos aqui, há 18 anos, e vi o lugar crescer. A ex diretoria não vinha atuando como deveria para um bairro funcionar. No início, todos vestiram a camisa, mas depois as pessoas foram desistindo. Minha vontade é integrar os moradores e fazer uso do espaço que temos”, conta.

Márcia Villa foi uma das moradoras que resolveu se aliar a Oliveira para minimizar os problemas do lugar. “O que vamos tentar é trazer as melhorias necessárias. Queremos unir os moradores para que participem da comunidade. Estamos em busca de um posto de saúde, mais horários de ônibus, e que ele entre no bairro, assim como melhorar o salão, já que ele precisa muito”, argumenta.

Com mais 16 moradores a associação quer tornar o bairro melhor para todos. Outra preocupação é que algo aconteça com o único acesso fácil ao bairro, a rua Joaquim Toniolo, já que o segundo é mais distante e de difícil acesso. “Temos que sair na Paulina, então precisamos passar pela estrada de chão, fica bem mais longe. Já houve promessa de que teria um acesso pelo São João, mas nunca mais foi falado algo sobre”, alega.

Alberto de Oliveira e Márcia Villa assumiram há poucos meses a diretoria da Associação dos Moradores da Eulália