A área que antes era totalmente masculina, hoje em dia está abrindo espaço para elas e deixando de lado o preconceito

A barbearia, ambiente normalmente masculino e funcionários homens, atualmente abre mais espaço para mulheres que mandam bem na navalha e inovam com suas ideias fora do padrão.

Estilo alternativo é tendência

A hair stylist Maria Eduarda Cardoso Biasi, 23 anos, é um exemplo de atitude e diferencial dentro no mundo da barbearia. Atualmente a profissional realiza cortes masculinos, coloração, tratamento e está iniciando trabalhos em madeixas longas. Ela conta como iniciou na profissão. “Cortava meu cabelo há alguns anos em um estabelecimento e um dia me perguntaram se eu gostaria de aprender. Comecei na brincadeira e acabei me apaixonando. Fiz em torno de dez cursos e cinco workshops, fora todo aprendizado estando presente na barbearia”, lembra.

Seu diferencial é o cuidado em entender a necessidade do cliente, o ajudando a compreender sobre seu tipo de madeixas. “Acredito que um cabelo bem feito não é aquele que só fica bonito na barbearia, e quando chega em casa a pessoa não sabe arrumar. Ainda tenho muito a aprender, essa área é muito ampla, e me especializar em cabelos cacheados é minha meta recente”, afirma.

Maria Eduarda Cardoso Biasi aposta no cuidado com o cliente, o ajudando a entender sobre seu tipo de cabelo. Foto: Bruno Marconi

De acordo com Eduarda, por ser mulher, às vezes é mais complicado ter um espaço, devido ao preconceito. “Acontece tanto dentro, quanto fora da barbearia. No começo as pessoas ficam meio apreensivas porque, querendo ou não, ainda é um ambiente majoritariamente masculino, mas aos poucos estamos mudando isso”, salienta.

Ademais, ela ressalta que as mulheres tem uma sensibilidade e carisma que muitas vezes é necessário em ambientes masculinos. “Às vezes observamos detalhes e vemos de outra forma o que está ao nosso redor. Somos completamente capazes de fazer o que quisermos”, diz. Em Bento Gonçalves, a hair stylist ainda vê a falta de mulheres em barbearias. “Mas há muitas decididas a mudar este cenário. E tenho a certeza que vai ser comum nos ver trabalhando nestes locais”, complementa.

Conforme Eduarda, diversas vezes o cliente novo não espera que vai chegar no estabelecimento e ser atendido por uma mulher. “No final, acaba se surpreendendo. Já ouvi que somos mais atenciosas, que o toque é mais leve. Acho que alguns barbeiros homens, por ter essa coisa de ser bruto, acaba deixando atrapalhar o serviço. Por isso, acredito que eles têm muito a aprender com essas profissionais que quebram padrões e mostram que lugar de mulher é onde ela quiser”, conclui.

Um novo rumo para a profissão

A cabeleireira com especialização em design de cortes e barba masculino, Jamile Legal, 30 anos, viu o interesse na barbearia surgir através de um desafio em sala de aula. “Sou docente no Senac Bento Gonçalves no curso de cabeleireiro intensivo, uma aluna me pediu para ensinar um corte e eu senti dificuldade. Também, muitas clientes que são mães, me pediam sobre o corte masculino para o filho e o marido”, conta.

A trajetória de Jamile no mundo da beleza começou há aproximadamente três anos, quando a profissional começou a questionar o que estava fazendo em sua vida. “Comecei a trabalhar aos dez anos como manicure e aos 14 ingressei no comércio, sempre como vendedora. Passei por racismo numa empresa que trabalhei e aquilo me fez pensar se valia a pena continuar trabalhando para realizar os sonhos de outra pessoa ao invés do meu. Fiz o curso de cabeleireiro intensivo no Senac, comecei a buscar cada vez mais conhecimento, então fiz também o de barbearia”, recorda.

Em novembro, completa um ano que Jamile atende o público masculino, sempre buscando novas técnicas e melhorias. “Hoje posso entregar um atendimento completo e familiar, pois atendendo os filhos das minhas clientes desde o primeiro corte, a confiança vai se estabelecendo e uma conexão vai surgindo, levando essa criança a continuar cortando seus cabelos, fazendo a barba quando adolescentes e adultos”, ressalta.

O diferencial da profissional é o atendimento personalizado. “O horário é exclusivo do cliente, não vai ter outros me esperando terminar de atender para ser atendido e também trabalho com toda a parte de química (coloração, descoloração e progressivas)”, comenta.

Ainda no início de sua jornada na barbearia, Jamile tem ótimas expectativas de sua atuação na área. “Atuo há oito meses, mas a fome de conhecimento e a vontade de ser cada vez melhor me motiva a estudar muito. Participo de workshops, faço curso online e alguns cursos vip com profissionais que se destacam no mercado”, frisa.

Jamile Legal atende o público masculino há aproximadamente um ano, sempre buscando novas técnicas e melhorias. Foto: Cláudia Debona

Para ela, a importância de ter mulheres na barbearia é ver o segmento mudar, sair do domínio masculino, ter igualdade no mercado de trabalho e abrir portas para que outras profissionais se inspirarem e serem empreendedoras na área. “Mulher pode ser o que ela quer, ser barbeira mesmo e com certificado e não taxada por ter autonomia em dirigir. Hoje, as que trabalham no setor se destacam e estão sempre com agenda cheia. Um colega de curso me relatou que a esposa dele é a barbeira e tem mais clientes no mês. Os homens relatam que mulheres são mais detalhistas e ao barbear, a mão é mais leve e delicada”, destaca.

Além disso, Jamile realça que ter mulheres na barbearia hoje, é um diferencial no estabelecimento. “É quebrar tabus, é deixar de lado os preconceitos e lançar um novo conceito. Ainda temos que ter mais incentivos para elas buscarem se qualificar, mas vejo que tem muitas oportunidades nas barbearias. Há muito que evoluir, mas estamos no caminho. Você mulher, mãe, esposa, que quer ter sua independência financeira, trabalhar com um segmento que cresce cada vez mais, ter liberdade financeira e fazer a agenda como quiser, com certeza pense em seguir no ramo”, acrescenta.

Mulheres buscam especialização

Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC) apenas em 2020 o setor cresceu 5,8% e os serviços na área da beleza acompanham essa tendência, apresentando cada vez mais novidades. Neste cenário, torna-se notável a procura pela valorização da imagem pessoal pelo público masculino, que tem buscado cuidados com a beleza e bem-estar.
Portanto, para os profissionais da área que buscam atualização e qualificação para melhor atender os seus clientes, o Senac-RS possui o curso Cortes Masculinos e Design de Barba, aula que está cada vez mais sendo procurada pelo público feminino.

De acordo com a diretora do Senac Bento Gonçalves, Rosângela Jardim, geralmente há cerca de 20% de alunas no curso. “Grande parte delas já realizou a formação no curso de Cabeleireiro e vem realizar esse aperfeiçoamento em Barbearia”, comenta. Com isso, ela destaque que há mais espaços tanto para mulheres, quanto para homens, nas mais diversas profissões. “Certamente o ingresso delas, em áreas antes consideradas masculinas, demonstra a alta capacidade de adaptação ao mercado, além da dedicação, perfeccionismo e delicadeza, que as mesmas colocam na sua prática diária”, finaliza.