Bastante esquecido, residentes tentam investir no interior que sofre, principalmente, com estradas ruins e diminuição no número de moradores

A Linha Zemith é bastante extensa em quilômetros, entretanto, a cada dia que passa, segundo residentes, o número de moradores diminui. Muitos afirmam que a questão é a falta de valorização do trabalho agrícola. Já os residentes reivindicam melhorias, sendo a estrada a principal delas. Outro fator levantado é o lixo acumulado em um dos barrancos do local, mesmo com sinalização pedindo o contrário. Sendo assim, os próprios moradores vêm tentando melhorar a localidade.

José Mazzola, 73 anos, chegou a ir embora do interior, mas acabou voltando para a vida no campo. “Fiquei 20 anos fora daqui. Meus pais moravam e cuidavam da propriedade. Com a situação do baixo preço da uva, fui trabalhar com caminhão. Após eles falecerem, comprei as partes dos meus irmãos e resolvi ficar, já estava cansado da estrada. Mas foi bom ter vindo, gosto porque é mais sossegado, afastado da agitação da cidade e a vizinhança é boa”, conta.

Há algum tempo, foi feita uma pequena extensão de estrada pavimentada com paralelepípedos, mas a forma como foi realizada não agradou a população local. “A nossa estrada de terra não tem muito do que se queixar, mas o calçamento que fizeram não tem condições, faltou um engenheiro para pensar naquela obra. Até poucos dias passávamos dentro da água, não sabíamos o que tinha embaixo. Tem em torno de 200 metros e três quebra-molas, um ainda próximo à represa, saltaram todas as pedras”, critica.

José Mazzola demonstrou bastante descontentamento com a obra da pavimentação de paralelepípedos na Linha

Ele relatou que por alguns dias a rua ficou cheia de água, e que com o movimento de carros, o calçamento não dura. “Colocaram um aterro ruim por baixo, quando fizeram a calçada não durou muito tempo e já estava todo esburacado. Os caminhões mais pesados que passam são os da prefeitura, e não suportando o peso estraga tudo. Na frente do estacionamento de caminhões tinha feito uma represa na estrada, então a rua ficou cheia. Há pouco tempo eles abriram e a água escorreu”, alega.

Clara Gabardo é aposentada, tem 68 anos, e analisa como se dá o local onde viveu durante boa parte de sua vida. “É um lugar lindo, mas infelizmente abandonado, as pessoas sequer sabem onde fica a Linha Zemith, porque o local se tornou muito esquecido. Precisa melhorar em muitos aspectos, principalmente a questão das estradas, que é um sacrifício para virem arrumar, e outra, não faz muito que conseguimos ter acesso a água encanada. Tínhamos que pegar água lá da Leopoldina, então dava muito trabalho”, relembra.

Atualmente, mora na cidade, mas em época de colheita volta para o interior ajudar o filho que ficou. “Passei a morar na cidade e meu filho veio morar no interior. Quando eles precisam venho ajudar, como é a época da safra vim. Gosto de morar na cidade, lá tem menos trabalho e não é o sacrifício de viver na colônia”, e complementa que “muitas pessoas vão embora pela desvalorização da uva, os insumos agrícolas são muito caros, a mão de obra é cara, então não sobra muito e as pessoas acabam desistindo por falta de ajuda e incentivo”, afirma.

Lixo em local inapropriado

Há muitos anos moradores vão até o local para descarte impróprio de entulhos

Alderico Sassi mora próximo a um local onde o descarte indevido de lixo vem acontecendo há muitos anos. “Tem uma área de terra caída onde as pessoas descartam entulho, tem uma placa escrito ‘proibido jogar lixo’, mas ninguém dá bola. Descartam pedaços de telhado, e não são pessoas humildes, são pessoas de carro bom, que enchem o carro de lixo e jogam ali”, lamenta.
Ele relembra que isso é culturalmente aceito há no mínimo 60 anos. “Na década de 70 era o lixão de Bento, caminhões chegavam e simplesmente despejavam, chegou uma época que tinha até porco lá comendo os restos que as pessoas jogavam. Atualmente segue-se com este costume, mesmo havendo sinalização para não pôr o lixo lá”, critica.

Turismo que inicia

Vitório Somensi nasceu na Linha, trabalha com uvas, mas nunca havia trabalhado com vinhos, o que acabou mudando após conhecer Sandro, Jorge, Júlio e Jaime. “Somos entre quatro amigos. No ano passado cadastramos como agroindústria. Um desses amigos é enólogo, e o outro também, portanto, temos dois enólogos. Aconteceu sem querer, porque já tinha tentado com um outro vizinho que tinha um espaço, mas acabou desistindo. Aqui em casa tinha uma sala com terra, ferro, arrumei tudo para que ficasse pronto e pudéssemos fazer nosso vinho”, assegura.

Vitório Somensi, junto dos amigos, decidiu abrir um negócio na Linha Zemith para impulsionar o turismo na localidade

Ele entende que para iniciar o movimento do turismo, não basta somente que os moradores abram comércios, mas sim que o local esteja apto para receber pessoas. “Como um turista vai querer entrar com a estrada desse jeito, chega num certo ponto e vão embora, ninguém fica nessas estradas ruins. Se tivesse asfalto o turismo iria crescer, porque é próximo de Faria Lemos. Tem um peral lindíssimo, poderia ter um mirante ali, pois duvido que as pessoas não parariam para olhar”, analisa.

Comunidade faz sua parte

Rosalino Saset já é aposentado e passou a morar em Bento. Há quatro anos vive na Linha Zemith, e desde então decidiu que iria cuidar daquele local. “Estamos sempre tentando fazer o melhor para a comunidade, começamos a fazer festa, pintamos o salão, trocamos o telhado e agora estamos pintando a igreja, pois temos que cuidar da nossa comunidade e deixá-la cada dia mais bonita”, aponta.

Assim que ele chegou na cidade, passou a morar em bairro, mas logo em seguida descobriu seu amor pelo interior. “Morava no Ouro Verde e comprei uma chácara próximo daqui, prefiro morar no interior do que na cidade, lá é melhor para quem é jovem”, realça.

Saset faz sua parte, e se entristece ao ver o local que passou a gostar, precisando de tantas melhorias. “O lugar é muito bom para morar, pena que anda meio abandonado, mas estamos fazendo um movimento para que possamos ter um lugar mais desenvolvido, mas quanto antes passar asfalto melhor”, conclui.