Apesar da pandemia, procura pela bebida aumentou nos últimos meses, principalmente de forma on-line

O distanciamento social imposto pela quarentena alterou repentinamente o comportamento do consumidor, aqui falamos especialmente do de vinhos. No entanto, apesar da venda física não estar acontecendo na maioria das vinícolas – ou estar ocorrendo de forma reduzida – os números da venda on-line aumentaram, proporcionando ganhos significativos àquelas que se readequaram a este período. Outro detalhe é que já há uma retomada gradual nas lojas físicas, o que é positivo para o segmento.

O diretor superintendente da Vinícola Aurora, Hermínio Ficagna, ressalta que o setor vinha num crescente e que o primeiro trimestre surpreendeu de forma positiva, pois apresentou um aumento na comercialização dos produtos, especialmente em relação aos vinhos, algo que, segundo ele, há muitos anos não acontecia. “Porém, o que se percebeu, e talvez aí esteja o grande diferencial, é que houve, num primeiro momento, em especial no mês de março e com o início das primeiras informações sobre a pandemia, uma corrida dos consumidores as redes de supermercados para aquisição de gêneros alimentícios e consequentemente esses produtos, como os vinhos, faziam parte do pacote de compras”, pontua. No entanto, a partir da segunda quinzena de março e em especial no mês de abril, com a publicação dos decretos a nível de Brasil de isolamento social, com fechamento do comércio, bares, restaurantes e similares, já foi plenamente perceptível a diminuição do consumo. “Entretanto, maio já sinaliza uma retomada no consumo, principalmente nos vinhos – de preços básicos e médios – o que certamente, impulsionado pela onda de divulgação das mídias sociais para que o brasileiro valorize o consumo de produtos nacionais, pela qualidade e custo-benefício”, ressalta.

Vendas do e-commerce são alternativas

Por isso, em meio a esta pandemia, um dos segmentos que mais esteve em visibilidade foi o de vendas on-line. Com o isolamento social, as oportunidades de frete grátis e parcelamento de compras, as aquisições feitas pela internet terão um aumento – mesmo que os números ainda não sejam concretos. “A população preferiu a compra direta ao contato físico, sem contar a conveniência, facilidade e tranquilidade de ter o produto entregue a domicilio. Porém, ainda é difícil aferir quanto isso representa de crescimento. Entretanto, sabemos que terá um expressivo volume. Nosso grande diferencial são nossos parceiros que possuem inúmeras lojas virtuais que vendem nossos produtos e, neste sentido, nosso trabalho é estar ao lado do cliente para desenvolver estratégias em conjunto”, indica Ficagna.

Já a Vinícola Miolo, localizada no Vale dos Vinhedos, comemora um aumento de 62% nas vendas on-line durante o mês de abril, se comparado ao mesmo período do ano passado. Março, momento que iniciou o isolamento, também fechou em alta com um acréscimo de 52% sobre o mesmo mês de 2019. A marca, que atua há oito anos com loja virtual, vem intensificando ações para aumentar a representatividade do e-commerce. Segundo o responsável pelo setor, Eduardo Lapenda, o objetivo é chegar a 10% em até cinco anos. “Acreditamos que as vendas on-line deverão seguir em alta nos próximos meses. Estamos trabalhando numa nova plataforma e na oferta de kits que atendam a demanda deste consumidor que está em casa, ampliando e qualificando a experiência de cada cliente”, comenta.

Quem também percebe esse novo comportamento com relação ao canal de consumo do consumidor é a Vinícola Salton. “De um lado a queda das vendas no canal on-trade, de bares e restaurantes, e do outro o aumento, nos canais de venda on-line. Já no off-trade, o varejo em geral vem mantendo o padrão de vendas até o momento”, indica o diretor-presidente da vinícola, Maurício Salton.

Ele ainda destaca que os clientes estão tendo um ótimo desempenho nas vendas on-line. “Estimamos um crescimento em torno dos 20%, mas é difícil mensurar com exatidão, já que grande parte de nossos parceiros, principalmente as redes de varejo, são responsáveis pela sua própria distribuição em seus diferentes canais de atendimento, entre eles o on-line”, pontua Salton.

Ele também destaca que, nesse período, o vinho nacional está ganhando mais espaço perante o importado. “Em movimento inverso ao que ocorria nos últimos anos, principalmente em consequência da desvalorização cambial”, esclarece.

Consumo de forma consciente

Incentivar o consumo, de forma consciente, é o que muitas empresas estão propondo. Há alguns anos, campanhas como forma de valorizar o produto nacional estão sendo divulgadas, no intuito de fortalecer e priorizar as marcas brasileiras. “Temos de exercer nosso verdadeiro papel social, cada vez mais relevante no cenário mundial, de levar mais conhecimento e identidade sobre o vinho nacional. Sem perder de vista a necessidade de rever o portfólio dos produtos, também é importante aproveitar o momento e ficar de olho no comportamento, nos sinais do consumidor e ter agilidade para agir neste sentido”, pontua Herminio Ficagna.

A preocupação em passar para o consumidor as melhores orientações também é compartilhada pelo diretor-presidente da Vinícola Salton, Mauricio Salton. “Sempre nos preocupamos em seguir a legislação e as recomendações de órgãos como o Conar, buscando assim passar mensagens positivas ao público, de forma responsável, e incentivando sempre o consumo consciente”, finaliza.