Este não é o meu jeito. Gosto mais de brincar com a palavra do que usá-la para incursionar pelos intrincados labirintos da alma humana. Mas hoje, neste primeiro texto pós-tragédia, me permito desfraldar a tristeza.

Sim, sou econômica nesta área, uso a melancolia com parcimônia. Narrativas leves e bem-humoradas servem de contraponto aos reveses da vida, por isso a minha preferência. Mas, diante de tragédia tão grande que destroçou centenas de famílias, não há como fugir da sombra que paira sobre a Terra.

Outros sábados virão. Neste primeiro depois do ocorrido, ainda convalescemos. Aos poucos, nos reintegraremos ao cotidiano. Mas hoje, nada de abrir portas e janelas. O momento é de introspecção.

Santa Maria se encolheu. O Rio Grande do Sul, o Brasil e o Mundo se encolheram. Eu própria encolhi alguns importantes centímetros, com o peso dessa catástrofe. Estamos todos tristes, mas nada se compara ao frio sepulcral que aprisiona as famílias atingidas.

A perda é uma constante. Assim que se nasce, começa-se a perder. Perde-se o aconchego do útero, o colo, os dentes de leite, o viço da pele, a cor dos cabelos, se perdem coisas, crenças, afetos… É a lei da vida, que segue uma ordem. Mas quando a ordem se subverte, a dor se torna insuportável, e os vazios são permanentes.

A vida continuará seguindo seu curso… Outros dramas ganharão manchete e serão dissecados até à exaustão. Choraremos outras tantas vezes e depois cada um retomará seu caminho feito ora de alegrias, ora de tristezas… A dor só é definitiva para quem é esmagado por tragédias como essa.

Apurar responsabilidades? Certamente! Mas há de se ter muito cuidado, pois este é um país em que há leis demais e fiscalização de menos, tolerância demais e segurança de menos, corrupção demais e punição de menos, omissão demais e consciência de menos. “Pequenas” falhas podem causar grandes tragédias. Esta aconteceu em Santa Maria, mas poderia ter acontecido em qualquer uma das muitas casas noturnas brasileiras que operavam até agora, nas mesmas condições.