Na quarta reportagem em homenagem aos 150 anos de imigração italiana, o Semanário traz um panorama dos esportes típicos vindos da Itália

Entre corridas de carriola, arremessos de queijo e o nostálgico som do bigolaro em funcionamento, a 20ª edição da Festa Nacional do Vinho (Fenavinho) celebra mais do que a bebida símbolo da Serra Gaúcha: resgata com entusiasmo as raízes culturais dos imigrantes italianos que moldaram a identidade da região. Os Jogos Coloniais, uma das atrações mais esperadas do evento, são prova viva dessa herança.

Vanessa Torresan, integrante do comitê organizador da Fenavinho, explica que os jogos são mais do que competições — são representações fiéis de um cotidiano passado, ressignificado de forma lúdica. “Cada atividade dos jogos representa um pouco dos afazeres dos imigrantes e de seus descendentes”, afirma. Elementos como barricas, carretas de mão e o tradicional bigolaro, usados em atividades práticas do dia a dia, ganham vida nova nas disputas, sempre embaladas por risos e aplausos do público.

O fazer bígoli é uma prova que encanta todas as gerações

Entre todas as provas, uma se destaca pela fidelidade à tradição original: o fazer bígoli. “Era um afazer doméstico que foi repassado de geração em geração e continua muito presente em muitas famílias. É uma prova que também encanta as crianças porque elas veem o bígoli sendo produzido. Sem dúvida, é algo que estava presente no nosso passado, continua presente hoje e vai continuar presente ainda por várias gerações”, conta Vanessa. O bigolaro, fixado à mesa, se transforma em um elo entre passado e presente, encantando novas gerações acostumadas a tecnologias digitais.

A função dos Jogos Coloniais vai além do entretenimento: é também educativa e afetiva. Para Vanessa, eles cumprem um papel fundamental na preservação da memória cultural. “Conseguimos mostrar, com as atividades, hábitos que estavam presentes no dia a dia deles. A ‘nonna’ fazendo o bígoli para o meio-dia, a produção de queijo própria e para a venda, simbolizada na prova do arremesso de queijo, o jogo do ‘tastavin’, remetendo ao vinho que era armazenado em barricas no porão e utilizado nas refeições, o debulhar o milho, mostrando como era feito esse trabalho antigamente. Então, com tudo isso, conseguimos mostrar um pouco da lembrança das histórias e, assim, valorizá-las e preservá-las. Com tudo isso, também conseguimos conectar diferentes gerações. Às vezes, temos avôs, filhos e netos de uma mesma família participando dos jogos, porque também temos um espaço ‘kids’, pensado justamente para envolver as crianças com a cultura dos imigrantes”, salienta.

E esse resgate histórico envolve toda a comunidade. A organização é feita por uma comissão voluntária da Fenavinho, composta por moradores que se dedicam com paixão à preparação de cada detalhe, desde as parcerias até a mobilização dos participantes. “Há muita entrega da equipe em todas as etapas da preparação, desde o envolvimento para definir parcerias e a infraestrutura para receber os jogos até a sensibilização para a participação da comunidade. Tudo isso é feito com muita dedicação e paixão por tudo que representa a Fenavinho na história de Bento Gonçalves e pelo amor com que cada um cultua as tradições legadas pelos imigrantes”, destaca Vanessa.

Final dos Jogos Coloniais será neste domingo, 15

A resposta do público, especialmente das novas gerações, tem sido calorosa. “É contagiante ver como as crianças e jovens se encantam com os jogos. Para muitos, é o primeiro contato com práticas que fizeram parte da vida dos seus antepassados.” A diversão é garantida em provas como a corrida de barricas e a de carriolas, que frequentemente rendem situações inusitadas e hilárias. “Não há como não se divertir com a corrida de barricas ou com a corrida de carriola. A competição do bígoli sempre chama a atenção. Outra que causa curiosidade é a prova de debulhar o milho, algo que a geração de hoje, geralmente, não sabe o que que é”, comenta.

Apesar de não haver intercâmbio formal com comunidades italianas na Europa, a essência dessas tradições se mantém viva por meio do envolvimento local. Cada edição dos Jogos Coloniais traz novidades e histórias emocionantes. Vanessa destaca que mesmo mudanças no formato — como a etapa classificatória única deste ano — não comprometem a essência da proposta: “valorizar antigos hábitos dos imigrantes em um contexto divertido e educativo”, conclui.

Final

Os classificados para os Jogos Coloniais voltam a se enfrentar em oito modalidades amanhã, 15 de junho – quando a grande final apontará os três primeiros colocados, que repartirão R$17.600 em premiações.