Com o apoio de professores, duas turmas da escola municipal lideram projeto que visa sensibilizar moradores da região onde a instituição está inserida sobre os perigos provocados pelo acúmulo de lixo e água parada

Direção, professores e alunos junto no combate ao mosquito da dengue na EMEFE Caminhos do Aprender

A Escola Municipal de Ensino Fundamental Especial (EMEFE) Caminhos do Aprender, no bairro São Bento, deu início a um projeto de ciências voltado à conscientização da dengue. Integram a proposta, estudantes do quinto e oitavo ano, em turmas compostas, exclusivamente, por alunos deficientes auditivos. A doença, que foi responsável pelo decreto de situação de emergência no Estado, já teve confirmado 27 casos em Bento Gonçalves. Causada pelo mosquito Aedes Aegypti, conhecido por deixar suas larvas em locais com água parada, a situação eleva o grau de atenção da sociedade.

Inicialmente, a proposta consistiu na atividade de recolhimento de objetos que poderiam causar acúmulo de água no entorno do prédio onde está instalada a escola. Alunos, na faixa etária de 10 a 13 anos, retiraram do entorno garrafas de plástico, vidro, tampas e sacolas plásticas.


Proposta da atividade

A ideia inicial surgiu da indignação da professora Rosilei Machado, que ao ir para a escola, notou a presença de inúmeros pontos de transmissão, entre eles, locais com água parada. Foi então que decidiu trazer para os alunos sobre o que isso poderia causar. “A princípio, era apenas uma aula prática de Ciências sobre o mosquito. Havia trabalhado a teoria com os alunos do oitavo ano. Assistiriam vários vídeos explicativos em Libras sobre o tema. Como o mosquito se desenvolve, prevenção, sintomas, entre outros”, explica.

A professora lembra que este não era o conteúdo planejado para o ano, mas conforme ia notando a gravidade do problema no Brasil, decidiu que seria necessário levar para os alunos. “Acompanhando o noticiário e, diariamente, muitos casos sendo divulgados, mostrando o avanço da contaminação e um número considerável de mortos. Decidi, priorizar este conteúdo com meus alunos. Era necessário um momento de conscientização e colaboração de todos no combate contra a dengue. Achei que era o momento adequado para trabalhar com eles e averiguar se a comunidade estava realmente realizando medidas cabíveis para evitar ou reduzir os riscos de infecção”, pontua.

Trabalho de campo

Após a parte teórica, a professora considerou que seria interessante mostrar para eles o que isso significava na prática. “Posteriormente, havia combinado com os discentes em fazermos uma vistoria em volta da escola, para verificarmos se havia focos de criadouros do mosquito. Para os nossos alunos surdos, o aprendizado fica mais claro e eficaz, quando podem visualizar aquilo que estão aprendendo”, conta.

Emannuely Alves e Helidy de Carvalho retirando água parada de garrafas descartadas


E assim foi, com os equipamentos corretos, as turmas foram à procura de qualquer espaço que pudesse acumular água e o resultado, infelizmente, não foi outro. “Munidos de luvas e sacos de lixos, percorremos em volta da escola. Foi documentado tudo através de fotos. Num espaço tão pequeno, a coleta de resíduos foi grande e preocupante. Copos, garrafas, sacos pequenos, tampas com resíduos de água parada. O material coletado foi registrado e mais tarde, encaminhado para destinação correta”, aponta.

Rosilei compartilhou então com seus colegas, e a partir disso, a diretora Gisele Picole, entendeu que seria importante que este se tornasse o projeto da escola e que envolvesse mais alunos. “Postei no grupo dos professores o que registramos com esta varredura. Então, partiu da nossa diretora Gisele, que esta aula prática sobre o mosquito da dengue transformasse num projeto e envolvesse a outra turma de Surdos também”, relata.

A professora Andreia Abreu Leal, também encabeçou o projeto, já que coordena a turma de quinto ano. “Os alunos receberam super bem. Nas aulas de Ciências, procuro sempre mostrar muitas imagens sobre o tema estudado. Eles ficaram curiosos e bem interessados em conhecer sobre como este mosquito age, quais as consequências ele pode trazer para quem for picado por ele, e como evitar que este mosquito se prolifere”, orienta.

A direção da escola ao lado das professoras responsáveis pelo projeto nas turmas


No dia 12 de março, o projeto foi iniciado com as duas turmas. Com as proteções necessárias, as crianças foram analisar como estava sua o bairro em relação a isso. “Fizeram mais uma varredura em volta da escola para verificar se encontraríamos novamente focos de criadouros do mosquito. Para surpresa de todos, o dobro do que havíamos localizado anteriormente. Esta atividade será desenvolvida num período de três meses. Uma vez por mês, os alunos farão saídas de campo nos arredores da escola, guiados pelos professores. Vão procurar por possíveis focos de reprodução do mosquito, utilizando instrumentos simples para coleta de dados. Registros visuais e anotações serão feitas, para análises posteriores”, instrui Andreia.

A diretora Gisele e o vice diretor Rodrigo Fraga são grandes apoiadores do projeto pois acreditam que o tema debatido é bastante necessário para as crianças. “O enfrentamento da dengue não é apenas uma responsabilidade dos órgãos de saúde, mas também uma questão de educação e cidadania. Ao integrar conteúdos relacionados à saúde pública e ao combate a doenças como a dengue no currículo escolar, estamos capacitando nossas crianças e jovens a se tornarem agentes ativos na proteção da comunidade”, explica a diretora.

Fraga explica quais são os principais objetivos com este projeto. “A compreensão referente ao ciclo de vida do Aedes aegypti e sua relação com a transmissão da dengue”, diz.
Além disso, há o interesse em identificar possíveis focos de reprodução do mosquito nos arredores do educandário. “Promover ações preventivas e educativas entre os alunos e a comunidade escolar. Desenvolver habilidades de pesquisa, análise e comunicação em Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). E por fim, pretendemos divulgar nossos resultados nas redes sociais da escola e partilhar nossas ações com os vizinhos da escola e toda comunidade escolar”, realça.

Pedro Henrique Mazurkevicz sente feliz por conscientizar pessoas ao redor sobre os cuidados


Fabiane Rosa Garcia, mãe de Pedro Mazurkevicz, fala que o filho tem gostado muito da atividade, e compartilhado com todos em casa o que aprende. “O Pedro passou a ter mais atenção, observando mais onde tem água parada. É importante eles saberem para se protegerem e tomarem mais cuidado. Até porque, em 2021, o pai dele pegou a doença, e agora ele se sente muito bem cuidando da nossa rua e da casa. Diz que está nos e se protegendo”, declara.

Pedro demonstrou estar bastante animado com as atividades. “Acho muito legal estarmos fazendo a prevenção da dengue, pois é uma doença perigosa. Aprendemos a importância de se cuidar e se prevenir. A parte mais divertida que achei, foi caminhar e colocar o lixo em seu devido lugar”, diz.

Wendel de Carvalho descartando de forma correta o lixo encontrado