A medida visa conter a inflação e equilibrar o mercado
O governo anunciou a remoção de impostos sobre importação de produtos como café, carne, açúcar, milho, óleo de girassol, azeite de oliva, sardinha (limitado a 7,5 toneladas), biscoitos, óleo de palma (limitada a 150 mil toneladas) e massas. Esta decisão pode trazer impactos diretos para a população, para o setor produtivo e para a economia como um todo.

A professora e economista Monica Mattia, da Universidade de Caxias do Sul, explica que a redução de tarifas sobre produtos importados pode resultar na queda dos preços desses itens, tornando-os mais acessíveis aos consumidores. “O mecanismo é o seguinte: os produtos importados ficam mais baratos e os consumidores poderão olhar para a prateleira e escolher o mais barato (importado) ou o mais caro (nacional). Teoricamente, isso força a empresa nacional a reduzir seus preços para evitar estoques. Com preços nacionais similares aos importados, a tarifa de importação volta à normalidade, ou seja, eleva-se aos patamares anteriores à sua redução. E a comercialização nacional e o consumo voltam ao equilíbrio”, afirma.
Segundo a economista, os preços elevados dos produtos brasileiros ocorrem devido à disputa entre o consumidor nacional com os compradores de fora do Brasil. Nesse cenário, vender para o mercado externo torna-se mais vantajoso devido à taxa de câmbio. Essa combinação, associada à demanda elevada e às consequências das mudanças climáticas, aumenta o preço final.
Produção brasileira
O Brasil possui uma das taxas de juros internos mais elevadas do mundo. Segundo Monica, isso gera um impacto muito grande para o agronegócio, que precisa de financiamento para a produção do ano seguinte. “Reduzir essa taxa é imprescindível sob o ponto de vista de crédito aos produtores rurais, o que pode provocar redução nos preços. Mas o mundo seguirá comprando alimentos do Brasil, pois a taxa de câmbio elevada faz com que nossos produtos sejam muito baratos no exterior. Com a taxa nos patamares atuais, o mercado externo sempre comprará os alimentos produzidos em terras brasileiras. Os produtores nacionais de alimentos estarão sempre decidindo se vendem ao mercado externo ou para os brasileiros”, aponta a professora.
Além desses fatores, a produção de biocombustíveis, que possui como insumos alimentos como soja, milho e cana-de-açúcar, representa um aumento da demanda por grãos. Monica explica que a aquisição por grãos primários impacta também na produção de ração para animais, o que aumenta o preço da carne.
Perspectivas de longo prazo
Monica pontua que a melhor alternativa, neste momento, é a redução da taxa de importação. “Com a provável redução no preço dos alimentos no Brasil, a tarifa retornará aos patamares normais, protegendo a produção nacional e estimulando as empresas a oferecerem seus produtos ao mercado interno a preços mais equilibrados. A medida auxilia os consumidores, que poderão comprar produtos mais baratos”, explica.
Outra alternativa para conter os preços pode ser o retorno à política de estoques reguladores. Segundo a economista, o estoque controlaria a distribuição dos alimentos e, em caso de redução da produção devido a fatores climáticos, o governo disponibilizaria a safra estocada para manter o equilíbrio dos preços.
Outro fator que encarece a produção e, consequentemente, o repasse de preços é o custo do transporte. Monica aponta que é de suma importância a implantação de uma malha ferroviária eficiente, já que muito se perde nas estradas do país.
No entanto, a eficácia da redução depende de uma série de fatores, incluindo a política de juros, a demanda internacional e a infraestrutura de distribuição de alimentos no país. “Aliviar o bolso dos consumidores é uma estratégia acertada, uma vez que os brasileiros têm sofrido uma grande perda de poder aquisitivo, além de enfrentar a ‘reduflação’ e a elevação de preços”, finaliza a economista.