A notícia do governador do Estado Eduardo Leite, anunciada no sábado, 13, que levou à migração da bandeira laranja para a vermelha na região da Serra, impondo mais restrições aos serviços, pegou de surpresa não só autoridades políticas, mas também lideranças empresariais e de trabalhadores de Bento Gonçalves.

As mudanças decorrem de dois fatores: a contínua piora dos indicadores de propagação e de capacidade do sistema de saúde, e a revisão dos indicadores e pontos de corte realizada pelo estado, que tornaram o modelo mais sensível à evolução da Covid-19 e ampliou as restrições para evitar a propagação da pandemia. Em live em suas redes sociais no sábado, 13, o governador afirmou que “não é motivo para pânico, mas é um alerta de que nós precisamos reduzir essa velocidade de contágio para evitar que lá na frente haja um colapso do sistema hospitalar e, consequentemente, tenhamos dificuldade de atendimento à população”.

Foto: Arquivo / Palácio Piratini

Para rever a decisão, prefeitos e empresários de mobilizaram para pressionar o governo no intuito de reavaliar a troca de status. Em reunião online no início da noite de segunda-feira, 15, o gabinete de crise do governo de Bento discutiu se haveria revisão na cor das bandeiras. Leite apresentou os motivos para as mudanças e os prefeitos da região pediram flexibilização e ofereceram ajuda para obter mais equipamentos para atender os casos de internação.

Conforme o presidente da Associação dos Municípios da Encosta Superior da Região Nordeste (Amesne) e prefeito de Cotiporã, José Carlos Breda, a reunião foi dura e mostrou ao governo números que divergem dos levados em consideração pela equipe estadual. “Estão se agarrando nos números, como se fossem a coisa mais perfeita do mundo. Aqui (Serra Gaúcha) não é essa a realidade. Tanto é que os números estão caindo, ao contrário do que o governador afirma de que existe uma tendência de crescimento”, explica.
O prefeito de Bento Gonçalves, Guilherme Pasin, confirmou a fala de Breda e assegurou que tem convicção de que os dados são positivos. “O número de leitos de UTIs vagos também se ampliou assim como a quantidade de pacientes recuperados. E agora, durante a semana, vamos ter ainda mais leitos”, assegurou o prefeito.

Após análises de dados apresentados pelos prefeitos, em transmissão ao vivo, na tarde de terça-feira, 16, o governador Eduardo Leite anunciou que as regiões de Santa Maria e de Santo Ângelo voltam ao status de bandeira laranja, devido às novas atualizações no número de leitos e à estabilização das internações. No entanto, as regiões de Uruguaiana e da Serra se mantêm na bandeira vermelha, pois, segundo ele, “o conjunto de indicadores não é suficiente para alterar”.

O que dizem as lideranças empresariais

Centro da Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves (CIC): “Parar novamente as atividades econômicas ocasionará uma perda irreparável para toda a região. Temos embasamentos técnicos e científicos que comprovam a condição de o município se manter na bandeira laranja, em função de estarmos indo para a quarta semana consecutiva em que o número diário de curados é superior aos novos positivados. Infelizmente, essa parada fará com que a gente alcance o pior temor que temos: o caos social”, enfatizou o presidente, Rogério Capoani.

Rogério Capoani. Foto: Augusto Tomasi

Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL-BG): para o presidente, Marcos Carbone, a troca de bandeira é injusta. “Essa decisão nos causa indignação e terá consequências muito graves para o setor que já vem sofrendo abalos sequenciais desde o início da pandemia e poderá não mais se recuperar. Passamos a temer, novamente, a extinção de empresas e de postos de trabalho, agravando uma situação de crise econômica e social evidente”, comenta.

Marcos Carbone. Foto: Jeferson Soldi

Sindicato das Indústrias do Mobiliário de Bento Gonçalves (Sindmóveis): o presidente Vinicius Benini também reagiu contrário à decisão. “Todas as empresas tomaram e continuam tomando as medidas de segurança. Obviamente isso acaba impactando de forma significativa, pois o decreto estipula que seja reduzido para 50% o quadro de funcionários. Instruímos todas as empresas a adotarem o home office, turnos e demais ações para ficarem dentro desse quadro. Esperamos que possamos voltar ao normal o mais breve possível”, afirma.

Vinicius Benini. Foto: Augusto Tomasi

Sindicato do Comércio Varejista (Sindilojas): para o presidente Daniel Amadio, os critérios de avaliação do governador foram mudados na semana passada. “Temos um entendimento de que restrições são necessárias, até mesmo para evitar contaminações e aglomerações, mas não vemos como possível que as lojas estejam fechadas, porque estaremos falando de uma saúde financeira”, sublinha.

Daniel Amadio. Foto: Divulgação

Classe dos trabalhadores

Sindicato Metalmecânico (SIMMME): “Os números que vemos no município estavam controlados e a contaminação se estabilizando. Então não estaremos preparados para mudar a bandeira. A preocupação sempre é de mantermos as vidas, mas também temos que pensar em manter as vidas com qualidade. Não me parece um momento muito criterioso ou correto”, pontua o presidente Juarez Piva.

Juarez Piva. Foto: Suellen Krieger

Sindicato dos Empregados do Comércio (SEC): “A decisão do governo em fazer nova orientação para o exercício da produção nos surpreende e deixa reflexivos sobre o que deixamos de fazer ou onde perdemos o controle? Ou nos questionamos sobre a regra utilizada pelos técnicos que definem a fórmula cientifica para colocar esta ou aquela região sob um regime de distanciamento social”, afirma o diretor Financeiro, Sérgio Neves.

Sérgio Neves. Foto: Divulgação

Foto capa: Gustavo Mansur/Palácio Piratini