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O município possui 0,756 veículos por habitante, sendo 4,01 carros por família ao considerar em média quatro integrantes por unidade familiar
O município tem em circulação 93.096 veículos, de todos os tipos, marcas, modelos e anos de fabricação. O levantamento se refere até outubro deste ano, e foi revelado pelo Departamento de Trânsito (Detran) do Rio Grande do Sul. O número corresponde a 1,19% da frota em circulação no território gaúcho, de 7.766.858 veículos emplacados.
Com uma população de 123.151 pessoas, Bento Gonçalves corresponde a 1,13% do total de moradores do Estado. Desta forma, o número de veículos tem proporção um pouco menor que a população, sendo 0,756 carros por habitante ou 4,01 veículos por família, considerando uma média de quatro pessoas por grupo familiar. No Estado, a partir dos dados populacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a média da frota por habitante corresponde a 0,691, representando uma média inferior a Bento Gonçalves.
Fazem parte da frota, segundo o Detran, automóveis, motocicletas, motonetas, ciclomotores, caminhão, caminhão-trator, reboque, ônibus, micro-ônibus, tratores, utilitários e camionetes em geral.
Em relação ao ano passado, a frota registrada em Bento Gonçalves cresceu 2.249 veículos, um aumento de 2,47%. Já nos últimos 17 anos – o levantamento disponibilizado pelo Detran registra a frota desde 2007 – a evolução é de 81,75%, uma diferença de 41.876 veículos, uma vez que em 2007 o número da frota era de 51.220. O salto maior se deu justamente em 2008, de 6,63%, e o mais baixo foi em 2016, no auge da crise econômico-financeira e política do Brasil, com um aumento de apenas 1,24% na frota.

Na parte baixa do levantamento feito pelo Detran está o município de Engenho Velho, na região Norte do Estado, que tem 1.296 habitantes e 785 veículos. Na macrorregião da Serra Gaúcha, um dos municípios com uma das menores quantidades de veículos automotores é Santa Tereza, com 1.061. Isso representa média de 0,704 por habitante, levando em consideração que são 1.505 moradores, segundo o IBGE.
O que diz uma especialista
A economista e professora da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Mônica Beatriz Mattia, aponta que o crescimento da frota em Bento Gonçalves não está diretamente relacionado ao aumento populacional, mas ao estilo de vida e às mudanças econômicas. “O fator determinante do crescimento foi o número de veículos por habitante. Em 2020, havia 69 carros para cada 100 habitantes e, em 2024, esse índice subiu para 80. Analisando mais detalhadamente o modelo da frota que mais cresceu, verifica-se que veículos de passeio apresentaram uma evolução natural, em função das novas famílias constituídas por jovens. O que mais evoluiu foram os veículos tipo camioneta, ciclomotor, motos e utilitários. Excluindo as motos, cresceu muito a frota representada por veículos voltados ao lazer, já que as motos são utilizadas para tele-entrega, visto o elevado crescimento da demanda por esse tipo de serviço”, comenta.
Segundo a especialista, que atuou como co-coordenadora do Grupo Docente de assessoria à revisão do Plano Diretor de diversos municípios da região, inclusive Bento Gonçalves, a manutenção da matriz viária central é semelhante a de 1928, quando a Administração Municipal passou a cuidar. “Bento é uma das cidades mais industrializadas do RS, tem um expressivo volume de profissionais liberais com elevado poder aquisitivo, um turismo intenso que atrai ainda mais veículos de turistas que vem de todo o país e do exterior, e usufrui da mesma matriz central de ruas de 1928, na área central. Ainda há, todo atendimento médico-laboratorial-hospitalar na área central, redes nacionais de varejo, comércio local e instituições bancárias no centro, mas possui um Plano Diretor que incentiva a densificação na área central e bairros próximos ao centro impactando, ainda mais, o trânsito”, explica.
A docente faz uma previsão. “É possível que, em menos de uma década, tenhamos um trânsito quase parado: não somente nos horários escolares e de finalização do horário de trabalho (como já ocorre), mas em todos os horários do dia. Os benefícios que a cidade oferece ainda são maiores do que os problemas de mobilidade. Caso essa lógica não se inverta, a recuperação do status de cidade invejável será demorada”, frisa.
Soluções
Segundo Mônica, uma das soluções seria o uso de transporte público. “O modelo de transporte público em Bento Gonçalves permanece semelhante ao dos anos 1970, com pouca atratividade. Ônibus sem ar-condicionado e deslocamentos morosos desestimulam o uso coletivo, levando a população a optar por veículos individuais”, aponta. Ela apresenta possíveis soluções: “Uma das alternativas seria instalar um VLT – Veículo Leve sobre Trilhos, ao nível das ruas, conectando por exemplo Tuiuty/São Roque ao Santa Helena; São Roque à Linha Salgado/Villa Nova; Vale dos Vinhedos/Municipal/Glória até Osvaldo Aranha conectando com a linha norte-sul; e uma linha que conecte o centro aos bairros vinculada à linha norte-sul e leste-oeste. Evitaria pensar em abertura de túneis ou outras soluções mais impactantes para manter o atual transporte urbano baseado em ônibus, um modelo que já completou quase sete décadas e não retiraria veículos das ruas”, sugere Mônica.
A Prefeitura vem trabalhando em alternativas. “O plano de mobilidade, que é lei, prevê medidas como o alargamento de ruas e a inversão de sentidos de vias a longo prazo. Uma das ações em andamento é a construção da Perimetral Industrial, uma ligação do Zatt/Ouro Verde com a Linha Buratti e seguindo até o Salgado. Isso vai desafogar o trânsito e diminuir um trajeto de 7km para 2km. Já foi realizada a abertura da Bramante Mion e está em andamento a estrada do Zatt com Buratti”, informa o secretário de Gestão Integrada e Mobilidade Urbana, Diego Salini, que diz que o setor está realizando estudos para os desafios logísticos.
Conforme Mônica, há outros pontos a serem avaliados. “É bom reavaliar a capacidade de peso das cargas nas ruas centrais, como a 13 de Maio (que apresenta sinais de esgotamento dado seus desníveis); no contorno da Vila dos Eucaliptos (tendo em vista os desmoronamentos já ocorridos); é importante a construção, já prevista, do trevo (BR-470) no acesso ao Vale dos Vinhedos e região sul de Bento Gonçalves (Santa Marta) desviando um fluxo gigantesco de cargas em direção aos dois moinhos, e reduzindo o fluxo numa conexão perigosa que é a saída pela rua Antônio Michelon”, finaliza.