Com direção de Boca Migotto, média-metragem foi contemplado pela Lei Paulo Gustavo

O filme “O último trem”, com direção de Boca Migotto, já tem data de estreia em Bento Gonçalves, município onde foram realizadas as filmagens. A sessão especial será no dia 1º de agosto, sexta-feira, às 19h, no Movie Arte Cinemas do Shopping Center Bento Gonçalves, com entrada gratuita e aberta à comunidade. O filme de média-metragem tem classificação livre.

Atores e equipe técnica com profissionais de Porto Alegre e Bento Gonçalves, estiveram no município realizando as filmagens na Estação da Maria Fumaça e na sala de cinema do Shopping Bento. O elenco conta com os renomados e premiados atores gaúchos, Liane Venturella e Nelson Diniz, interpretando a dupla de protagonistas Macária e Augusto. Liane Venturela, iniciou sua trajetória como atriz em 1984 e atuou em mais 30 peças e 20 filmes. Nelson Diniz é ator de teatro e cinema há mais de 40 anos e já atuou em mais de sessenta filmes, entre longas e curtas. Completando o elenco e estreando no cinema, temos a bento-gonçalvense Solana Corrêa.

“O último trem” foi contemplado com recursos da Lei Complementar nº 195/2022 – Lei Paulo Gustavo, categoria média-metragem.

Filme tem duração de 30 minutos e tem classificação livre

Sobre a produção

Os trens e o cinema sempre tiveram uma relação bastante próxima. Tão próxima que fica difícil até dizer qual chegou primeiro. Tanto que a primeira exibição cinematográfica dos Irmãos Lumière, que define o nascimento dessa tecnologia, é, justamente, o filme “A chegada do trem à estação”, de 1895. Desde então, trens e filmes não mais se largaram. O cinema é luz e essa luz está associada ao movimento, como explica o diretor do filme, Boca Migotto.

O trem, por sua vez, é a própria essência do movimento. “O último trem” foi pensado a partir dessa relação, como destaca Migotto. “O cinema trouxe consigo, a ideia de movimento que já estava relacionada ao trem. As pessoas viajavam de trem, olhando pela janela, por onde a paisagem passava mais rápido do que nunca, e logo fizeram essa associação com a imagem em movimento que começou a ser exibida nas telas através do cinema. A ideia de associar o trem ao cinema envolve todas essas questões: minha infância, a importância do trem pra região, a ligação histórica entre as duas tecnologias, e, ainda, propor uma reflexão sobre o apagamento dessas duas tecnologias, que foram cruciais para o desenvolvimento do planeta até, pelo menos, o século passado”, afirma.

O diretor salienta as inspirações desde a infância, para a realização de um filme que fizesse sentido para a cidade e para a região. “Sou de Carlos Barbosa e cresci, nos anos 1980, correndo sobre os trilhos da estação. Na época ainda havia trens na cidade. De carga, mas permaneciam estacionados na estação e muito brinquei entrando e saindo dos seus vagões. Então, os trens estão no meu imaginário desde sempre. Ao mesmo tempo, sei da importância histórica dos trens para a região. E por ter realizado documentários sobre as ferrovias do RS, também pesquisei muito sobre a construção das estações que cortaram nossa região”, frisa.

Migotto, após realizar muitos curtas e tele documentários, estreou como diretor de longas em O Sal e o Açúcar (2013). Começou a se destacar nacionalmente após Filme Sobre um Bom Fim (2015), obra selecionada para o Festival É Tudo Verdade 2017. Como destaca, são em torno de 15 obras gravadas na região, sendo a maioria em Bento Gonçalves. “Filmar em Bento é sempre um prazer pra mim. Sempre sou muito bem recebido pela população, conto com apoio dos empresários, da prefeitura. É preciso que isso não se perca, pois o cinema, desde “O Quatrilho”, passando por tantos outros cineastas que filmaram na região, inclusive eu, foi importantíssimo para a consolidação do turismo na região. Foi o cinema que levou as paisagens da região para o Brasil e para o mundo. O cinema agregou valor à imagem de Bento. Foi uma propaganda relativamente barata para a região. Além de preservar a história e a memória da região, dos nossos sotaques, dos nossos hábitos, da nossa paisagem, que, aliás, vem se alterando rapidamente. É importante que isso seja percebido pelo poder público, pelos empresários e pela população. Investir no audiovisual é investir na imagem da cidade, na história da cidade, na preservação da sua memória e garantir que as futuras gerações possam ter um contato com as origens da região através do cinema, porque nós todos vamos passar, mas, se bem conservados, esses filmes todos feitos na região estarão vivos para ajudar a contar a nossa história”, pondera.

Diretor do média-metragem, Boca Migotto

Migotto conta mais sobre os simbolismos do média-metragem. “Filmar numa estação escura, à noite, com uma personagem que se chama Macária, ou seja, que estabelece uma relação dúbia com a morte, através da mitologia grega, tem a ver com essa reflexão que o média propõe, de pensar sobre a iminente morte dos trens e do cinema. Ao mesmo tempo que, esperamos, inspire as pessoas a ir ao cinema, afinal, o personagem representado pelo ator Nelson Diniz é negado até pela morte, se essa for a leitura que o espectador quiser fazer, pois existem outras: que o considera um chato, essencialmente, porque nunca foi ao cinema”, revela.

Ele aborda também a construção de diálogos e o que se espera alcançar com a mensagem. “Quando escrevemos o roteiro, (Boca Migotto e Patrícia Larentis) pensamos muito, por exemplo, numa obra que pudesse ser utilizada por professores da região, que a partir do média-metragem pudessem aprofundar a história da ferrovia na região e do próprio cinema”.

Importância das leis de incentivo

Para Migotto, os editais são fundamentais para a produção artística e cultural, pois por causa da LPG há milhares de festivais de cinema, ocorrendo em diversas cidades do Brasil. “Bento é um exemplo, o Festival Respira, que vai acontecer agora em julho, foi realizado graças ao incentivo público. Falando especificamente do nosso projeto, é autoral, poético e também filosófico, pois pretende fazer as pessoas pensarem e refletirem. Ou seja, não é apenas entretenimento. Esperamos que as pessoas possam rir de algumas piadas, mas também pensem sobre a importância dos trens para a nossa história, sobre essa relação. Como se deu a construção dos trilhos, por que passa lá na Cidade Alta e não pelo Centro. O média-metragem não traz essas respostas, mas serve como um produto auxiliar, que propõe perguntas e pode estar lado a lado com o professor de História, na escola secundarista de Bento, quando ele for falar sobre a história da nossa cidade”, reforça o diretor.

Planos futuros

O média-metragem está sendo inscrito em versão de curta em diversos festivais e mostras. “Já entrou no MOSCA, que é a Mostra Audiovisual Cambuquira, em Minas Gerais e, esperamos que entre em muitos outros. Quando os festivais permitirem a inscrição do formato média-metragem, faremos isso com a versão longa, que será exibida em Bento. O importante é fazer a história girar, as pessoas virem à estação de Bento e terem acesso ao nosso trabalho. Ainda como contrapartida para a LPG vamos visitar três escolas de Bento, exibindo o média, falando sobre a produção cinematográfica para os alunos, e sempre que houver interesse da cidade em exibir o trabalho, o média-metragem estará à disposição. Talvez entre na programação do cinema, talvez integre alguma mostra municipal, enfim, está à disposição”, frisa. A versão curta-metragem foi selecionada recentemente para a Mostra Paralela também, em São Paulo.
“A última praia do Brasil” também deve sair em breve como próximo projeto de Migotto, contando também com os atores Liane Venturella e Nelson Diniz.

Elenco

Vida, morte, passado e presente, nossas memórias sobre trilhos ou a partir da sala de cinema escura são os assuntos tratados ao longo do diálogo inusitado entre os personagens de Macária (Liane Venturella) e Augusto (Nelson Diniz).

Liane conta a parceria estabelecida com o diretor. “Eu já acompanho o trabalho do Boca, já faz um bom tempo. Assisti tudo o que o Nelson já havia feito com ele e desde a pandemia a gente se aproximou, porque o Boca filmou uma peça que nós estávamos em cartaz na época, quer dizer, não conseguiu ficar em cartaz, porque estreamos na semana que aconteceu a grande pandemia e tudo fechou. A gente fez umas duas apresentações e o Boca foi quem filmou esse trabalho, e havia uma promessa da gente fazer um longa, um documentário sobre a Companhia Incomode-te. Ali a gente ficou mais próximos e ele convidou, a gente estava esperando que algo saísse. Saiu ‘O último trem’ como incentivo à cultura e foi a primeira coisa que a gente fez juntos”, explana.

Liane Venturella faz a Macária no filme

Ela destaca a construção da personagem. “A Macária foi sendo construída pelas orientações do Boca, obviamente, e pela relação com Nelson, com quem eu já trabalho há mais de 20 anos. É muito fácil jogar com Nelson e é um tipo de fluidez que tem no relacionamento, por já trabalharmos há tanto tempo juntos. A Macária foi surgindo dessa coisa meio absurda, que é uma espécie de personificação da morte que vem buscar essa figura”, revela.

A gravação se deu em dois dias. Tendo gravações na estação da Maria Fumaça, adaptações tiveram que ser feitas. “Existe um barulho de uma máquina que não para nem durante a madrugada na estação de Bento. A gente tinha uma hora bem determinada para acabar, porque eles iam ter que ligar esse gerador. Conseguiram desligar por pouco tempo, exclusivamente, para as gravações”, pontua.

Para ela, foi uma produção maravilhosa, mas não tinha tempo para erros por causa das condições de gravação. “Cinema sempre tem um tempo um pouco mais dilatado, porque depende muito das condições ao redor. Às vezes são condições que tu não consegue determinar, elas acontecem. Espontaneidade da rua, do espaço, do dia, se está chovendo ou não, fatores externos. Ainda bem que tinha uma equipe super afinada trabalhando junto e que era o Nelson ali no outro banco comigo”, afirma.

Diniz conta como partiu o convite para participar do filme. “Eu trabalho há muito tempo com o Boca Migotto, já produzimos vários filmes e minisséries em parceria, eu como ator e o Boca como diretor. O filme está muito bem feito, em termos de fotografia, direção, roteiro, tudo. O Boca sempre me busca quando ele faz algum projeto, sendo um excelente diretor, de uma sensibilidade incrível.

Nelson Diniz interpreta Augusto na trama

Ele conta sobre a preparação do seu personagem. “O filme traz uma espécie de quebra de realismo. Ele não define época. São essas duas figuras sentadas, eu e a Liane Venturella. Durante algum tempo, discutimos várias coisas em relação ao próprio roteiro. Foi muito ensaio, muita troca. Quando a gente chegou no set, já estávamos com o filme todo na cabeça. O Boca é um diretor muito aberto para sugestões, então isso é maravilhoso para o ator, porque a gente vai criando e vai acrescentando determinadas coisas. Ele mesmo fala que quanto mais o ator se apropriar daquilo que ele está fazendo, melhor fica”, enfatiza.

Segundo ele, agora é mostrar para as pessoas. “O cinema se completa quando ele vai para o público”, conclui.

Além dos atores principais, participa do filme a bento-gonçalvense Solana Corrêa, que faz a personagem de uma gerente de cinema que aborda o personagem de Nelson Diniz, que se encontra dormindo no cinema após a sessão acabar. “Fui convidada pela produtora executiva do média-metragem Patrícia Larentis. Participar do filme foi uma experiência incrível, ainda mais se tratando de ser a primeira “mulher negra” a participar de um média-metragem em Bento Gonçalves e ser uma referência para muitas crianças com as quais eu trabalho e já trabalhei nas escolas. Penso sempre em ser uma inspiração e incentivar crianças e jovens a não perder a oportunidade de ser referência para outras pessoas e que sim… sonhar é possível e que podemos ser ‘tudo que quisermos’, sublinha.

O convite para Solana ocorreu em 2024 e as gravações ocorreram em dois dias (28 e 29 de outubro de 2024). “Em minha participação, gravei no dia 28 de manhã no shopping Bento e à noite na estação de trem”, diz.

Foi a primeira vez da atriz em um média-metragem. “Quando criança participava de teatro com o meu tio Moacir Corrêa e atuei na Paixão de Cristo, que era encenado na Praça Centenário e também na peça Os Médiuns. Cresci na arte (teatro e dança), tenho em meu currículo na literatura a coautoria do livro ‘A Matriz da Cultura Negra no Gauchismo’, reconhecimentos da Assembleia Legislativa do Estado, com o Prêmio Zumbi dos Palmares nas categorias Social e Cultural (coordenadora do Movimento Negro Raízes).

A bento-gonçalvense Solana Corrêa estreia no cinema

Solana tem muitos planos com relação a Arte e tudo que a envolve. “Penso muito no audiovisual, principalmente nos documentários, pois acredito que precisamos preservar memórias de pessoas que contribuíram e ainda contribuem para a cena artística do município. Também tenho muitos projetos a desenvolver com a música através da Banda Raízes (braço artístico do Movimento Negro Raízes) a qual sou a vocalista, na preservação do patrimônio Imaterial do Brasil que é o Samba, segmento o qual a banda realiza seus estudos e apresentações”, finaliza.

O lançamento do filme deve contar com a presença do elenco, diretor, roteiristas, entre outros profissionais. Você pode conferir a ficha técnica completa no site do Semanário.

Serviço:
O que: Estreia filme “O Último Trem”
Quando: 01 de Agosto de 2025, sexta-feira.
Onde: Movie Arte Cinema do Shopping Center Bento Gonçalves (R. Mal. Deodoro, 238 – Centro, Bento Gonçalves).
Quanto: 
Entrada Gratuita. Sessão aberta à toda comunidade.Classificação Livre. Duração 30 minutos.

Confira o Trailer de Lançamento em: https://www.youtube.com/watch?v=J0bSxKX7c-A

Mais informações no Instagram: @oultimotrem_filme

Sinopse

Numa noite qualquer Augusto chega à Estação para tomar seu trem. Augusto não gosta de viajar, nem de cinema. Para ele, bom mesmo é ficar em casa. Mas algo o levou àquela plataforma onde encontra Macária. Sentada, sozinha, na penumbra, ela parece aguardar por ele. É ela que o adverte sobre o trem que não chegará naquela noite. Inconformado e desconfiado, Augusto se senta ao lado dela e aguarda. Só pode ser uma brincadeira, afinal, lhe venderam o bilhete e, portanto, o trem deve estar chegando. Não está. E enquanto espera, ambos conversam sobre o tempo que passou. Como os trens pela plataforma, como o cinema projetado sobre as telas brancas em salas escuras, a conversa entre eles nos levará à revisitar, também, o nosso próprio passado. Mesmo que nem o tenhamos vivido.

Ficha técnica:

Direção: Boca Migotto

Roteiro: Boca Migotto e Patrícia Larentis

Elenco: Liane Venturela, Nelson Diniz e Solana Corrêa. Figuração de Arthur Larentis Tansini.

Produção Executiva: Fernanda Etzberger e Patrícia Larentis

Direção de Produção: Deise Chagas

Direção de Fotografia: Leco Petersen

Som Direto: Juan Quintáns

Desenho e Mixagem de Som: Juan Quintáns

Estúdio de Som: Convulsion Epics

Assistente de Câmera: Mavi Prado

Elétrica: Jorge Formiga

Produção de Set: Misael Castro

Figurino: Deise Ceccagno

Maquiagem: Juliana Gomes

Montagem: Eduarda Jacobs

Colorimetria e Finalização: Leco Petersen

Design Gráfico: Vinícius Rodrigues

Motorista: Rodrigo Metzler

Acessibilidade: Néftali Filmes

Audiodescritor: Bruno Krieger

Assessoria Contábil: RLago Contabilidade

Assessoria de Comunicação: Patrícia Larentis

Crédito das Fotos: Boca Migotto/Divulgação