Sob aplausos de milhares de pessoas em frente ao Santuário de Santo Antônio, no Centro de Bento Gonçalves, uma tradição secular que se repete e se renova ao longo dos anos, marcou o ponto alto dos festejos em homenagem ao padroeiro da cidade. Desde março, atividades alusivas à 139ª edição da festa foram realizadas com o objetivo de reviver as celebrações ao santo casamenteiro. Ontem, terça-feira, 13, feriado municipal, fieis se reuniram para pedir e agradecer por graças intercedidas pelo santo.

Durante 13 dias consecutivos, a comunidade se reuniu para a tradicional Trezena de Santo Antônio, com a celebração de missas temáticas, que este ano evidenciaram o tema “Peregrinos do Amor”. De acordo com o pároco do santuário, Ricardo Fontana, as noites preparatórias foram momentos para renovar a fé daqueles que buscam um alento, principalmente neste momento de crise econômica do país. “Foi uma grande contribuição a nível de fé do povo para conosco. Uma experiência recíproca de crescimento na espiritualidade, na doutrina e nos ensinamentos da nossa Igreja, que Santo Antônio tanto primou. Essa é a grande marca que fica no meu coração”, enfatiza.

Durante todo o dia, milhares de peregrinos passaram pelo santuário, a fim de rezar pedindo a intercessão de Santo Antônio. O ponto alto das celebrações ocorreu à tarde, sob céu azul e forte comoção, com a missa campal, presidida pelo bispo diocesano, Dom Alessandro Rufinelli e concelebrada por dezenas de sacerdotes.

Lançamento do gibi

Com o intuito de interagir com o público infanto-juvenil, no sábado, 10, a paróquia Santo Antônio, em parceria com o Estúdio NES lançou o gibi “Pequeninho Fernando, grande Antônio”, que retrata didaticamente a história do santo e a devoção católica em Bento Gonçalves. A narrativa do Gibi conta sobre Fernando, um garoto de 12 anos que tem problemas em sua pré-adolescência. Ele é convidado em uma tarde por sua vizinha, Vó Dita, senhora de 72 anos, para acompanhá-la até a Paróquia de Santo Antônio. Fernando não sabe que será apresentado a uma encantadora jornada de fé, vivida por Santo Antônio, que aprendeu a abrir mão de muitas coisas em nome do amor à sua pregação, operou milagres e mudou a vida de muitos em cada lugar por onde viajou. Conforme a coordenador do gibi, Janes Petroli, o material é voltado para adolescentes que vivem uma fase de dúvidas, envolvendo o jovem em seu cotidiano. “Nossa meta é alcançar este público. Contar a história de Santo Antônio de uma maneira clara e de uma linguagem mais atual. Acho que conseguimos, o material está muito interessante”, comenta.

A responsabilidade para organizar

Para o coordenador dos casais festeiros da 13ª edição da festa, João Cortês, aceitar o convite para ser um dos organizadores do evento é “uma oportunidade de trabalhar para a comunidade fazendo o bem”. Segundo Cortês, esse deve ser o sentimento de todas as pessoas que aceitam contribuir com seus dons para os diversos setores da Igreja Católica que buscam através de suas ações, atenderem determinadas situações em uma realidade específica, tendo como foco principal difundir os ensinamentos deixados por Jesus nos evangelhos. Conforme o festeiro, toda a preparação para o evento começou em 2016. “Iniciamos a preparação da festa ainda em setembro do ano passado, quando estivemos reunidos semanalmente para definirmos o planejamento, visando o que a gente iria fazer, o que esperávamos destas ações, na busca de apoiadores e voluntários, pois a festa não é somente o evento social. Temos a parte religiosa e também. Trabalhamos, praticamente por um ano para que a festa saia do papel e continue sendo uma das maiores de toda a região da Serra Gaúcha”, afirma.
Cortês ressalta que este trabalho “diante de muitas dificuldades que o Brasil vem encontrando, dos problemas éticos que carecem no país, a participação em uma festa religiosa é gratificante, pois se dissemina o bem. Termos a oportunidade em realizar boas ações, que voltam para a comunidade e a gente sente a receptividade do povo, o respeito pelas tradições de nossos antepassados é gratificante”, finaliza.

Tradição em Bento iniciou em 1878

O mês de junho traz consigo as celebrações típicas da época. Em meio as famosas comidas típicas, os verdadeiros “donos da festa” nem sempre são lembrados com a devida reverência. As comemorações, que surgiram na Europa pagã para invocar boas colheitas durante o solstício de verão, foram trazidas ao Brasil pelos colonizadores portugueses já como uma homenagem a três santos cristãos – Antônio, João e Pedro – sobre os quais o Jornal Semanário realiza a cobertura da 139ª edição da festa em honra ao santo padroeiro de Bento Gonçalves. As tradições à Santo Antônio, conhecido como o casamenteiro, mas também o padroeiro dos pobres e protetor dos enfermos, iniciaram em 1875. A partir de 1878 a comunidade já honrava o santo com a primeira festa. Desde então, católicos se reunem anualmente para pedir e agradecer pelas graças intercedidas pelo famoso santo.

Nascido em Lisboa, em Portugal, em 1195, Antônio é o padroeiro de Bento Gonçalves. Conta a história que o pão era distribuído por ele entre os pobres nos conventos. Um dia, um frade chegou para Antônio e disse que pães haviam sido roubados. Antônio mandou verificar o cesto e o frade encontrou o depósito transbordando. Por isso, durante a festa, a igreja distribui pão para os fiéis. O alimento deve ser colocado em uma vasilha com arroz ou farinha para que nunca falte no lar.

 

Milagres por intercessão do padroeiro

Santo Antônio é aclamado por conta dos milagres realizados durante sua trajetória de fé e, diariamente é invocado para auxiliar nos problemas dos fieis. O santo é conhecido como padroeiro dos apaixonados, dos pobres, aflitos e de quem precisa encontrar objetos perdidos.

Um dos episódios mais conhecidos na história de Antônio é o da mula, quando um herege questiona a presença de Jesus na Eucaristia e desafia o santo a demonstrar com um milagre a verdadeira presença de Cristo na hóstia consagrada, prometendo que se o fizesse se converteria. O santo, então, decide deixar uma mula no estábulo por alguns dias sem lhe dar de comer, anuncia que a levaria à praça, diante de todos, e que colocaria diante do animal a hóstia consagrada, e também comida. Ao chegar o dia, Antônio disse: “Em virtude e em nome do Criador que, apesar de ser indigno, tenho verdadeiramente entre as mãos, te digo, oh animal, e te ordeno aproximar-te em seguida com humildade e oferecer-lhe a devida veneração”. Imediatamente a mula baixa a cabeça e se ajoelha diante da hóstia.

Relatos de graças alcançadas também são registradas no santuário em Bento Gonçalves. É o caso de Izolda Longhi, 78, que há 40 dedica parte de sua vida à paróquia. Ela conta que em 1960, seu pai adoeceu, perdendo o movimento das pernas. Naquela época, segunda ela, havia muita dificuldade para conseguir  atendimento médico. “Certo dia, recebemos a visita dos festeiros da paróquia, que passavam todos os anos para coletar as ofertas para a festa. Quando chegaram em nossa casa, não tínhamos nada, apenas pães de forno que havíamos produzido no dia. Entregamos à eles os pães e neste momento, eu pedi à Santo Antônio que intercesse junto à Deus pela cura de meu pai. Participamos dos 13 dias de missas e, tempos depois, um amigo da família nos informou que meu pai havia voltado a caminhar, no dia 13 de junho. Foi um milgare”, acredita.

 

Outro episódio que marcou a vida de Izolda e Santo Antônio, reforçando ainda mais a fé à ele, ocorreu durante uma viagem à Israel. Tragicamente, seu cunhado faleceu durante a viagem. Imediatamente, a família foi levada ao Egito, a fim de retornar ao Brasil. Ela lembra que naquele momento, ninguém sabia falar outras línguas. “Fiquei apavorada. Meu cunhado morto e nós ali no aeroporto sem saber para onde seguir. Foi neste momento que pedi mais uma vez que Santo Antônio não me abandonasse.  De repente, tive a sensação de que uma mão fria estivesse sobre mim. Acredito que era o santo. Do nada, um senhor, morador de São Paulo, chegou para ajudar a resolvermos toda a situação. Ele nos acompanhou até o Brasil. Com certeza, ali também teve a mão de Jesus Cristo por intercessão de Santo Antônio”, afirma.

Casais escolhidos para a 140ª edição

Anualmente, seis casais da comunidade são convidados para organizarem a maior festa católica do município. Para o ano de 2018, quando ocorrerá a 140ª edição, foram escolhidos: Horácio Elbio Forni Castillo e Maria del Rosário de León de Forni, Jaime Slodkowski e Lenice do Nascimento Oliveira, Marcelo Dall´Onder Michelon e Caroline Carraro Michelon, Nilzo Frare e Maria Petronilda Frare, Rui Bellé e Simone Pegoraro Bellé, Sérgio De Toni e Marilene Tomasin De Toni. 

 

Eles foram apresentados na terça-feira, 13, durante a missa das 18h.