Jovens usuários de drogas ou com problemas psicológicos não têm local específico para atendimentos na rede de saúde
A saúde pública, seu atendimento e a falta de leitos para receber pacientes é um problema que afeta o Brasil como um todo. Esse assunto, que sempre está em debate, ganha um novo apontamento no âmbito municipal, referente a falta de estrutura e leitos para receber crianças e adolescentes usuários de drogas ou com problemas psicológicos. A constatação é do Conselho Tutelar de Bento Gonçalves.
Atualmente, a criança ou jovem que está enfrentando problemas com drogas é atendida pelos conselheiros, que a encaminham para o Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas de Bento Gonçalves (CAPS ad).
A partir disso, caso haja necessidade de desintoxicação, o adolescente é encaminhado para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) para uma análise de um médico psiquiátrico e então, será levado para o Hospital Tacchini. Porém, de acordo com a Coordenadora do Conselho Tutelar, Silvana Lima, o local não é específico para usuários de drogas. “Essa ala psiquiátrica do Tacchini não é ideal para receber crianças ou adolescentes nesta condição. Na UPA há quartos separados, mas também não são apenas destinados para o atendimento dos adolescentes, além de não terem a estrutura necessária. É, sem dúvida, um cenário bem preocupante dentro da atual conjuntura que vivemos”, aponta.
A falta de leitos para esse tipo de atendimento na rede pública e até mesmo em fazendas terapêuticas, segundo Paulo Ricardo de Souza, também conselheiro tutelar, precisa ser discutida. “Precisamos debater sobre essa situação. Na rede pública de saúde, não há leitos específicos e há uma grande dificuldade para internação em fazendas de reabilitação sem que haja ajuda do governo. Além disso, esses locais passam a ser os únicos responsáveis e muitos não querem assumir essa situação”, conta.
Sobre a internação por drogas, os conselheiros lembram que quem dará o aval é o médico psiquiátrica e, para isso, o jovem precisa passar muitas vezes em surto psicótico. O Conselho Tutelar também reivindica quartos no Tacchini, por questões relativas a tentativa de homicídio e depressão em crianças e adolescentes. Segundo Lima, em casos extremos, algumas das internações são conquistadas por via judicial. E, a partir de então, uma nova problemática social inicia. “É um processo complicado, cujo qual há uma grande luta para ser obtido. Então, o jovem foi recuperado e depois não conseguimos inserir ele, por exemplo, na escola, pelo seu histórico. Isso nos deixa muito chateados, porque foi uma vida salva e que não consegue ser recolocada no meio escolar e social”, cobra
Aumento no número de atendimentos e de denúncias
O Conselho Tutelar manteve aumento significativo no número de atendimentos e denúncias contra crianças e adolescentes nos últimos quatro meses em Bento Gonçalves.
Para Lima, a elevação da demanda tem vários motivos. “Mais pessoas oriundas de outras cidades estão chegando para buscar uma nova vida. Isso leva a mais atendimentos em todas as áreas e formas de violência (agressão física, sexual), alunos infrequentes, problemas de guardas de pais, entre outras. Também amplia o trabalho por parte dos conselheiros”, analisa.
De acordo com Souza, a demanda poderia ser ainda maior. “São poucos (os números) perto do que sabemos que é encoberto na cidade. A escola tem medo de denunciar, porque pode sair o seu nome ou da pessoa que denunciou, e no dia da audiência ela venha a ser chamada e, com isso passa a temer represarias. Isso tudo também influencia”, pondera. A média de denúncias em Bento é de 30 registros por dia.
Abusos sexuais
São 40 casos de suspeita de abuso sexual na mesa dos conselheiros tutelares. Atualmente, passa a ser abuso sexual não apenas a penetração no ato sexual, mas também passar a mão em qualquer parte do corpo da criança.De acordo com De Souza, o número de abusos sexuais cresceu. “No mínimo mais de 100% de aumento em comparação ao ano passado, o que nos deixa muito preocupados. Intensificamos o trabalho e as pessoas estão denunciando também com mais frequência”, analisa.
Agressão Física
Conforme Lima, as agressões físicas são as que mais crescem na cidade nos últimos meses. “Em todos os meus plantões atendemos algo sobre agressão. Os pais acham que educar é agredir, bater, que isso é uma punição ou repressão. Bater não é educação. O pai tem direito de educar dentro de várias formas, mas não tem direito de violenta-lo”, critica.
Em caso de violência exagerada, o Conselho Tutelar representa via judicial a família. Já na moderada, são chamados os pais para buscar um entendimento e orientação para a não repetição dos atos.
De Souza, faz uma esclarecimento com relação as agressões físicas. “O Conselho Tutelar não tira autoridade de pai e mãe. As pessoas costumam colocar a culpa em nós, dizendo que depois que veio essa lei não podem dar um tapa ou xingar que o Conselho Tutelar está em cima. Isso não existe”, destaca.
Evasão Escolar
Também é uma as maiores adversidades nos últimos anos. Apenas em 2018 foram 882 casos, contra 976 de 2017. As distorções de idade, série, gravidez, drogas, mudança de endereço dos pais e falta de vaga nas escolas são alguns dos motivos.