A necessidade de irrigação e ambiente controlado eleva os preços

A escassez de hortaliças, perceptível em feiras livres e supermercados, é reflexo da intensa seca que atinge o Rio Grande do Sul, impactando diretamente a produção agrícola e gerando prejuízos consideráveis para os produtores rurais. Além disso, o fenômeno climático vem elevando os preços desses alimentos, pressionando o orçamento dos consumidores.

Cedenir Postal, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Bento Gonçalves


O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Bento Gonçalves, Cedenir Postal, explica que os agricultores do setor acumulam perdas sucessivas devido às condições climáticas adversas que assolam o estado. “Os produtores já vinham enfrentando dificuldades com as enchentes ocorridas em maio, que provocaram alagamentos e deslizamentos em diversas regiões produtivas. Agora com a estiagem, que vem ocorrendo frequentemente, algumas hortaliças, principalmente as folhosas, como alface, rúcula, radicce e couve-flor, acabam sendo diretamente impactadas”, afirma.
Para o presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (AGAS), Antônio Cesa Longo, a cultura mais impactada é a alface, devido ao seu alto volume de produção e às deficiências estruturais enfrentadas pelos agricultores. “Em alguns casos, produtores registraram perdas superiores a 50% da produção”, destaca.
Além das condições climáticas, Postal aponta que o desestímulo à produção é outro fator que influencia a redução da oferta. “Os agricultores não estão sendo bem remunerados por seus produtos e, ao mesmo tempo, enfrentam custos elevados de produção, especialmente com energia elétrica e óleo diesel, devido à necessidade de irrigação e da construção de estufas para cultivo protegido”, explica. Ele ressalta que pequenos e médios produtores são os mais afetados, pois possuem menos estrutura para lidar com os desafios impostos pela seca.
Longo ressalta que produtores com melhor infraestrutura conseguiram obter preços mais elevados devido à escassez, mas, em contrapartida, enfrentam custos de produção significativamente mais altos. “O aumento nos custos estruturais fez com que o preço de algumas hortaliças subisse cerca de 500%, impactando diretamente o consumidor final”, observa.
Com a chegada do inverno, há expectativa de oscilação nos preços. “Hortaliças como repolho, brócolis, couve-flor, cenoura, beterraba e alface tendem a se desenvolver melhor nessa estação. Por outro lado, culturas como tomate, pimentão, berinjela, pepino e chuchu, que preferem temperaturas mais amenas, precisarão ser trazidas de regiões centrais do estado, elevando os custos de transporte e, consequentemente, o preço final”, explica Postal. Ele destaca que a dependência de outras regiões para suprir a demanda local é um fator preocupante, pois torna os preços mais voláteis devido aos custos com transporte.
O presidente da AGAS alerta que a escassez deve persistir por algumas semanas e que a estabilização dos preços não ocorrerá de forma imediata, uma vez que a recuperação da produção depende de investimentos em infraestrutura para minimizar os efeitos do calor e da falta de chuvas. “Os produtores que possuem sistemas de irrigação mais eficientes conseguiram reduzir um pouco as perdas”, observa.
Postal também critica a política de redução de impostos sobre produtos importados como alternativa para conter a alta nos preços. “Nunca vivemos um período tão difícil para a produção de hortaliças como nos últimos cinco ou seis meses. O governo deveria investir no incentivo à produção nacional, em vez de beneficiar um pequeno grupo de importadores. Fortalecer o produtor local traria melhores resultados para a população e ajudaria a reduzir o custo dos alimentos”, conclui.
Diante desse cenário, especialistas do setor agropecuário defendem políticas públicas mais eficazes para garantir a sustentabilidade da produção de hortaliças no Rio Grande do Sul. Entre as medidas defendidas estão subsídios para pequenos produtores, acesso facilitado a crédito agrícola e investimentos em tecnologias de irrigação, fundamentais para minimizar os impactos de eventos climáticos extremos e garantir a oferta de alimentos a preços mais acessíveis.