“Me deixaram sem saída”, conta Osvaldo Oliveira dos Santos, de 67 anos, que já espera há quatro anos por uma cirurgia eletiva. Essa também é a situação de cerca de 600 bento-gonçalvenses que dependem de procedimentos médicos cirúrgicos, mas que enfrentam  uma longa fila de espera. Nos  22 municípios da região são pelo menos 2 mil pacientes que aguardam por procedimentos deste gênero. 

Osvaldo relata que os adiamentos constantes vêm acompanhados de justificativas vazias. “Só dizem para eu esperar”, afirma. Para recuperar o movimento completo da perna, ele precisa colocar uma prótese no joelho, o que no jargão médico é considerado uma cirurgia de alta complexidade. “Quem vê meus exames, não acredita como ainda consigo caminhar, porque parece que o ligamento do joelho sumiu”, observa.

Os longos quatro anos foram marcados por adiamentos, remarcações e transferências. Para ele, já se tornou comum ser encaminhado de um hospital a outro. 

Em princípio, o procedimento deveria ser realizado em Farroupilha, no Hospital São Carlos. Após, foi transferido à Caxias do Sul, no Hospital Pompeia, e retornou à Farroupilha. Agora a cirurgia deve ser realizada novamente em Caxias do Sul, ainda sem data definida. “Já aconteceu de marcarem o dia e depois desmarcarem”, relata. 

O procedimento está novamente sem data estipulada e suas expectativas de ser chamado são quase inexistentes. “Acredito que o único jeito é colocar na justiça”, argumenta o paciente. 

 

Bento negocia habilitação

Nos últimos 18 meses, foram realizadas apenas 10 cirurgias de alta complexidade. De acordo com o coordenador médico da Secretaria da Saúde de Bento Gonçalves, Marco Antônio Ebert, o município possui toda a estrutura necessária para a realização dos procedimentos no Hospital Tacchini. No entanto é preciso uma habilitação do Ministério da Saúde. “Nós enxergamos com tranquilidade a capacidade de atendimento e estrutura do Tacchini”, reitera Ebert. 

A questão, de acordo com o coordenador médico, consiste em negociar com a Secretaria Estadual de Saúde e com o Ministério da Saúde a abrangência do serviço e o teto financeiro estipulado para a realização dos procedimentos.  “O Estado quer que seja mais abrangente. Nossa cautela é sobre assumir um compromisso que não vamos dar conta depois”, observa. 

Segundo Ebert, o Governo Estadual e o Ministério da Saúde querem um lugar onde se atenda toda a demanda por cirurgias de alta complexidade dos 22 muncípios da região. “O problema é que depois a conta fica para nós”, argumenta. 

Atualmente, os recursos para cirurgias de alta complexidade são repassados para o Hospital Pompeia, em Caxias do Sul. Mas a instituição não consegue cumprir a demanda da região. “Foi dado preferência por Caxias, mas lá não funciona”, afirma Ebert. 

Na opinião do secretário de Saúde de Bento Gonçalves, Enio de Paris, o Estado e a União precisam dar uma solução para a questão. “O município tem arcado financeiramente, mas o montante de recursos é limitado e o que a União disponibiliza não cobre os custos das cirurgias”, explica.

Recentemente o secretário de Saúde participou de uma audiência com representantes da pasta da Saúde do estado para deliberar sobre a questão. O município pleita que o dinheiro repassado para o Hospital Pompeia seja alocado em Bento Gonçalves, tendo em vista investir nas instalações do Tacchini e fazer com que o Hospital atenda a demanda acumulada.  A resposta do Governo Estadual deve chegar até a próxima semana, de acordo com secretário.  

 

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