Aparecimento de diversos espécimes foi registrado em bairros da cidade. Causas para o fenômeno estão sendo apuradas

Moradores de Bento Gonçalves relatam a forte incidência de aracnídeos na maioria dos bairros da cidade. Especialistas levantam que o período é propício para a proliferação desses animais, no entanto, também consideram que a questão pode estar relacionada com o acúmulo de sujeira ou com um desequilíbrio natural no ecossistema. Outra hipótese levantada dá conta do aumento da incidência de construções no município, visto que as obras invadem o espaço natural desses animais.
Circula pelas redes sociais informações de que pode haver uma infestação, sobretudo de caranguejeiras e armadeiras. A bióloga e mestra em ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Isadora Bisognin Cervo, recebeu relatos de vizinhos, que enviaram vídeos dos espécimes. “Eu encaminhei isso para um especialista, que me disse que não é comum tantas aranhas na cidade”, considera.
Após isso, Isadora resolveu criar uma publicação em uma rede social, na qual solicita que as pessoas enviem fotos e informem o bairro onde estão ocorrendo os aparecimentos. “Resolvi investigar se realmente havia tantos e utilizei o Facebook como meio, até o momento foram mais de 100 relatos em vários bairros”, analisa. Ela conta que está recebendo as espécies e pretende estudar sobre o modo de vida e a época reprodutiva. “São mais avistadas no verão e início do outono. Porém, o normal é vermos machos e em pouca quantidade. Para haver essa explosão de aranhas, houve perturbação do habitat onde vivem”, salienta.
A hipótese que Isadora trabalha é de que um grande número de aranhas pode estar aparecendo em função da diminuição de predadores ou pelo aumento de presas. “Nós queremos entender para evitar que ocorra novamente, por isso, vamos estudar o caso para chegar a uma resposta”, justifica a bióloga.

Possíveis causas

O biólogo da Secretaria do Meio Ambiente, Rafael Cripa, relata que é a primeira vez que ouve falar sobre uma possível incidência desse tipo de animal. Ele conta que no ano passado ocorreu um problema com escorpiões exóticos, que foram provavelmente trazidos por transportadoras e se adaptaram ao habitat da região. “Eles encontraram um ambiente propício para se reproduzir”, comenta. Como não havia registros anteriores de problemas semelhantes com aranhas, Cripa afirma que não há dados disponíveis para embasar um estudo.
Ele ainda aconselha evitar o acúmulo de táboas de madeira e semelhantes em lugares expostos à umidade, uma vez que o ambiente se torna propício para a reprodução desses aracanídeos. “Sempre que possível, é bom dar uma organizada ou uma arejada”, afirma.
O biólogo também levanta a hipótese da utilização de agrotóxicos que podem ocasionar a morte de algum predador natural. “Isso pode fazer com que elas apareçam mais”, observa. Ele frisa para não matar os animais, mas tentar colocá-los ainda vivos fora de casa. “É bem importante limpar os forros, as pessoas costumam não visitar esses lugares e esquecem”, alerta.
De acordo com o fiscal da Associação Riograndense de Proteção aos Animais (Arpa), Jorge Acco, o principal problema que ocasiona o aparecimento de aracnídeos é a sujeira. “O melhor controle que tem é a limpeza dentro e ao redor das casas, dos prédios. Quando se guarda muitos materiais acaba se criando um habitat que facilita a criação desses animais”, observa.
Segundo ele, a forma correta de lidar com os aracnídeos é chamar pessoas experientes na área, sobretudo porque os venenos podem dar origem a soros. “Pode ter a questão do desequilíbrio ambiental, mas o principal fator é manter limpo ao redor das residências e dos prédios”, comenta.

Ocorrência natural

Embora de aparência assustadora, a caranguejeira não causa problemas para os seres humanos, de forma geral, exceto pelas suas cerdas que podem ocasionar alergias e irritações na pele. Já a armadeira pode ser uma ameaça, uma vez que ocasiona acidentes e consegue se projetar por longas distâncias. Isso é o que afirma o zoólogo e professor da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Wilson Sampaio de Azevedo Filho.
De acordo com o professor, não há motivos para acreditar em uma infestação. Ele considera que o aumento no número de construções na cidade fez com que os seres humanos invadissem os espaços desses aracnídeos. “Elas tendem a se deslocar e acabam parando nas casas, mas não vejo um aumento no número de aranhas. A fêmea, depois que está copulada, fica mais fixa. Pode ser algo assim”, argumenta.
Além disso, ele aponta as características positivas das aranhas. A caranguejeira, por exemplo, consegue controlar a população de roedores e insetos nas residências. Ele comenta também que outras espécies auxiliam no controle de praga nos pomares ou vinhedos. “A maioria dessas aranhas não causam acidentes. Elas estão lá pegando insetos”, argumenta.