Regulamentado como Lei no Brasil há um ano e meio, método terapêutico utiliza cavalos no desenvolvimento de pessoas com deficiência como o Transtorno de Espectro Autista
Quem tem ou já teve algum bicho de estimação sabe que conviver com animais pode trazer diversos benefícios à saúde. Ainda pouco conhecida pelo público em geral, a equoterapia é um importante método de tratamento para pessoas com deficiência, por meio do uso de cavalos.
Em Bento Gonçalves, Liane Durli Bianchi atua há mais de dez anos na condução de cavalos para a prática da técnica, na Cabanha Bianchi. Ela, junto a outros profissionais da saúde – com formação pela Associação Nacional de Equoterapia (ANDE) –, atualmente direcionam o trabalho com duas crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA).
A terapeuta ocupacional Yasmine Sfredo Rizzardo pontua que o objetivo é proporcionar ao praticante — termo que designa a pessoa em atividade equoterápica — o maior nível de independência e autonomia em suas ocupações por intermédio do cavalo. “São caracterizadas como práticas nas quais os indivíduos se engajam diariamente: atividades e instrumentais de vida diária, educação, trabalho, brincar, lazer, descanso, sono e participação social”, sublinha.
Estudos atuais têm demonstrado que o autismo é causado por vários fatores e depende de componentes genéticos e ambientais. “A prática de equoterapia da criança com Transtorno do Espectro Autista, além de sua função cinesioterápica, contribui na melhora da coordenação motora, estimulação sensorial (tátil, vestibular, visual, olfativa, propriocepção, auditiva e gustativo), aumento da autoestima e da autoconfiança, melhora no desenvolvimento neuropsicomotor, percepção do meio externo, ajuste tônico-postural e melhora na comunicação. Aspectos esses que dificultam a socialização desse público”, reitera Yasmine. De acordo com a profissional, não há limite de idade nem de grau de intensidade da condição.
A fonoaudióloga Alexandra Pimentel Sfredo afirma que o cavalo é utilizado como um recurso terapêutico para a organização dos estímulos sensoriais. “O movimento tridimensional, a textura, temperatura e a conexão do animal com a criança trazem benefícios como melhora na comunicação, da atenção compartilhada e na interação social, além de organização espaço-temporal e controle e equilíbrio do sistema vestibular”, destaca.
De forma geral, o público da equoterapia são pessoas com alguma disfunção mental, sensitiva ou motora, que apresentam problemas de movimento, na postura ou até mesmo no comportamento visceral.
Como funciona
A prática de equoterapia se dá sobre o cavalo em movimento, precedida por algumas sessões de reconhecimento do animal. Montado no cavalo, o praticante começa a ter em seus músculos os mesmos estímulos que usaria para andar. Isso acontece porque, quando o animal realiza movimentos, esses são transmitidos para a pessoa montada, gerando um mecanismo de resposta. E, apesar de serem feitos rapidamente, o cérebro humano ainda consegue captá-los e processá-los.
Da mesma forma, é preciso que o praticante mantenha o equilíbrio sobre a cela, forçando uma postura mais correta. “É importante ressaltar que a pessoa precisa ter uma avaliação médica para saber se está apta a praticar a equoterapia”, pontua Liane.
Na prática
A auxiliar de educação infantil Lizandra Mikoaski Colao Melo é mãe do Julio, 12 anos, que aos três foi diagnosticado com Transtorno Global de Desenvolvimento (TGD), como era chamado o TEA. “Foi um choque, pois ninguém espera”, pontua a mãe.
Julio iniciou com a prática no Serviço de Atendimento Psicossocial – CAPS II, mas hoje segue com o método na Cabanha Bianchi. Lizandra considera o desenvolvimento do filho tanto à equoterapia quanto aos demais tratamentos que já vinha fazendo. “Ele ama fazer equoterapia. A gente nota que fica mais calmo e tranquilo”, ressalta.
Foto capa: Franciele Zanon