Em 31 de março de 2020, Bento Gonçalves registrava o primeiro óbito em decorrência do coronavírus. 365 dias depois, o maior número de atendimentos na estrutura hospitalar
Em um ano desde a primeira morte, registrada em 31 de março de 2020, a Covid-19 já abreviou 220 histórias em Bento Gonçalves. Vidas que, em uma pandemia, muitas vezes se confundiam, se cruzavam, se conheciam – e que até o momento do adeus, coexistiram. Bento é o 17º município com o maior número de mortes causadas pela Covid-19 no estado.
Gabrielle Manzoni, 21 anos, representa, nesta reportagem, famílias, amigos ou conhecidos que passaram ou ainda passam pelo luto. Ela perdeu o avô, Valter Manzoni, 71 anos, no dia 14 deste mês. Praticamente criada pelos avós, a relação com eles era próxima e afetiva.
A jovem conta que o sofrimento durou “apenas sete dias”. A avó foi quem apresentou os primeiros sintomas da doença. “Meu avô a levou no domingo de manhã (dia 7) no Pronto Atendimento do São Roque. Aproveitou que estava lá e consultou, pois estava sentindo um cansaço incomum. Nessa consulta, o médico deu o kit Covid, o teste para fazer durante a semana, e também solicitou um raio-X do pulmão. À tarde, meu namorado o levou na UPA para fazer a radiografia, só que nesse meio tempo ele apresentou muita falta de ar”, relata.
Como forma de prevenção, o médico decidiu interná-lo e o colocá-lo no oxigênio para não debilitar o pulmão. “Ficamos preocupados, claro, mas não achávamos que fosse algo muito extenso. O médico relatou que ele tinha água no órgão, já causada pela Covid, mas que deveria apresentar uma melhora na terça ou quarta-feira. Porém, na segunda mesmo ele só piorou, a dificuldade ficou maior, o nível de oxigênio estava no máximo e não deu mais conta. O médico nos ligou para avisar que iriam entubá-lo. Não foi de emergência, mas algo preparado, meu avô estava ciente”, pondera a neta.
Gabrielle menciona que foram dias bem difíceis. Na sexta-feira, a família recebeu a informação que o caso tinha se agravado, com a falência dos rins. Ele aguardava por um leito desde quarta, segundo a neta, a equipe até então conseguia mantê-lo estável só com a ventilação. No sábado, o idoso conseguiu o leito no Tacchini. “Senti como se fosse uma esperança que tudo iria melhorar. Tinha conseguido. Para nós, era um sinal de Deus de que iria dar tudo certo”, lembra.
A informação médica de que a chance de falecimento era grande desmoronou a família, entretanto, para a jovem, “a única coisa que me passou na cabeça foi que Deus era maior que tudo e podia salvar ele”, destaca. Às 10h30min de domingo, somado ao vírus, Manzoni teve uma parada cardíaca e a falência de todos os órgãos. Infelizmente, não tomou a vacina contra a Covid-19, liberada para aplicação na sexta-feira passada, 26. “Não é uma gripe simples, é algo fatal e a perda rápida dói”, afirma a jovem.
Gabrielle, o namorado e a avó Casturina também contraíram o vírus de forma agressiva. Hoje passam pelo tratamento pós-Covid e tentam voltar à saúde normal.
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Explosão de mortes em março
A morte de Valter Manzoni engrossa um dado aterrorizante. O mês de março em Bento Gonçalves, assim como no Rio Grande do Sul, chega ao pico da pandemia, passando de julho do ano passado, quando registrou 45 mortes.
O avanço fica mais evidente na comparação mês a mês. Em 30 dias de março, 47 pessoas morreram no município, mais que quadriplicou todo o mês de fevereiro. A diretora de divisão hospitalar do Tacchini Sistema de Saúde, Roberta Pozza, esclarece que “o aumento no número de atendimento de fevereiro e março praticamente duplicou. Em comparação com o maior pico, em julho, hoje temos o dobro de pacientes sendo atendidos na estrutura hospitalar. Com um número maior, naturalmente acaba tendo mais casos críticos e um risco maior da doença evoluir para óbito. A taxa de letalidade em leitos de UTI fica em 25%”, sublinha.
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Óbitos mês a mês
- Abril 2020: 2
- Maio: 11
- Junho: 13
- Julho: 45
- Agosto: 25
- Setembro: 12
- Outubro: 5
- Novembro: 5
- Dezembro: 17
- Janeiro: 17
- Fevereiro: 11
- Março 2021: 47