Pode isso, Arnaldo?

Se Bento é a cidade do estado mais preparada para a Copa do Mundo, como afirmou o narrador esportivo da RBS Pedro Ernesto Denardin esta semana em um lauto jantar no CIC de Bento, então é mesmo preciso acender o sinal de alerta. Se Bento fosse uma ilha, tudo certo, poderíamos nos regozijar debaixo dos parreirais por nossa capacidade de acolher turistas, profissionais de diversas especialidades e mesmo seleções de futebol. Mas afirmar isso sem levar em conta a extrema carência estrutural que cerca a ilha da fantasia soa como frase para agradar gregos e troianos, o que diz-se ser tarefa mui difícil. No entorno, não há estradas em condições, transporte coletivo de qualidade e em oferta suficiente, sequer um aeroporto para atender a demanda, sem falar em questões mais específicas, como um comezinho (para o dito primeiro mundo, claro) sinal de internet em banda larga (alguém aí já ouviu falar do 4G?). Isso sem contar as mazelas municipais.

Mesmo assim, há oportunidades, como bem narrou Pedro Ernesto a uma plateia acolhedora. Temos uma rede hoteleira com quase três mil leitos de fazer inveja à Suíça, uma farta gastronomia, um certo ar europeu, conforto e elegância e, claro, vinhos e espumantes da mais alta casta, para ficar no senso comum. Pedro Ernesto está certo, há oportunidades. As elencadas pelo radialista e outras, mais estratégicas e, portanto, não externadas ao público, como fazer como a Suíça Wegis na mais recente preparação brasileira e meter a mão no bolso. Por que não? Se a intenção do município for mesmo trazer uma seleção que arraste multidões à cidade, será preciso debater custo e benefício. Já imaginou a cidade cheia de mexicanos? Ou japoneses? Dificilmente virão só porque a cidade é bordada de parreirais. Será preciso investir para lucrar com a Copa.

Pedro Ernesto encantou no CIC, ficou à vontade, fez merchandising (o seu e o da empresa que representa), arrancou risadas e conversas paralelas, agradou o patrocinador e cumpriu com louvor a agenda, simpático e popular. Os dados apresentados, o fenômeno Michel Teló, a dança do Neymar e a garrafa de refrigerante na mão de David Beckham, assim como a sugestão para investimentos nas fanfest – em inglês, of course – foram recebidos generosamente. Mas o prato principal ficou para depois da sobremesa: o homem de 10 copas disse, ao final do bate-papo, que, com algum esforço, poderia trazer o fenômeno para Bento. Taí. Como diria outro narrador global, que, aliás, tem negócios por aqui e mais identidade com as cascatas reais donde jorram vinhos borbulhantes: É Ronaldinhoooooo! Tá valendo, ou melhor: pode isso, Arnaldo?

Em destaque

Além desses pontos estruturais, há algo que Bento Gonçalves tem como diferencial e que atrai muitas seleções estrangeiras: o clima europeu. Os times de futebol da Europa preferem o frio a climas nordestinos Pedro Ernesto Denardin, narrador esportivo, ao afirmar que a cidade está um passo à frente para receber uma seleção na Copa do Mundo.

Lobby

Chama a atenção que o estudo de viabilidade técnica para a revitalização do trem regional não aborde também as necessidades regionais do modal para o transporte de cargas. Ora, até os buracos da RSC-470 sabem que as indústrias da Serra perdem competitividade também porque o transporte rodoviário não oferece as melhores condições. Lobby dos transportadores? Será preciso mobilizar para a audiência de maio, e trazer o assunto à tona.

Segredo de Justiça

Nas últimas semanas, um assunto ganhou certa repercussão na imprensa por conta de um e-mail sem identificação que, no final das contas, queria exatamente isso que estou fazendo agora: dar ao assunto novo espaço nas rádios e jornais. Trata-se de denúncias sobre a suposta existência de “dízimo” na câmara de vereadores na legislação anterior, e é preciso restituir a verdade sobre a onda de boatos que ameaça ganhar as ruas e, ao mesmo tempo em que desinforma a população, tenta criar uma descabida animosidade entre a opinião pública e o Ministério Público e o Judiciário.

As denúncias são reais, atingem diversos vereadores e variados partidos, e estão sim sendo investigadas pelo Ministério Público, que já ouviu uma série de testemunhas e está ainda na fase de coleta de provas. Na próxima semana, o MP deve ouvir uma testemunha chave para a investigação, revelou o promotor Alécio Nogueira. Quanto ao silêncio da imprensa, em grande parte é exigido pelo famigerado trâmite judiciário do segredo de justiça, que tanto protege inocentes e auxilia as investigações quanto, em algumas oportunidades, pode acobertar envolvidos. Mas também a imprensa precisa fazer mea culpa pela carência de investigação e, claro, dividir responsabilidades com os próprios denunciantes, que não falam à imprensa por um justificado temor da exposição.

EMPREGO EM ALTA

Desde o início do ano, a indústria bento-gonçalvense demonstra um fôlego para contratar que sinaliza para uma recuperação do período ruim registrado ano passado. Em março, este sinal ficou mais forte: o setor industrial foi o que apresentou o maior crescimento na geração de emprego na cidade. A indústria registrou 55 novas vagas de trabalho com carteira assinada. Em 12 meses, o município apresenta um crescimento de cerca de 4,5% nos empregos formais.

Ponto

  • Há quem esteja preocupado: hoje, o Tacchini realiza 80% de seus atendimentos pelo SUS, que, se sabe, não repassa nem os custos dos materiais para os hospitais do sistema.
  • O peso da conta já se pode sentir na perda de qualidade do material utilizado, até mesmo em cirurgias.
  • Hoje, o hospital utiliza artigos made in China, e há médicos solicitando descredenciamento.
  • Se houve ou não dinheiro da prefeitura para a Globo na disputa do quadro do programa domingueiro, são outros 500.
  • Se a repercussão positiva da exposição da cidade à audiência nacional será percebida, mais outros.
  • Tudo isso perde um pouco da relevância diante da participação entusiasmada da população, que dançou como que para resgatar a autoestima da cidade.
  • Mesmo aqueles que, como este escriba, não se alinham às fileiras da tietagem global, isso sim merece aplausos, ô meu.
  • Esta semana, o governo gaúcho assinou o convênio entre o Fundo de Desenvolvimento da Vitivinicultura (Fundovitis) e o Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) que possibilita a aplicação de recursos estimados em R$ 10 milhões.
  • As verbas serão utilizadas para a execução do plano de trabalho do Programa de Desenvolvimento e Ordenamento da Cadeia Produtiva da Uva, do Vinho e seus derivados.
  • O acordo pretende dar continuidade, ordenar e organizar os elos da cadeia produtiva vitivinícola e promover o seu desenvolvimento sustentável.