“Quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração?”
 Esse é o primeiro verso de “Eduardo e Mônica”, escrito pelo eterno Renato Russo, sobre um casal com características tão diferentes que as possibilidades de dar certo, na vida real, seriam mínimas.

Para compor a música, o letrista afirmou ter se inspirado no comportamento de jovens brasilienses – “meninas espertas de mentes abertas e carinhas que a gente se amarra.” Só que a história de Eduardo e Mônica transcende os limites geográficos, etários e cronológicos. O casal reside em muitos espaços, pode ter qualquer idade e independe de questões históricas. Duvidam? Então vamos a um exemplo:

O Eduardo daqui tem horários rígidos no seu cotidiano. Deita pontualmente às onze horas, no escurinho do quarto, sem nenhum ruído para atrapalhar. Já Mônica só consegue pegar no sono depois da meia-noite, com a TV ligada, que age em seu córtex cerebral desligando-o.

 Eduardo levanta cedo e percorre todos os aposentos para abrir as janelas. “Ventilar é preciso”, garante. Mônica sai da cama lá pelas nove e meia da matina, e a primeira providência é acabar com o ciclone que se formou dentro de casa.

Quando Eduardo vai pra churrasqueira, é com grande orgulho que exibe sua competência, inclusive de lavar tudo o que suja – geralmente, uma faca e uma espátula – mesmo que isso signifique comer o grelhado frio. Já Mônica não esquenta com a mesa cheia de pratos e talheres. Joga tudo num panelão com água e sabão, e seja o que Deus quiser.

A felicidade de Eduardo extravasa em músicas que chegam aos ouvidos em mais de 100 decibéis. A irritação de Mônica transborda em menos de 50 decibéis.

Eduardo adora filmes de ação e histórias de narcotraficantes baseadas em fatos reais. Mônica curte suspense e mistério, com finais surpreendentes sequer imaginados.

Eduardo tem paixão por futebol. Em dia de jogo, prega os olhos na tela, em estado de plenitude. Ou baixa ao inferno, dependendo do placar. Mônica é incapaz de gostar dessa gente supervalorizada que cospe em campo e faz “nana neném” depois do gol.  

Eduardo sente muito frio na vertical, e calor, na horizontal. Dorme de cueca, e os pés ficam de fora das cobertas para esfriarem. Mônica sente calor na vertical e muito frio na horizontal. Dorme de pijama e meias de lã.

Eduardo é Yang (dia) e Mônica, Yin (noite). Mas “quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração? E quem irá dizer que não existe razão?”