Alessandro Cortese visita Bento Gonçalves para participar de eventos como Wine South America e inauguração da Rota dos Capitéis
Em entrevista exclusiva, o diplomata delineou a importância estratégica da região para a promoção dos vinhos italianos e abordou a delicada questão da revisão das leis de cidadania italiana, atualmente em debate no parlamento de seu país.

Questionado sobre o propósito econômico de sua visita ao Rio Grande do Sul, especialmente em relação ao setor vinícola, o embaixador Cortese foi enfático: “A motivação econômica é muito importante para essa visita. É uma visita de coração pela Serra Gaúcha, mas, ao mesmo tempo, a economia é importante porque a Feira Wine South America, que é uma, provavelmente a maior da América do Sul, tem uma presença enorme de vinícolas italianas e, naturalmente, é muito bem representada das vinícolas locais”.
O embaixador ressaltou a intrínseca ligação entre a cultura do vinho local e a herança italiana. Nesse contexto, ele vislumbra um futuro promissor para as trocas comerciais. “É muito importante de apresentar os vinhos italianos em uma região onde o conhecimento sobre a bebida é muito alta, que todo mundo conhece, e uma região, onde muito da cultura do vinho vem da Itália, resulta em muitas perspectivas de trocas entre os países, entre Itália e Rio Grande do Sul”.
A perspectiva de facilitação do comércio com a possível concretização do Acordo União Europeia-Mercosul também foi levantada pelo embaixador. “Acho que se a famosa Acordo União Europeia Mercosul, acontecer, e vai acontecer, com certeza vai facilitar muito, para os dois lados. Permitindo para os gaúchos beber mais vinho italiano, mas para os italianos também conhecerem o vinho dessa região, que realmente, e eu já bebi muitos vinhos, são de uma qualidade excelente”, reconhece Cortese.
Também foi abordada a questão da recente discussão sobre a alteração das regras para a concessão de cidadania italiana, limitando o direito apenas a netos de italianos. O embaixador Cortese enfatizou a natureza ainda provisória da medida. “É muito difícil comentar uma coisa que ainda não existe, nesses dias, tem uma discussão muito importante no Parlamento Italiano, na qual estão debatendo todos os aspectos dessa lei”, afirma.

O diplomata relatou a participação de representantes da comunidade ítalo-brasileira no debate. “Eu vi pessoalmente algumas discussões de membros do TGE, dos comitês, não somente brasileiros, bem como australianos, que explicam quais são os problemas que essa lei apresenta. Acho que o Parlamento Italiano começa com o Senado agora, depois vai passar a Câmara de Deputados, mas tem que terminar tudo pelo final deste mês. Acho que vai mudar um pouco, mas ainda não posso comentar muito”, afirma.
O embaixador buscou contextualizar a discussão, mencionando a necessidade de alinhamento com as normas de outros países e o grande volume de pedidos. “O que posso dizer é que, com certeza, em alguns países, o número de pessoas que poderiam pedir a cidadania é tão grande que foi preciso alinhar a normativa de cidadania italiana com aquela de todos os outros países do mundo. Porque com todas essas gerações, porque 50 anos atrás, agora é quatro gerações. Agora somos 8, 9, 10 gerações, o que significa que há pirâmide, então é tudo muito complicado”, afirma.
Ele também apontou para a sobrecarga administrativa gerada pelo grande número de solicitações. “E um problema que posso dizer é que,o problema surgiu na Itália porque alguns tribunais, alguns municípios foram completamente sufocados, porque o número é muito grande”. Apesar da discussão em curso, o embaixador tranquilizou aqueles que já iniciaram o processo. “O que eu quero dizer é que a exigência está aí, não é uma coisa para penalizar, ao contrário, porque todas as pessoas que já apresentaram as documentações antes do 28 de março vai ser analisado na base da lei”, afirmou de forma tranquilizadora.
Em tom pessoal, o embaixador expressou seu pesar diante da situação. “Como eu digo, é uma lei que, para mim, pessoalmente, é triste, mas tenho que reconhecer que não é uma fantasia, temos que ver como pode ser estruturada de uma maneira mais satisfatória para o governo italiano e brasileiro”, refletiu sobre a situação.
Contudo, ele reafirmou o compromisso da Itália com seus descendentes. “A coisa muito importante é que a Itália está perto de seus filhos. O fato que muda a lei sobre a cidadania não significa que eles sejam esquecidos, ao contrário, porque continuamos, cada ano, cada mês, a ter novos cidadãos italianos”, concluiu carinhosamente.