Resido próximo da estação rodoviária. A campainha da porta da casa chama duas ou três vezes por dia e quase todas as vezes é de acionada por pedintes que lhes falta alguns reais para completar o preço de uma passagem de volta para onde dizem ter vindo.

Passo diariamente pela estação rodoviária, a caminho de casa. É só fechar o sinal verde que tem algum pedinte batendo na janela do carro com aquele sorriso de “me ajuda aí, cara”.

Vou para a missa no sábado e antes de entrar na igreja tem um pedinte fora da porta, com a mão estendida, pedindo uma caridade.
Passo na sinaleira do centro, ou noutra qualquer, e lá está um rapaz pintado de alumínio fazendo malabarismos de circo para em seguida correr para as janelas dos carros e juntar uns trocos que se lhes dá por caridade ou em pagamento pelo espetáculo.

Gente: a crise está demais!

Se entro na igreja sem dar uma esmola me sinto um mau cristão por não praticar a caridade. Se não ajudo o rapaz a inteirar a compra de sua passagem fico imaginando seus filhos esperando o regresso ao lar. Se não dou dinheiro para o rapaz que aprendeu a jogar bolinhas com tanta perfeição parece que estou condenando um artista. Se não dou uns trocos para quem pede parece que o pedinte vai passar fome. Tudo isto está me fazendo mal.

Uma reflexão: se doar dinheiro para todos que pedem pode até não faltar dinheiro na “guaiaca” mas estarei estimulando a vagabundagem. E se realmente for uma necessidade?

Pensei até em imprimir uns cartões com a frase: “procure a assistência social em `tal´ endereço”. O cara, com certeza, vai me mandar para um lugar que ninguém gostaria de ir.

Algumas vezes já me coloquei, em pensamento, no lugar daquele que veio pedir a esmola. Imaginei se fosse um de meus filhos naquela situação. Acabei dando a esmola. Será que errei? Fiz com boa intenção mas posso estar prejudicando mais do que ajudando.

Ouvi alguns comentários de cidadãos:

  • “Se existe tanto pedinte em Bento é por falta de uma política social do município”.
  • “Não dou dinheiro para ninguém. Pago meus impostos e ajudo na coleta da igreja”.
  • “Que procurem nos locais de assistência que eles darão um jeito”.
  • “ Que se f…!”

    Gente: é uma questão de humanidade e um problema social. É nosso problema, mesmo que não tenhamos contribuído diretamente para que isto acontecesse.

    Ou fazemos alguma coisa ou tende a se agravar com o crescimento da cidade. Localidades pequenas do interior não tem mendigos.

    Por enquanto, na situação atual, rezo a Deus para que não endureça meu coração. É melhor ajudar, nem que seja com uma palavra amiga, do que virar as costas. Amém!