Conforme o levantamento semestral do Hospital Tacchini, de janeiro a junho, a cidade teve 47 doações, número que quase igualou o registrado em todo o último ano, quando foram captados 52 órgãos
Um dos atos mais nobres de altruísmo, a doação de órgãos, pode ser medido em números positivos na Capital do Vinho. Segundo o levantamento semestral da Comissão Intra-hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTT) do Hospital Tacchini, o número de doadores do primeiro semestre de 2019 (47), foi quase igual ao total de todo o ano de 2018 (52). Quando comparado somente com o mesmo período do ano passado, o aumento percentual de doações chega a 67%.
Outro dado que pode ilustrar o sentimento de solidariedade por parte da população bento-gonçalvense diz respeito ao índice doações realizadas em relação ao número de óbitos com potencial para doação. Com uma taxa de 53%, é a primeira vez em quatro anos que um semestre finaliza com mais da metade de efetividade.
Negativa familiar impede números melhores
Se a fila de mais de 44 mil brasileiros que esperam por algum tipo de órgão pode dar a impressão de que ainda faltam doadores, os estudos, porém, revelam que a intenção de ser doador é muito maior do que o número real de doações.
De acordo com a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), o maior empecilho é a negativa familiar. Em 2018, 43% das famílias se recusaram a doar os órgãos de seus parentes após a morte encefálica comprovada. Os dados do Ministério da Saúde mostram que das 6476 entrevistas para autorização de doação, houve 2176 negativas.
Realidade que conforme a enfermeira do CIHDOTT do Hospital Tacchini, Ana Maria Turmina, também se reflete em Bento Gonçalves. “O grande problema é o desconhecimento da família sobre a vontade do doador”, assinala.
Um dificultador mais específico na Capital do Vinho é a falta de infraestrutura do aeroclube, que faz com que os corpos demorem a ser entregues às famílias, o que ocasiona desistências. “O aeroclube só permite pousos entre as 9h e as 18h, então perdemos doações por isso também. É um momento de angústia para as famílias e nem sempre eles conseguem aguardar”, destaca.
De acordo com o levantamento do Tacchini, somados o desejo do corpo íntegro para o sepultamento, o desconhecimento do desejo do potencial doador e o receio na entrega do corpo, as negativas por parte dos familiares correspondem a metade de todos os casos de potenciais doações que acabam não sendo efetuadas. Convicções religiosas e a negativa dos próprios potenciais doadores, em vida, somam 25%.
Cidades vizinhas
Há cerca de três meses, o Hospital São Pedro de Garibaldi comemorou a 40ª captação de córnea, em três anos. Neste ano, até o momento, foram oito doações. O procedimento é realizado por uma equipe do Banco de Olhos do Hospital Pompéia, que destina os tecidos a quem precisa, seguindo lista única determinada pela Central de Transplantes do Estado, em Porto Alegre.
Segundo o Banco de Olhos, que também atende Farroupilha, o Hospital Beneficente São Carlos, por sua vez, captou 10 córneas até o momento.
Já Garibaldi, conta desde setembro com o credenciamento para o transplante de córnea. Em outubro, o hospital realizou a primeira operação, beneficiando o agricultor Carlos Antônio Rech, que mora no interior de Caxias do Sul
A importância de se declarar doador
Diante de todas as vidas que deixam de ser salvas, devido a não ciência dos familiares sobre a vontade do doador, a comunicação, como destaca Ana, é crucial. “O que precisa para doar é deixar a família informada de sua decisão. São os familiares que vão autorizar ou não a captação dos órgãos”, pontua.
Embora a legislação brasileira não tenha tópicos que tratem do assunto, uma das ferramentas para solucionar o problema é o Projeto Doar é Legal do Poder Judiciário. Por meio de cadastro virtual, a pessoa que desejar manifestar sua vontade de ser doador ganha a expedição de uma certidão sem validade jurídica que atesta sua vontade para familiares e amigos. Para participar basta acessar o site doarelegal.tjrs.jus.br.
