Além de cantar e gostar de viajar, aos 82 anos, dona Zulmira acorda cedo e vai para a academia treinar todos os dias, virando inspiração e exemplo para os colegas de turma
As ruas estão vazias e tranquilas e o sol apenas despontando, quando Zulmira Rizzi Orso sai de casa e caminha pelas ruas do Bairro Planalto. Às 06h30, todos os dias, já está na porta da academia esperando para começar os exercícios de rotina, junto à primeira turma. Se a disposição é característica em comum que compartilha com os colegas, o que admira e incentiva todos ao redor e, chama a atenção dos novatos, é a energia que tem aos 82 anos.
Muito embora costumasse passear vez ou outra pelo bairro nos tempos em que trabalhava como costureira, o gosto pelos exercícios e a busca por manter um estilo de vida saudável começou já na aposentaria, numa idade em que muitos já deixaram até de se manter ativos. “Faz 13 anos que faço aqui, mas fiz sete anos no SESC, comecei com 62. Nem era gosto por esporte nem nada, eu queria ter saúde e me movimentar, aí fui fazendo e me acostumei. No começo ia três vezes por semana, agora são todos os dias”, comenta.
“Dona Zulmira é inspiração para todo mundo aqui”
A fala da colega de academia, Aliane Bauce, 41, sintetiza, de modo geral, a forma com que Zulmira se tornou referência de vida para todos na academia, de amigos até os instrutores. Além de dificilmente faltar, e de ser uma das primeiras pessoas a treinar, a idade também não parece ser empecilho na forma de encarar os treinamentos.
Conforme Elizandra Favero, uma das instrutoras da academia, mais do que se surpreender com a disposição de Zulmira, destaca a intensidade das atividades. “Fazemos aulas dinâmicas, algumas mais funcionais, outras de carga, buscando sempre o fortalecimento muscular. Além de peso, ela também faz esteira e bicicleta, sempre topa tudo, quer sempre aprender algo novo”, destaca. Os treinos normalmente vão de 1h a 1h30, começando com 20 minutos de aeróbica, 30 minutos de trabalho muscular de membros superiores, e por fim alongamento.
“Dona Zulmira é inspiração para todo mundo aqui. Ela é a alegria de nossas manhãs, acordamos cedo e sabemos que ela está aqui, e que a gente vai vir para rir, conviver com ela e receber um abraço”, Aliane Bauce, 41, colega de Zulmira na academia
Segundo Zulmira, os comentários acerca do seu treinamento vão além dos incentivos dos treinadores, chamando a atenção das novas pessoas que a conhecem quando começam a ir na academia. “Outro dia um homem disse: senhora, não acredito que você levanta todo esse peso, eu mesmo não consigo”, relembra. Segundo ela, a força vem do treino e qualquer pessoa pode conseguir também. “Muitos dizem que querem chegar na minha idade e estar assim, mas para isso tem que continuar, não pode começar e parar. É só treinar que se consegue, tem que ter persistência”, realça.
Além da academia, Zulmira destaca ainda que para se manter bem física e mentalmente, tem inúmeros cuidados. Quanto ao corpo, conta que tem uma dieta regrada. “Não como gordura e nem açúcar, a comida tem que ser saudável, frutas verduras e legumes”, assinala; já no que diz respeito à mente, lembra que, em paralelo, a malhação, sempre fez outras atividades, além de gostar de sair com os amigos.
Já chegou a estudar italiano por um tempo, e hoje canta no coral, com o qual faz apresentações nos fins de semana, e inclusive, já se apresentou fora do país. “Há 13 anos participo do coral Tacchini, fazemos apresentações em cidades aqui perto. Outra vez, viajamos 15 dias para a Itália com apresentações do coral, e as pessoas lá mesmo falaram que a gente só aguentava a viagem por causa da academia. A gente levantava cedo, caminhava bastante, queria conhecer tudo”, conta.
Saúde que vem de família
Entre os colegas e amigos que há anos participam com Zulmira da turma do primeiro horário na academia e se inspiram em sua força de vontade, uma pessoa se destaca, sua filha, Silvana Orso. Conforme conta, embora não morem juntas, a rotina de exercícios que compartilham vem de longa data e parece ser de família, afinal, o pai, que era três anos mais velho que Zulmira, é que incentivou a mãe a começar a academia. “O pai trabalhava todo dia e noite e quando se aposentou queria uma atividade para não ficar entediado. Aí começou a fazer academia e coral, e depois a mãe foi junto. Os dois iam de carro ao SESC, faziam uma hora e pouco de exercício e voltavam.”, recorda.
Para Zulmira, além do acompanhamento da filha, a parceria com os amigos da academia é o maior incentivo para seguir malhando. “A academia me faz sentir bem, tenho a saúde em controle, e amo as amizades também. A gente conversa, sai juntos, todo mundo é parceiro. Quando chego, todo mundo vem me abraçar”, conta.