Quem circula pela área central de Bento Gonçalves, certamente já deve ter passado em frente ao Edifício Villaggio Di Mônaco. O prédio abriga 205 apartamentos e aproximadamente 800 moradores. À título de comparação, o menor município do Rio Grande do Sul, Engenho Velho, tem uma população estimada em 982 habitantes. Ou seja, administrar tal condomínio é quase como cuidar da população inteira de uma cidade gaúcha. Esse desafio diário está sob o controle do zelador Jocelito Martins de Souza, 45 anos.

A tarefa dele e de todos os outros profissionais que atuam nesse ramo, seja cuidando de prédios, escolas, universidades, hospitais, empresas ou demais instituições públicas ou privadas, carrega grandes responsabilidades. Por isso, anualmente, em 11 de fevereiro celebra-se o Dia do Zelador.

Para chegar no cargo atual, Souza percorreu um caminho. Começou atuando na portaria, conhecendo, aos poucos, a rotina dos moradores. Depois, foi entendendo sobre a segurança do condomínio. Como se mostrou um excelente profissional, evoluiu. “Fui indicado para zelador pelo gerente da nossa empresa”, orgulha-se. Já são dois anos trabalhando nessa função.

Jocelito é zelador de um edifício onde residem cerca de 800 pessoas

A rotina de Souza inicia bem cedo. Às 7h30 ele já está no Vilaggio di Mônaco, uniformizado e sorridente, dando bom dia para todos os moradores que circulam pelo local. Ao meio dia faz uma pausa de duas horas, para almoçar e descansar. Entretanto, não raras as vezes, tem o momento interrompido para resolver alguma demanda urgente. “Hoje temos a tecnologia do celular, então, consigo, mesmo na minha hora de folga, auxiliar os colegas e moradores em alguma emergência”, conta. O expediente é encerrado às 17h30, quando então, chega a vez de ir zelar pela própria casa.

Para o profissional, a situação mais complicada que enfrentou foi quando a pandemia surgiu, já que exigiu cuidar com ainda mais atenção do comportamento dos 800 moradores. “No começo foi um pouquinho estressante, até o pessoal se habituar que não pode circular sem máscara, que os contaminados tinham que ficar isolados, então o cuidado foi dobrado”, salienta.

Dois anos depois, Souza já notou diferença no comportamento dos moradores. “O pessoal já se acostumou. Inclusive, até colaboram. Quando alguém testa positivo, nos informam e perguntam quais são os procedimentos do condomínio para que possamos agir. Como zelador, auxilio no isolamento deles. Temos que ter cuidado na retirada do lixo, na entrega das encomendas, dos mantimentos, então, ajudo nessa parte”, relata.

Sobre a profissão que exerce diariamente, apesar dos desafios e contratempos que precisa resolver, Souza conta que o que mais gosta é a possibilidade de interagir e auxiliar as pessoas que precisam.

“Tio Nilson”

Nilson trabalha no Edifício Morada do Vale, no bairro Maria Goretti

Nilson Felix Pedroso de Oliveira, 63 anos, carinhosamente chamado de “tio Nilson” por algumas crianças, descobriu o gosto pelo trabalho que exerce atualmente, por acaso, quando cobriu as férias de um zelador. “Naquele tempo, acredito que fiz bem o meu serviço, os moradores começaram a pedir para que eu ficasse, foram conversar com o sindico e com a empresa para eu continuar. E aqui estou, há sete anos”, orgulha-se.

Oliveira trabalha no Edifício Morada do Vale, no bairro Maria Goretti. Lá, cerca de 500 pessoas residem nos 190 apartamentos. “Nem sempre é fácil (administrar tantos moradores), mas procuro tratar todos da mesma forma, porque as regras são as mesmas para todos”, pontua.

Embora não tenha muita entrada e saída de inquilinos, um dos maiores desafios que enfrenta é passar as normas do condomínio para os novos. “Alguns acham que é muita regra. Mas dessa maneira convivemos todos bem e sem muitos problemas”, garante.

Entretanto, a situação mais difícil que costuma lidar é quando os moradores querem entrar com algum móvel fora do período permitido. “Temos horários para mudanças, para receber entregas e para subir para os apartamentos com os itens que compram. No almoço ou depois das 18h não pode subir com sofá, colchão, essas coisas. Às vezes, as pessoas não entendem que são as regras e se permito alguma exceção, fica complicado administrar depois”, explica.

Ainda assim, Oliveira avalia o condomínio como um local tranquilo. As queixas que precisa resolver não são complexas. “Sempre tem o vizinho que reclama do barulho do outro, do cachorro que late, da criança que chora. Algumas vezes tem algum morador novo que erra a vaga da garagem, mas tudo se resolve”, defende.

Sobre a profissão, o que mais gosta é de ter contato com as pessoas e de perceber que é bem tratado, além de acompanhar de perto as mudanças na vida dos moradores ao longo dos anos. “Vi muitas moradoras gravidas, as crianças crescendo e agora vejo elas brincando no parquinho do condomínio, me chamando de tio Nilson”, finaliza.

Responsável por um conjunto comercial

Daniel é zelador de um Conjunto Comercial

Daniel Siqueira Costa, 44 anos, começou a atuar como zelador quando o irmão abriu uma empresa na área de portaria e zeladoria. “Então resolvi mudar de profissão e como sempre gostei de lidar com pessoas, encarei esse desafio”, relata.

Costa trabalha no Conjunto Comercial Cainelli, no Centro da cidade. O espaço abriga 32 salas, onde atuam médicos, advogados, sindicatos e profissionais da área da beleza. “Ser zelador de um conjunto comercial é um pouco diferente de um residencial, mas é muito bom, porque convivo com gente todas as classes da sociedade”, afirma.

Costa acredita que tentar entender cada uma das pessoas com quem convive diariamente é um dos desafios. “Os maiores problemas, muitas vezes, são com quem tem mais idade, que tem pouca informação, que não tem muito acesso às redes sociais, mas é muito gratificante poder ajudar e dialogar com quem tem mais experiência de vida”, garante.

Apaixonado pela profissão, o Zelador destaca que por meio do trabalho aprende algo diferente todos os dias. Entretanto, o que mais gosta é a possibilidade de conviver com quem integra a Associação dos Deficientes Visuais de Bento Gonçalves (ADVGB), que fica no conjunto. “Elas passam uma energia muito boa, são incríveis, sempre felizes, isso é muito bom para o meu dia a dia. É um incentivo de vida para todos nós”, finaliza.