Violoncelista Shayanne Zorzin Franceschini, gaiteiro Samuel Francesco Pedrotti e guitarrista Brenda Ribeiro, crescem na música a cada dia, sempre em busca do reconhecimento profissional
Na terça-feira, 22 de novembro, foi comemorado o Dia do Músico, em homenagem aos artistas que interpretam melodias e harmonias que encantam a humanidade há milhares de anos. A data é celebrada no mesmo dia de Santa Cecília, padroeira dos músicos, e bastante reconhecida pelos católicos no Brasil.
Notas clássicas
As vibrações das quatro cordas e os timbres únicos do violoncelo de Shayanne Zorzin Franceschini, 23 anos, chegam aos ouvidos de forma harmoniosa. A jovem é estudante da escola da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa), integrante da Ospa Jovem e da Orquestra de Câmara de Bento Gonçalves, além de ser professora no Instituto Tarcísio Michelon, na Fundação Casa das Artes e em colégio na cidade de Teutônia.
A violoncelista conta que sua primeira experiência com a música foi cantando no coro da escola onde estudava. “Tinha seis anos e me inscrevi na oficina de canto, porque eu simplesmente adorava conhecer coisas novas e achei que seria divertido cantar”, recorda.
Tudo começou a mudar quando, aos 13, Shayanne teve a oportunidade de aprender a tocar instrumento em um projeto social que oferecia aulas gratuitas para crianças e adolescentes. “Foi nesse momento que eu fiquei encantada com o som do violoncelo e senti um chamado forte vindo dele. Então, comecei a fazer aulas, também treinando teoria musical e prática de orquestra. Fui entrando no mundo das artes aos poucos, até que me vi fazendo aquilo. Senti que era uma parte de mim e entendi que não me imaginava mais sendo outra coisa. Tocar cello foi passando de um hobby para algo necessário na minha vida”, declara.
A jovem estuda música clássica e de concerto, revelando que existem muitos desafios e obstáculos a enfrentar em todos os estilos. “O que acontece é que, às vezes, a cultura de determinadas regiões faz com que e área artística seja vista como algo muito informal e pouco profissional, o que, por sua vez, contribui para a desvalorização do serviço. Assim, juntamente com a falta de conhecimento sobre a área, diminui-se o reconhecimento da profissão”, lamenta.
Depois que começou a estudar violoncelo, ela conheceu grandes nomes da música de concerto, que ainda a inspiram muito. “Gosto muito de Jacqueline du Pré, Mstislav Rostropovich, Mischa Maisky, Aldo Parisot, Antônio Meneses, Guilhermina Suggia, Sol Gabetta e Yo-Yo Ma”, diz.
Com isso, Shayanne frisa a importância de se dedicar ao instrumento. “Uma musicista que almeja se tornar profissional, que é o meu caso, precisa de quatro a seis horas diárias de estudo, pois esse tempo de prática é fundamental para o desenvolvimento da técnica, que possibilita o crescimento musical. Este é o momento que procuro dedicar por dia, mas nem sempre é o que consigo fazer, pois além de estudar, dou aulas e toco em duas orquestras, o que me consome bastante tempo”, justifica.
A jovem recorda uma apresentação oficial da Ospa, em que teve a honra de participar, em outubro de 2021. “Estive ao lado do meu atual professor, Rodrigo Alquati, sob regência da maestra Érica Hindrikson. Foi uma sensação incrível participar dos ensaios e do concerto. Estar naquela rotina durante uma semana, ao lado de musicistas que admiro, se tornou uma das melhores recordações que tenho com o violoncelo”, admira.
Seu maior sonho, no momento, é ser musicista profissional. Aos que possuem uma ambição tão importante quanto a dela, Shayanne deixa algumas palavras “É um caminho árduo, cheio de desafios que exigem sacrifícios. Mas quando nos mantemos firmes no nosso propósito e fazemos as coisas com amor, a recompensa é a realização”, conclui.
Um professor dedicado
O músico e professor, Samuel Francesco Pedrotti, 22 anos, é formado em Licenciatura em Música pela Universidade de Caxias do Sul (UCS). Como muitos profissionais da área, o interesse dele surgiu por hobby. “O gosto apareceu desde criança, mas nunca imaginei que seguiria neste caminho, pois via somente como uma fuga do dia a dia”, afirma.
O rapaz começou sua jornada com aulas de violão, logo após, entrou para os Pequenos Cantores de Bento, coral que estava sendo reconhecido naquela época. “Com isso, durante meu ensino médio, dei aulas no Colégio Scalabriniano Medianeira e, posteriormente, iniciei a graduação em Música”,m recorda. Atualmente, Pedrotti se apresenta na Maria Fumaça e dá aulas de musicalização infantil em escolas do município.
Ao tocar música tradicionalista, canções da cultura italiana, MPB e pop rock em sua gaita e violão, Pedrotti sempre lembra de seus pais, suas maiores inspirações. “Estiveram ao meu lado em todos os momentos, essas influências materna e paterna fizeram tudo para eu me tornar um ótimo profissional. É a família que nos molda. Se o jovem não tem uma base, a grande maioria terá dificuldade para evoluir. Tenho sorte de ter tido o apoio necessário para crescer fazendo o que gosto”, agradece.
O rock é feminino
A guitarrista Brenda Ribeiro, 29 anos, conta que o interesse pela música vem desde criança. “Passava horas vendo videoclipes e fazendo milhares de perguntas sobre o assunto em casa, até que a guitarra chamou minha atenção”, lembra. Desde aquela época, era seu sonho estar nos palcos tocando um instrumento. “Por um tempo pude realizar, até dar uma pausa de alguns anos, logo voltando e me dedicando de uma forma diferente”, revela.
Sua primeira conexão concreta com a música aconteceu em 2001, quando ganhou a primeira guitarra e pediu aos pais para dar início às aulas. “No começo, pensei que não duraria tanto, ou que logo desistiria, mas quanto mais aprendia algo novo, mais queria ser melhor nisso todos os dias” ressalta.
Os desafios de quem se aventura nessa área é constante, a busca por reconhecimento e espaço segue ativa. “Na parte das pessoas reconhecerem, é um pouco difícil. A indústria musical é um pouco fechada para alguns estilos no Brasil, mas ser músico em si, é um prazer enorme. Essa arte proporciona momentos e sentimentos incríveis que nunca teria vivido ou sentido, se não fosse minha guitarra”, menciona.
Os estilos de música que Brenda toca variam, às vezes, mas sempre dentro do rock, metal e blues. “Uma das minhas primeiras e maiores influências foi o grande Jimi Hendrix, logo depois surgindo Ritchie Blackmore, Jimmy Page, B.B King, Stevie Ray Vaughan, Slash, Kirk Hammett, entre outros”, comenta.
Uma lembrança saudosa que a artista viveu aconteceu em 2010, durante uma apresentação em um pub da cidade. “Tenho uma recordação, talvez a mais divertida, que foi um show da minha antiga banda, Skult. O sentimento foi incrível, estava com meus amigos, tocando músicas que gostava e dando muitas risadas”, fala.
Sua maior ambição é incentivar o maior número de pessoas possível a praticar música e ter momentos bons com essa arte. “Desde que descobri que tocar guitarra pode agradar a mim e não somente os outros, consegui demonstrar mais amor pelo instrumento e pelas oportunidades que ele me proporciona”, expressa.
De acordo com Brenda, a família foi extremamente importante para seu crescimento musical. “Agradeço às pessoas que estiveram comigo nisso desde o início, e ainda estão sempre que preciso, ao meu pai João Carlos, minha mãe Maria, meu irmão João Gabriel e meu antigo professor, que sempre me salva quando tenho dúvidas até hoje, Felipe Taborda”, valoriza. A todos que querem entrar na arte da música, ela deixa um recado. “Apenas não desista quando algo ficar difícil, a sensação de conquista após aprender algo recompensa muito, pratique e seja curioso, busque sempre coisas novas para se dedicar”, completa.