No dia 12 de maio é comemorado o Dia Mundial do Enfermeiro. O profissional que executa diversas funções, em ambientes públicos e privados, e tem como principal atribuição o acolhimento e o cuidado de pacientes.

A enfermeira Gislaine Grapiglia é graduada pela Universidade Feevale, com MBA em Gestão Hospitalar. Ela conta que o desejo de seguir na profissão surgiu por influência de sua mãe, que é técnica de enfermagem. “Ela, através de suas vivências diárias, me aproximou da área da saúde. Sempre desejei ser enfermeira, o ato de cuidar do outro, de estar próximo e oferecer o meu melhor sempre foi e continua sendo meu propósito de vida. Me sinto realizada”, relata.

Foto: Alexandre Brusa

Dos 14 anos de formação, ela se dedica há 13 para a área hospitalar. Iniciou sua trajetória  no Hospital São Roque, de Carlos Barbosa, que na época já fazia parte do Tacchini Sistema de Saúde, e após um ano foi transferida para o Hospital Tacchini. Gislaine relata que o pedido de transferência veio pelo entendimento de que haveria oportunidade de crescimento. “Iniciei no pronto socorro, onde permaneci por oito meses, e logo fui transferida para a oncologia. Fui convidada para estruturar o serviço de radioterapia, que na época era algo muito desejado e esperado pela comunidade. O convite veio porque sempre, desde a graduação, deixei transparecer a minha afinidade com pacientes oncológicos. Meus estágios, toda vez que era possível, realizava em unidades voltadas a esse público, e meu trabalho de conclusão também foi nessa área”, assinala.

Em 2015, ela assumiu a gestão do Instituto do Câncer do Hospital Tacchini. “Recebi mais esse desafio, juntamente com o médico radio-oncologista Dr. Fernando Obst, e que permanece como meu parceiro até hoje”, aponta. Para ela, esse foi um momento importante em sua carreira. “A oportunidade de estruturar o serviço de radioterapia foi algo muito marcante, pois consegui organizar dentro de um modelo assistencial humanizado e seguro, do qual me orgulho. Poucos enfermeiros têm esta oportunidade em sua carreira profissional, geralmente quando iniciamos em alguma unidade ela já está em funcionamento, começar do zero é uma experiência única”, acrescenta.

Segundo ela, os desafios diários dentro de um serviço de oncologia são gigantes e dinâmicos. “Como o trabalho da equipe multidisciplinar em entregar com agilidade os inícios de tratamentos, sabemos que cada etapa da jornada do paciente exige muitos recursos, nos preocupamos com a sua assistência e a de sua família, que é uma extensão do nosso cuidado, e manter a sustentabilidade de um serviço de alto custo como o nosso, é desafiador”, salienta Gislaine.

Para a enfermeira, os prazeres estão nas pequenas conquistas de cada paciente. “É uma batida do sino para festejar o término de um tratamento de radioterapia, é uma comemoração da equipe com o paciente que finalizou mais um término de ciclo de quimioterapia, é conseguir adiantar a data de uma cirurgia que alguém estava aguardando, é antecipar uma consulta médica para uma pessoa que necessitava naquele momento e com certeza compartilhar com a equipe do serviço as nossas vitórias”, frisa Gislaine.

Como parte da profissão, ela conta que lidar com a vida e a morte, lado a lado, é algo difícil. “É doído, mas o que me ajuda diariamente é a empatia. O colocar-se no lugar do outro faz com que eu faça parte daquele momento do paciente e da sua família, muitas vezes não precisam de palavras, apenas que o profissional esteja disposto a ouvir”, observa.

Questionada sobre sua motivação diária, ela expõe: “é saber que vou dar o meu melhor e fazer a diferença na vida de alguma pessoa ou de uma família”, finaliza.

Um leque de oportunidades

A enfermeira Loremari Sberse, 49 anos, relata que a ambição de trabalhar na área começou desde cedo. “Aos 17 anos fiz o curso de auxiliar de enfermagem, hoje nem existe mais essa formação, que era uma forma de entrar no mercado de trabalho. Na época, já gostava da enfermagem, mas não foi decididamente que entrei na graduação, porque ingressei na faculdade aos 27 anos. Transitei por alguns cursos da saúde, achava que ia ser dentista, psicóloga, veterinária e fui tentando. Mas quando decidi que ia ser enfermagem, fiz o vestibular, passei e adorei a minha profissão. Desde o primeiro dia percebi que estava na área certa, que tinha me entendido como profissional e achado meu caminho”, conta.

Graduada há 22 anos pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a trajetória profissional de Loremari passou por diversas áreas de atuação. “Durante esses 22 anos eu transitei por vários lugares e tive a felicidade de ter experenciado as diferentes oportunidades que a graduação de enfermagem nos dá”, afirma.

Foto: Laura Kirchhof

Em nível hospitalar, sua carreira iniciou em Porto Alegre, depois trabalhou em alguns municípios como enfermeira concursada. “Meu primeiro desafio e o que foi um dos mais difíceis, logo formada, foi trabalhar em um município pequeno, sozinha. Me concursei em Boa Vista do Sul e era a única enfermeira, então tinha que dar conta de todos os trabalhos, desde a assistência direta ao paciente, como as questões administrativas, como a gestão de uma Secretaria de Saúde. Em um ano que fiquei ali, foi uma escola importante pra minha vida”, relembra.

Segundo ela, essa experiência abriu portas para a sua primeira especialização, que foi em Sanitarismo e Saúde Pública. “Ali eu desenhei o meu caminho, de que eu seria uma enfermeira de saúde pública e por conta disso trabalharia em municípios. A partir disso, trabalhei em Monte Belo do Sul, Caxias do Sul e retornei para Bento Gonçalves em 2004, quando teve o concurso, e nesse meio tempo já tinha mais duas especialidades que era em Obstetrícia e em Saúde da Família”, menciona.

Depois de alguns anos na atenção básica, em 2007, Loremari começou a dar aulas para os cursos de graduação na Faculdade Cenecista e na Universidade de Caxias do Sul. “Que foi um caminho distinto, outra possibilidade que os enfermeiros têm, de atuar com ensino e com educação, foi muito gratificante os anos que trabalhei com isso”, realça.

Em 2008 ela ingressou no mestrado de Epidemiologia pela UFRGS, o que acabou a direcionando para a Coordenação da Atenção Básica na Secretaria Municipal de Saúde de Bento. “Foi um desafio importante e muito prazeroso, de colocar as diretrizes da atenção básica para dentro do serviço, de organizar os eixos. Trabalhei nessa função por vários anos e foi muito gratificante”, aponta.

Em 2019, a profissional conta que sua vida teve uma reviravolta, ao resolver trabalhar com estética. “Era uma área que era mais voltada para alguns outros cursos, como a biomedicina. Em algum momento olho para isso e acho interessante, porque quando a gente é enfermeiro e é de saúde pública, estamos acostumados a trabalhar com o público, e na enfermagem estética vamos trabalhar com o privado e com um outro olhar: não mais com o olhar da doença e da recuperação, e sim com o da beleza. Entendendo também que a beleza, a estética, não só é uma questão externa, também é interna, porque isso traz a autoestima, a autoimagem das pessoas, elas podem estar prejudicando também o psicológico e então podemos ajudar nesse sentido”, reitera.

Em 2019, a profissional realizou uma especialização em ‘Enfermagem estética’ e ‘Ozonioterapia’. “Atender o paciente é muito prazeroso, a gente só tem que escolher onde queremos atendê-lo, mas a resposta dele é muito satisfatória. Quando vemos um resultado me focando mais na ozonioterapia e, a cada sessão que a gente faz, ele tem menos dor, isso nos motiva. Porque existe a profissão, existe o ganho financeiro, isso é bem importante, mas temos o prazer de ter a resposta do paciente, que é a melhora dele”, destaca.

Para ela, o enfermeiro possui muitos caminhos. “Ele é um profissional polivalente, quando talvez no passado a gente achasse que não tinha um corpo de trabalho específico nosso, a não ser o cuidado direto ao paciente, hoje temos muitas possibilidades. O profissional precisa se apropriar e olhar para qual caminho ele quer seguir, seja na saúde direta, na atenção básica, no ensino de educação, na abertura de um curso, tudo isso está acessível”, finaliza.

Criação de um piso salarial

A Câmara dos Deputados aprovou no dia 4 de maio, a criação do piso salarial de enfermeiros, técnicos de enfermagem e parteiras (PL 2564/20). A proposta deve seguir para sanção presidencial, mas ainda depende de acordo sobre fontes de financiamento.

O projeto aprovado define como salário mínimo inicial para os enfermeiros o valor de R$ 4.750, a ser pago nacionalmente pelos serviços de saúde públicos e privados.

Loremari acredita que a criação do piso trará um nivelamento em nível nacional. “Hoje no Brasil, não olhando para a nossa realidade local, tem enfermeiro ganhando salário mínimo. É inadmissível que tenha que se trabalhar dessa forma com o sentido de doação. É histórico que a enfermagem é entendida quase como um trabalho voluntário. É uma profissão feminina, que vem arrastada com a obrigação e entendimento social de que o cuidado faz parte do teu ser, como ser feminino. A PL dará um pouco de reconhecimento, se for sancionada pelo presidente, para que haja um piso. Para ser reconhecido de fato, tem que ter salário digno. Não vai resolver, mas para um nivelamento no país, acredito que para muitos vai agregar bastante”, conclui.